Entrevista – SD em 2006

Helena Costa

Ester Almeida, coordenadora do programa Saúde e Direitos, reflete sobre percalços e conquistas do último ano, e renova  compromissos e esperanças  para 2007.

 

Que avaliação você faz do seu campo de atuação em 2006?

Ester Almeida : O ano de 2006 foi um ano atípico, tivemos muitos percalços, de diferentes tipos, que nos forçaram a ter menos atividades diretas com o público. Em compensação outras ações foram fortalecidas, como por exemplo, nossa participação na Conferência Lusófona em Maputo, Moçambique, que resultou na formação de um Comitê de mulheres lusófonas para pensar ações preventivas em HIV/Aids. Na Conferência Internacional de Aids em Toronto, KOINONIA foi a única organização ecumênica a apresentar um trabalho efetivo direto com as igrejas. A publicação da revista “Aids e Igrejas: um convite à ação” pelo Ministério da Saúde (35.000 exemplares) e, principalmente, a repercussão que este material tem alcançado quando chega em lugares que jamais tínhamos imaginado – como presídios, comunidades ribeirinhas, sertões brasileiros, igrejas neopentecostais… tudo isso tem nos mostrado o quanto vale um sonho, o quanto vale acreditar em mudanças e transformações. Quando olhamos no relatório [da Avaliação Trienal]  as falas do público atendido percebemos que mesmo conseguimos contribuir na vida de muitas pessoas.

 

Nesse contexto, o que você destaca como ponto alto do programa em 2006?

Ester: Essa pergunta é difícil… porque sou uma apaixonada pelo que faço, e assim tudo é ponto alto. Mas, atendendo a sua solicitação destaco, três coisas:

1º) Testemunhar a formação dos multiplicadores em saúde e direitos do Vale do Paraíba. Este grupo de oito pessoas tem se mostrado capaz, comprometido e ousado. Eles aceitaram o desafio de atuar com outros grupos e mostraram o quanto são competentes. Organizaram seminários, colóquios, encontros de jovens, formação de lideranças de candomblé… nada os impede de atuarem como multiplicadores de vida, saúde e esperança (choro quando falo deles e delas);

2º) A alegria e entusiasmo presentes no olhar de cada formando na reunião de Terreiros de Candomblé em Salvador, em novembro passado. Eles mal saíram de um processo de formação de multiplicadores e já se apresentavam como tal, se reconheceram e assumiram o papel. Quando um rapaz se apresentou na reunião com as lideranças dos terreiros como: Sou fulano, multiplicador do programa Saúde e Direitos de KOINONIA, não resisti… Na fala de outro participante percebemos a importância de nosso trabalho, quando ele disse “… Até hoje os terreiros foram sugados pelos pesquisadores, estudiosos, que vieram e exploraram a nossa cultura, sempre fomos usados. Hoje KOINONIA vem e nos traz algo novo, nos reconhece como protagonistas na comunidade, nos valoriza e nos proporciona a possibilidade de sermos referência em nossa comunidade”.

3º) Foi a tão esperada (por 19 anos!) Vigília no dia 1º de Dezembro, realizada na paróquia Santíssima Trindade da Igreja Episcopal Anglicana, em que lideranças de diferentes tradições religiosas compareceram, assim como lideranças de diferentes movimentos e organizações. Foi a primeira vez que organizações governamentais, não-governamentais e igrejas se reuniram em um templo para celebrar a vida e assumir um compromisso com as pessoas que vivem e convivem com HIV/AIDS.

 

Como eu disse, poderia escrever páginas e mais páginas de momentos que enriqueceram a minha vida profissional e pessoal… Mas… o espaço não me permite.

 

E para 2007, que metas o Programa espera atingir?

Ester: Para 2007 temos o propósito de fortalecer a Rede de Multiplicadores em Salvador, no Submédio São Francisco e São Paulo; investir ainda mais nas igrejas, propiciando cursos de formação e despertando as igrejas para um trabalho diaconal e de compromisso com as pessoas que vivem e convivem com HIV/AIDS. Buscar políticas públicas que garantam a visita de qualquer liderança religiosa dentro dos hospitais, ampliar nossas relações junto aos órgãos governamentais; enfim, promover vida, de forma grandiosa e cheia de esperança. E ainda, estar dia após dia mais perto das pessoas que têm transformado a minha vida e têm me feito uma pessoa melhor… meus irmãos KOINÔNICOS.

 

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