SP – Quilombolas consolidam projetos de desenvolvimento sustentável
A comunidade de Ivaporunduva, no Vale do Ribeira (SP), se reuniu na semana passada para definir as ações ligadas ao cultivo e comercialização da banana orgânica, ao turismo e artesanato local e ao repovoamento da terra com mudas e sementes de palmito juçara.
Crianças, jovens, mulheres e homens feitos, idosos. Toda a comunidade do quilombo de Ivaporunduva, localizado às margens do rio Ribeira de Iguape, no extremo sul do estado de São Paulo, se reuniu na semana passada na capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, principal templo religioso do vilarejo. E, desta vez, não foi para rezar. Os representantes das 70 famílias de Ivaporunduva, o mais antigo quilombo do Vale do Ribeira, sentaram durante três dias para discutir os projetos de desenvolvimento sustentável que estão executando em suas terras. Dividiram tarefas e planejaram ações.
A idéia do encontro foi organizar a comunidade em grupos de trabalho para implementar as atividades previstas para 2005. As prioridades dos quilombolas – como são chamados os descendentes de escravos fugidos – são o plantio e comercialização de banana orgânica, o funcionamento de uma fábrica de processamento de banana-passa, a abertura de uma pousada para fomentar o turismo na vila, a produção de peças de artesanato em palha de bananeira e o repovoamento de mudas e sementes de palmito juçara, espécie nativa que corre risco de extinção.
O quilombo de Ivaporunduva quer agregar valor a seus produtos. Por isso aposta na produção da banana orgânica – 33 produtores estão certificados pelo Instituto Biodinâmico (IBD) de Botucatu -, no turismo ambiental e étnico. “Vamos continuar trabalhando com produto orgânico, principalmente pela questão da saúde dos bananeiros que, assim, não têm contato com agrotóxicos”, afirma José Rodrigues da Silva, coordenador da Associação Quilombo de Ivaporunduva, a entidade social que reúne e representa a comunidade.
Ações prioritárias
O grupo que discutiu o plano de ação para a banana orgânica definiu como prioridades a renovação do selo do IBD, a melhoria da infra-estrutura, com a aquisição de um trator e de um teleférico para transportar as caixas da fruta de uma margem do Ribeira à outra. “Também necessitamos que a infra-estrutura pública, como balsas e pontes e a estrada que nos leva às cidades do vale, receba investimento urgente”,
afirma Silva. A fábrica de processamento da banana também é vista como saída para evitar a perda do produto in natura não escoado. A comunidade acredita que a contratação de um técnico e a compra das máquinas de secagem viabilizem o empreendimento.
O tema do turismo também mereceu destaque no planejamento de trabalho para este ano. A comunidade quer equipar a pousada construída pelo governo do estado para atrair escolas e universidades à vila. O projeto incluiu a capacitação de membros do quilombo para receber os turistas e a criação de roteiros ecológicos e étnicos, como o mapeamento das trilhas abertas pelos antigos escravos que ligam os diversos quilombos da região