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SP – Cultura afro estimula turismo

Enquanto a maioria das comunidades remanescentes em áreas de quilombos ainda luta pela titulação das terras, outras, aos poucos, começam a explorar um potencial turístico até então praticamente ignorado pelos próprios moradores.

Em muitos casos, a falta de titulação é mesmo um entrave -segundo a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, o governo federal só titulou até agora duas comunidades das 124 que estabeleceu como prioridade, mas o principal desafio para os remanescentes desses quilombos é resgatar sua história e cultura.

É isso que tem sido feito, por exemplo, no quilombo Campinho da Independência, em Parati (RJ). Desde que a comunidade conseguiu legalizar a titulação de parte de suas terras, em 1999, os moradores passaram a tentar atrair visitantes ao local, interessados no artesanato, na comida e na história do local. Vivem na comunidade aproximadamente 500 pessoas em 11 núcleos familiares.

“Quem vem para cá, em geral, está mais interessado na nossa história que na paisagem”, diz Ronaldo dos Santos, 27, líder comunitário do quilombo.

A proximidade do centro histórico (o quilombo fica no km 589 da rodovia Rio-Santos, a 13 km do trevo de entrada de Parati) ajuda o empreendimento.

Ruth Pinheiro, presidente do CAD (Centro de Apoio ao Desenvolvimento), ONG pioneira na formação de guias para turismo étnico, diz que a orientação a essas comunidades é não deixar que o turismo traga drogas ou exploração sexual.

É por isso que, em Parati, o roteiro turístico do quilombo -onde há guias formados pelo CAD- é marcado com antecedência. Nele, estão incluídos passeio por trilhas, visita a núcleos familiares, almoço com pratos típicos e uma atividade com contadores de história.

No Rio, Parati não é o único quilombo a atrair turistas. Em Valença (a 150 km do Rio), o da fazenda São José já é conhecido entre os admiradores da cultura negra por organizar apresentações de jongo, calangos e capoeira e por servir uma feijoada a quem visita o local.

São Paulo também tem comunidades de olho nesse potencial. É o caso do quilombo de Ivoporanduva, que fica em Eldorado (285 km de São Paulo). No Vale da Ribeira, há várias comunidades remanescentes do período em que a cidade foi um ponto importante na rota do ouro.

Para o subsecretário de Políticas para Comunidades Tradicionais da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Carlos Eduardo Trindade, o turismo pode ser uma fonte de renda viável para mais comunidades quilombolas. “Várias no Norte e Nordeste têm potencial turístico, mas precisam ser capacitadas.”

Martinho da Vila

Martinho da Vila, 66, foi o nome escolhido pelo governo para ser uma espécie de embaixador dos quilombos brasileiros. Como coordenador do projeto Quilombo Axé, ele terá a função de divulgar as manifestações culturais das comunidades.

Na verdade, não só ele. O sambista está convidando outros artistas para a missão. “Será um tipo de adoção. Cada um vai escolher um quilombo e depois divulgar o trabalho”, diz o cantor e compositor.

Lançado em dezembro, em Brasília, o Quilombo Axé prevê que durem dois dias as visitas dos artistas às comunidades.

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