DF – Poucas respostas
Poucas respostas e muita promessa
BRASÍLIA – Mais um episódio da polêmica entre quilombolas e a base de Alcântara vai acontecer nos próximos dias 11 e 12, quando uma comissão interministerial chega à cidade para apresentar a lideranças locais os planos de desenvolvimento do centro e da região.
Desde o fim do governo Fernando Henrique Cardoso, a ameaça de remoção paira sobre as cabeças de todos, embora nunca tenha se definido oficialmente quando e se ela realmente vai acontecer. De acordo com o Plano Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), documento elaborado pela Agência Espacial Nacional, uma nova leva de expansão do centro deve acontecer até 2007 e essa expansão pressupõe a remoção de povoados.
Mas a agência afirma que não vai tirar ninguém de sua terra antes de conversar.
– Existindo a necessidade aqui e ali de alguma remoção, ela só será feita com conversa, com um acordo, enfim, junto à comunidade. Não posso dizer quando. Em princípio, vai haver. Depende muito das distâncias que nós vamos precisar para alguns lançamentos. Mas, se precisar, será combinada – afirma Sergio Gaudenzi, presidente da AEB.
Em 2001, líderes comunitários se uniram e protocolaram uma denúncia contra o governo brasileiro junto à Organização dos Estados Americanos. O planalto respondeu criando, ano passado, um grupo de trabalho interministerial coordenado pela Casa Civil, incluindo pela primeira vez Secretaria Nacional de Direitos Humanos no debate.
O primeiro filhote do grupo está começando a ser propagandeado agora: a construção, do lado do terreno da base de lançamentos, também em território quilombola, de outro centro, um complexo com campus universitário, escritórios do governo, vila habitacional, hotéis, restaurantes, escolas, centro de tratamento de resíduos sólidos, sistema de água, esgoto, energia, hospital, locais para instalação de usinas de biomassa, biodiesel e, segundo se anuncia, muito mais.
O princípio agora, segundo o secretário nacional de direitos humanos, Nilmário Miranda, é trabalhar com o conceito de projetos, e não reparação econômica – tira-se uma casa, dá-se uma casa, como foi feito nas agrovilas.
– Se houver um novo deslocamento, tem que ser feito em bases totalmente distintas das de antes – afirma.
O projeto já foi apresentado em Brasília ao governador do estado, José Reinaldo Tavares, e esta semana Gaudenzi parte para o Maranhão para um encontro com deputados, vereadores, comunidade científica, empresários locais e lideranças de Alcântara.
Ele crê que tal projeto será aceito de bom grado pelas comunidades.
– Eu não vejo essa hipótese das pessoas dizerem nós não queremos nada aqui, queremos que fique como está, nós não vamos fazer coisa alguma. Acho que dificilmente alguém pensará assim.