A repressão do Estado contra as mulheres

Ester Lisboa

No dia 11 de março, o Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) – rede de serviços sociais coordenados pelos Frades Franciscanos da Província da Imaculada Conceição do Brasil – promoveu o debate com o tema “A repressão do Estado contra as mulheres”, por ocasião do Dia Internacional da Mulher (comemorado no dia 8 de março). Como falar de um tema tão complexo para um público extremamente variado?

O Sefras tem como princípio a garantia de direitos e o respeito à diversidade para qualquer ação. Seu público o reconhece como um espaço legítimo de reflexão e aprendizado. As atividades ocorrem sempre em um clima de muita descontração: homens, mulheres, jovens, idosos, homossexuais, travestis, todas e todos juntos discutem, refletem e participam.

Escolhido coletivamente pelas próprias mulheres participantes da rede, o debate teve o intuito de refletir as formas de como o Estado desvaloriza e oprime a mulher. Este evento contou com a participação de 90 pessoas, entre elas, trabalhadoras, voluntárias e participantes do Serviço Franciscano de São Paulo e também homens que almejam construir e mudar este cenário de opressão de gênero.

Duas mulheres foram convidadas a compor a mesa que ditou o debate: Sabrina Amaral, educadora social do grupo Treze de Maio, e Luca Franca, do Comitê pela Desmilitarização da Política e da Polícia. Para Sabrina, a celebração do Dia Internacional da Mulher se faz necessário “enquanto as mulheres continuarem ganhando menos, enquanto elas forem violentadas em números absurdos, enquanto continuarem sofrendo mutilação, sendo objeto mercantil do desejo dos outros e não tiverem as mesmas condições que qualquer outra pessoa tem na sociedade”.

Já a militante Luca destacou que as formas de repressão do Estado se revelam quando, por exemplo, as mulheres buscam equipamentos de segurança pública, principalmente, em casos de violência. “Ela é culpada da violência que sofreu e não pelo fato da sociedade se organizar de uma forma machista. O Estado coloca você como culpada e não o contrário”, ressaltou Luca.

Durante todo o debate, as participantes se manifestaram e trouxeram suas próprias histórias de violência, inclusive a experiência do convívio com as demais mulheres atendidas pelo Sefras, o que tem contribuído para superações.

Outro problema apontado no evento foi o despreparo de profissionais, tanto da área da segurança pública, como da educação, assistência e saúde ao tratar do tema violência de gênero. Considerando que as mais variadas formas de repressão de gênero ainda acontecem mesmo em um Estado democrático como o Brasil, o que se concluiu foi que é essencial a formação de profissionais de organizações sociais para que, além de entender como funciona a rede protetiva da mulher vítima de violência composta por órgãos governamentais, possam assimilar melhor as diferentes manifestações da violência praticada contra mulheres, crianças, adolescentes e idosos. Além disso, existe a necessidade da organização popular e a produção de informação e formação para combater esta postura que não gera dignidade para as mulheres. 

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