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MG – Comunidade Quilombola do Indaiá

A Comunidade Quilombola do Indaiá sofre com monocultura de eucalipto em seu território tradicional

A Comunidade de remanescentes quilombolas do Indaiá se localiza no município de Antônio Dias, próximo ao distrito de Hematita; no chamado vale do aço de Minas Gerais.

A região está na faixa de transição do cerrado e da mata Atlântica; possuindo espécies vegetais dos dois ecossistemas. Esta vegetação está muito degradada pela ação do desmatamento para a criação de gado e o plantio de eucalipto por fazendeiros no entorno. Existem algumas grutas calcárias no território tradicional dos moradores. Os tipos de solos mais comuns na área são os latossolos e cambissolos, sendo o primeiro, mediante sua profundidade, melhor para uso agrícola, comum nas redondezas. O último quando exposto ocasiona processos erosivos que desencadeiam o assoreamento dos cursos d’água, reduzindo a vazão dos cursos d`águas.
A atividade de garimpo de catas era muito comum na região. Há registro de incidência de esmeraldas e águas marinhas. Atualmente esta atividade não é mais praticada, há diversos túneis abertos nas encostas dos morros, fruto da atividade de garimpo.

Próximo à comunidade (sete quilômetros) fica o povoado do Barro Preto, que se formou com a migração de moradores do Indaiá. As duas comunidades possuem uma grande relação de parentesco.

Segundo a memória das pessoas mais velhas, os primeiro moradores chegaram na segunda metade do século XIX, fazendo picada pelo mato. Eles vieram de um lugar em São Paulo, chamado Mato dos Gatos. Os dois moradores mais antigos se chamavam João Prisco e Leonardo.
Moram atualmente em Indaiá aproximadamente cinqüenta pessoas. São treze famílias distribuídas em dezoito casas de adobe e pau a pique, que recentemente receberam a rede elétrica. O uso da terra é coletivo.
Todas as famílias estão sendo atingidas diretamente com a ocupação de fazendeiros em seus territórios. Os fazendeiros estão desmatando toda a região, destruindo as nascentes que abastecem os moradores para criar gado e plantar eucalipto. Estas atividades estão criando um grande impacto para os moradores, que praticam o extrativismo do palmito no que resta das matas.

O abastecimento de água está comprometido. Toda a água usada na comunidade é oriunda de nascentes, não existe rede de distribuição. O plantio do eucalipto não respeita as nascentes e ainda polui a água com o uso constante de agrotóxico. A atividade de pesca, muito comum entre os moradores, não está sendo praticada pela escassez de peixes; mortos pela poluição dos riachos. Já houve ameaça de fazendeiros de cortar o curso d`água que abastece as famílias.

Não há rede de esgoto no Indaiá, a maioria das moradias possuem fossas rudimentares. Também não existe coleta de lixo. Este é queimado.
A questão da terra é outro problema crasso para os quilombolas, pois o seu território tradicional possui oitenta hectares; sendo que atualmente estão confinados em apenas vinte hectares. Os fazendeiros do entorno não possuem título legal da terra. O sítio do cruzeiro, lugar sagrado para o povo do Indaiá – Local onde enterravam os mortos e onde fazem rituais religiosos – está sendo ameaçado pelo avanço do eucalipto. Um outro local ao norte do cruzeiro, onde eram enterradas as crianças natimortas, também está ameaçado pelos invasores. As invasões de terras começaram em 1983.
A falta de geração de renda é outra constante do Indaiá. As famílias vivem da agricultura familiar, plantando mandioca, cana de açúcar, feijão e banana; do dinheiro de familiares que trabalham nas cidades, da venda de artesanato (chapéu de palha e esteira de palha) e da extração de palmito. Alguns agricultores plantam no sistema de meia com os fazendeiros vizinhos; já que estes estão hoje ocupando a terra tradicional do povo do Indaiá. Aproximadamente oito famílias possuem membros que recebem aposentadoria ou auxílio invalidez pelo INSS; e quase todas recebem a bolsa-família.

Existem alguns projetos a serem desenvolvidos na comunidade, como a construção de uma casa de farinha, uma horta comunitária e a capacitação de pessoas para trabalhar com apicultura. Estes projetos foram oferecidos pela prefeitura de Antônio Dias, pelo deputado federal Ivo José e pela deputada estadual Elisa Costa. Nenhum destes projetos teve início. A pastoral da criança já fez algumas visitas na comunidade para estar checando a saúde destas.

Alguns problemas de saúde são constantes entre os moradores, principalmente entre as crianças e os idosos. Diarréia, gastrite, pressão alta e problemas cardíacos foram apontados pelos moradores como as principais enfermidades do Indaiá. Não existe hospital (o mais próximo fica a quase vinte quilômetros, em Santa Maria do Itabira), posto de saúde (o mais próximo fica a doze quilômetros, no distrito de Hematita) ou agente do programa Saúde e Família atendendo a comunidade. Segundo Jésus Rosário, quando há algum caso grave de saúde, é possível fazer contato na prefeitura que disponibiliza uma ambulância.

Muitas doenças são curadas pela ação das benzedeiras/os e curandeiras/os e com chás de plantas medicinais colhidas no entorno das casas e nas matas da região.

Existe uma igreja católica onde funciona a escola (até a quarta-série). Há dois professor e duas cantineiras, sendo que um professor e as duas cantineiras são do próprio Indaiá. Estão freqüentando as aulas, aproximadamente vinte e cinco alunos/as.

O santo padroeiro da comunidade é o São Benedito. Os festejos acontecem sempre no dia dezessete de abril. Os moradores de Barro Preto participam ativamente da festa, que além das rezas, contém apresentação do Batuque e do grupo de capoeira de Barro Preto. No dia vinte de novembro acontecem os festejos da Consciência Negra. Segundo Maria Rosário, nos dias que antecedem o natal, os moradores fazem a vigília, que além da festa natalina é composta por muita reza.

Os moradores do Indaiá são todos católicos, mas segundo Jésus Rosário, havia até alguns anos atrás, dois terreiros de candomblé. Segundo o morador do Barro Preto, Robésio Silva, antigamente os moradores do Indaiá tocavam o batuque e dançavam o Quatro e a Umbigada.

O acesso para a comunidade é difícil, pois a linha de ônibus regular mais próxima dista nove quilômetros e a estrada está bastante irregular em decorrência do desmatamento dos morros, acarretando a queda de barreiras nas vias.

Os moradores identificaram o plantio de eucalipto, a poluição da água por agrotóxicos usados nas plantações da monocultura, a falta de uma escola, água encanada e a melhoria das casas.

A comunidade dos moradores de Indaiá se reconhece como remanescentes de quilombos, mas ainda não fizeram o pedido oficial à Fundação Cultural Palmares.

Jésus Rosário é professor no Indaiá e faz parte da comissão provisória da Federação Mineira de Quilombolas. Jésus, juntamente com Maria da Cruz, professora na escola de Barro Preto, esteve no INCRA, com alguns parlamentares. O objetivo desta visita foi denunciar a ocupação de fazendeiros na área da comunidade quilombola para o uso desta na silvicultura do eucalipto. Nas discussões as lideranças buscavam solucionar a perda de suas terras, tendo como subsídio o decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003. Este dita que as comunidades remanescentes de quilombos ao se auto definirem enquanto grupo étnico-racial de ancestralidade quilombola e de trajetória histórica vinculada a um espaço territorial tem direito a propriedade atual e também a área que pertenceu a seus antepassados.

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