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ES – Luta contra a monocultura de eucalipto

por:Fausto Oliveira

A revolta marcou o Dia Nacional de Mobilização Contra as Monoculturas, que nesta semana foi o grande acontecimento no Espírito Santo. Lá, a empresa Aracruz Celulose tem uma folha corrida de crimes e violações de direitos cometidos contra trabalhadores rurais, índios, quilombolas e famílias camponesas em nome de sua monocultura de eucalipto. Desde o tempo do regime militar, a empresa expulsa donos legítimos de pequenas propriedades através de coação violenta ou com chantagem financeira. Impune e livre para atuar na ilegalidade, a empresa conseguiu criar seu império monocultor: uma extensão de milhares de hectares no norte do Espírito Santo apenas com eucalipto. É uma cultura agressiva ao meio ambiente, pois despeja imensa carga de agrotóxicos no solo e em rios. Para piorar, a Aracruz conta com sua milícia particular, a Visel, empresa de segurança privada que tem se especializado em cometer atrocidades. A FASE-ES participou do dia de luta contra esta indústria da exclusão ao lado das outras entidades da Rede Alerta Contra o Deserto Verde.

Foram duas mobilizações em lugares diferentes do estado. Ao norte, onde se concentram grandes plantações de eucalipto, a concentração de manifestantes chegou a mais de mil pessoas, no município de Montanha. Já no município de Aracruz, onde fica a sede da fabricante de celulose, cerca de 600 manifestantes participaram de um dia de protesto. O dia contra as monoculturas foi na terça-feira, mas um dia antes a população de Vila do Ricaho já havia feito seu protesto com um ato ecumênico e muitos discursos.

Em Vila do Riacho, a Aracruz vem tornando a vida dos pequenos agricultores um inferno. Daniela Mairelles, ténica educacional da FASE-ES esteve lá e contou ao Fase Notícias o que se passa com a população deste município rural. “Eles quase não têm mais terra porque a Aracruz tomou para plantar eucalipto. Também estão perdendo a água, porque o rio da região está poluído pelos agrotóxicos do eucalipto. Eles ficam sem alternativa, a não ser produzir carvão com os galhos de eucalitpo que para a Aracruz são lixo. Mas a Aracruz não permite que eles catem os galhos para produzir carvão, e se nega a negociar a doação do resíduo”, diz Daniela.

Diante desse grau de violência e ilegalidade, a pergunta que vem à mente é: onde está o poder público? A Justiça, o Ministério Público, a polícia, a secretaria estadual de meio ambiente, o secretário nacional de Direitos Humanos Nilmário Miranda? Onde estão as justas compensações para tanto desrespeito e a punição para tanta ilegalidade? “Já houve várias gestões junto ao Ministério Público, secretarias, audiência pública na Assembléia Legislativa do Espírito Santo, mas até hoje não foram tomadas providências. Fizemos denúncias em todas as instâncias possíveis”, afirma a técnica da FASE-ES. Está estabelecido o silêncio cúmplice do poder público capixaba com a indústria da exclusão criada pela Aracruz Celulose no Espírito Santo.

Diante de um quadro assim, resta aos trabalhadores rurais, índios, quilombolas e outros apenas o grito de protesto, mesmo assim de pouca repercussão na mídia capixaba. O Dia de Mobilização Contra as Monoculturas foi carregado de simbolismo no meio rural do Espírito Santo. Arrancaram-se pequenos pés de eucalipto, destruíram-se mudas do vegetal, paralizou-se a estrada em que passam os caminhões da Aracruz. Todos sabem que nada disso vai impedir definitivamente a expansão da monocultura nefasta do eucalipto. Mas serve para criar mais uma chance para que o poder público mexa-se em favor de uma leva de injustiçados que já não suporta mais perder terras, recursos hídricos, a possibilidade de sobrevivência no meio rural e a vida com dignidade. Tudo para que os donos da Aracruz Celulose continuem seu aviltante acúmulo de dinheiro, numa proporção descabida diante da miséria brasileira.

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