BA – Evento
Artistas do povo trocaram experiências no evento
Adolescentes, adultos e idosos de diversas comunidades da cidade se reuniram para trocar experiências e aprender um pouco mais com as vitórias e dissabores de cada grupo que batalha por mudanças nos seus bairros. Este entrelace de informações aconteceu ontem, na Reitoria da Ufba, durante o I Encontro de Projetos Culturais em Comunidades de Salvador. Parte do programa Viva Salvador, da Fundação Gregório de Mattos, o evento serviu para que associações e organizações pouco conhecidas pudessem mostrar a sua cara.
Foi através das suas camisas laranjas que as secretarias da Associação de Mulheres do Engenho Velho da Federação (Amevf) se fizeram notar entre os participantes e puderam anunciar a existência do trabalho que já comemora o terceiro aniversário. Congregando mulheres entre 18 e 80 anos, as responsáveis pelas relações sociais públicas da entidade, levaram nas sacolas o resultado do apoio das 120 associadas.
Cada uma delas pode se beneficiar das oficinas de artesanato e cursos infantis organizados pela dupla, mas apenas 20 botam mesmo a mão na massa.
Como não são bobas nem nada, Maria Célia Bastos, 53 anos, e Amália Santos, 64 anos, levaram nas sacolas os produtos feitos pelas companheiras.
As duas dezenas que de fato trabalham, fazem imãs de geladeira, bolsas de tecido e de crochê, faixas para o cabelo e outras miudezas comer-cializáveis. Embora a outra centena se limite a aproveitar as oportunidades oferecidas e pagar a mensalidade de R$2. Diante do valor praticamente irrisório – e nem sempre pago , admite Amália -, elas obviamente enfrentam dificuldades para manter o trabalho e afirmam muitas vezes tirar do próprio bolso.
A lógica da colaboração com quanto puder também é o que mantém o Jornal do Beiru há três anos. Nessa grande comunidade que abrange áreas do bairro de Tancredo Neves e do Arenoso e tem limites pouco claros, a tônica da ação é o resgate das origens afrodes-cendentes. É a partir desse pensamento que 20 jovens produzem, a cada dois meses, o periódico nascido da soma de duas idéias. Uma habitava os sonhos de Fabiana Maia, 21 anos, e Vilma Neres, 20 anos, e tinha começado a tomar forma com a realização de um vídeodocumentário sobre a transformação do antigo quilombo na atual comunidade. A outra partiu da expansão dos trabalhos do Quilombo Cecília, no Pelourinho, para outros lugares.
Mesmo com o desconto de 50% concedido pela gráfica, o custo de cada edição gira em torno dos R$500 e as dificuldades de captar recursos – apesar dos anunciantes que começam a apostar no projeto – limitam a tiragem aos três mil exemplares. A quantidade é uma gota em um oceano dentro da população de quase 90 mil pessoas que as garotas desejam alcançar, porém elas garantem que onde o jornal, feito pela galera capacitada em oficinas pela professora Márcia Guena, consegue chegar, ele surte efeito. Percebemos que as pessoas estão se reconhecendo como negros e buscando reafirmar seus direitos e seu espaço na sociedade , avalia Fabiana.