Planejamento Estratégico

Ao longo do ano de 2021 a equipe de KOINONIA teve como uma das suas prioridades institucionais a preparação das bases para a construção do Plano Estratégico 2022-2027. A metodologia para a sua construção contou com reuniões de equipe nas quais foram levantados os principais desafios e potencialidades de nossa prática cotidiana, sessões de debate de conjuntura para avaliar o cenário político e social no qual nos encontramos, debates de koijuntura – nos quais debatemos a conjuntura específica das populações e eixos temáticos de nossa atuação -, a contratação de uma avaliação institucional externa e a contratação de uma consultoria antirracista para a organização. Com base nesses acúmulos coletivos, a equipe de KOINONIA apresenta a seguinte sistematização para que o conjunto da diretoria e dos associados possam debater, contribuir e com o caminho que nossa organização trilhará nos próximos cinco anos.

Este documento está organizado da seguinte forma: as primeiras três sessões compreendem os três eixos temáticos propostos para os próximos 6 anos – a princípio é importante destacar de que não há eixo estanque e nem só os transversais se realizam em tudo que fazemos. Cada eixo contém um pequeno debate de contexto, da ação específica de KOINONIA e pontos de discussão e ação propostos. Em seguida apresentamos os eixos transversais e na sequência apresentamos alguns pontos para debate institucional, envolvendo temas que emergiram da avaliação realizada. Por fim, uma cadeia de efeitos do plano de KOINONIA.

EIXO 1: Mobilizações ecumênicas e da sociedade civil

KOINONIA é uma organização ecumênica[1] com vocação e trabalho consolidado junto aos movimentos sociais. A retomada deste tema enquanto eixo de trabalho se dá por uma avaliação de que nossa atuação, tanto junto ao movimento ecumênico, quanto junto à outras articulações da sociedade civil, vem crescendo e demandando de nossa organização mais coordenação. O crescimento do fundamentalismo nos empurra para uma presença pública mais firme e de resistência, tanto pela sua dimensão religiosa, quanto pela redução do espaço da sociedade civil organizada que este gera.

No movimento ecumênico, seguimos vivendo tempos de desafios, com o enfraquecimento desta identidade junto aos grupos religiosos cristãos, e consequente enfraquecimento das instituições ecumênicas em níveis nacional e internacional. Neste contexto, KOINONIA tem atuado na construção ativa de fóruns ecumênicos, como o Feact Brasil, e de novas iniciativas que visam fortalecer o movimento ecumênico nacional e internacional. Ao mesmo tempo, temos cada vez mais sido demandados no debate público sobre o papel das religiões no contexto sociopolítico-ambiental brasileiro. Vemos nisto também uma oportunidade para fortalecer as vozes progressistas do campo religioso, semear os valores progressistas do ecumenismo e contribuir em iniciativas mais amplas, junto a movimentos sociais e articulações políticas.

Levantamos alguns pontos importantes a serem trabalhados neste eixo:

  1. Propor e desenvolver estratégias de cuidado e autocuidado baseadas nas experiências ecumênicas e religiosas, em especial das tradições de matrizes africanas e indígenas.
  2. Posicionar o ecumenismo como parte de um projeto político em defesa da vida.
  3. Discutir as estratégias do cenário religioso brasileiro e latino-americano.
  4. Estabelecer conexões com novos movimentos e grupos, e fortalecer as relações com os movimentos sociais históricos do nosso país – entendendo-os como lugares de produção de saberes e de democracia.
  5. Colocar em prática ações de solidariedade humanitária, como parte da disputa de valores profundamente ecumênicos.
  6. Debater e refletir sobre os temas da fome, da morte e do sofrimento, aprofundando uma linguagem de transformação e esperança.
  7. Garantir na nossa agenda de atuação nacional, regional e internacional, o fortalecimento e a construção dos espaços de juventude no ecumenismo.

EIXO 2: Direitos das Comunidades Negras Tradicionais e a superação do racismo

As atividades de KOINONIA junto às Comunidades Negras Tradicionais (CNTs) são desenvolvidas prioritariamente junto às comunidades remanescentes quilombolas e terreiros de religiões de matriz africana. Nos últimos anos, no contexto de crescimento dos fundamentalismos no país, houve cortes significativos nas políticas públicas direcionadas a essas comunidades, assim como um acirramento da intolerância  religiosa, retrocedendo na disputa política pública. Identificamos a necessidade de tratarmos esses temas em conjunto, na dimensão do racismo religioso, conceito que abarca tanto a dimensão racial como religiosa, da negação do direito a essas comunidades.

Atualmente, nossa atuação se dá em diferentes abordagens, como o fortalecimento das ações em rede e incidência, em especial de mulheres negras e de juventudes; capacitações de diversas lideranças comunitárias e comunidades; assessoria jurídico-administrativa de associações e organizações religiosas; produção de conhecimento e informações sobre as temáticas. Para o próximo período, KOINONIA se desafia em ser, além de uma organização que trabalha o tema, uma organização antirracista.

Levantamos alguns pontos importantes a serem trabalhados neste eixo:

  1. Antirracismo na organização (dimensões internas e externas).
  2. Aumento da participação de pessoas negras nos espaços de tomada de decisão da instituição e do movimento ecumênico.
  3. Incorporação da perspectiva étnico/racial e da diversidade na agenda das políticas públicas para as mulheres, em especial as negras e para a comunidade LGBTQIA+.

EIXO 3: Direitos de gênero, sexuais e reprodutivos

Com o avanço do fundamentalismo no Brasil, os direitos relacionados às mulheres e à comunidade LGBTQIA+ sofreram retrocessos. Juntos, foram o principal núcleo de disputa pública da pauta fundamentalista, desde a chamada “ideologia de gênero” até as fake news veiculadas em cadeia nacional sobre o “kit gay”. As organizações e movimentos feministas e os movimentos LGBTQIA+ têm sido atores políticos importantes no combate aos fundamentalismos, mas há também o desafio de expandir a compreensão dos direitos de gênero, sexuais e reprodutivos também para outros movimentos sociais não diretamente identificados com essas pautas. Como organização ecumênica, temos por vocação e missão a discussão dessas pautas dentro das comunidades religiosas, atravessadas cada vez mais por visões fundamentalistas e conservadoras.
A atuação de KOINONIA tem focado em ações de combate à violência contra a mulher; formação de mulheres religiosas nos mecanismos de proteção e criação de espaços de escuta; material informativo e preparação de metodologias para o enfrentamento às violências baseadas em gênero; participação em iniciativas de incidência pública nacionais e internacionais. Na pauta LGBTQIA+, formação de jovens e adolescentes sobre prevenção e direitos de gênero e diversidade; incidência pública junto às pessoas que vivem com HIV; sensibilização de igrejas e comunidades religiosas sobre as questões de saúde e sexualidade; fortalecimento das ações religiosas de inclusão, luta pela inclusão da pauta LGBTQIA+ na agenda de ação do movimento ecumênico nacional, regional e internacional.

Levantamos alguns pontos importantes a serem trabalhados neste eixo:

  1. A intersecção entre a pauta antirracista tanto nos movimentos de mulheres quanto junto à comunidade LGBTQIA+, como um eixo estruturante das desigualdades.
  2. Aumento da participação de mulheres, em especial as negras, e LGBTQIA+ nos espaços de tomada de decisão da instituição e do movimento ecumênico.
  3. Maior aproximação com os movimentos de mulheres e LGBTQIA+ para espaços de debate e formulação conjunta sobre o tema do fundamentalismo e respostas coordenadas ao conservadorismo religioso.
  4. Debater o tema da sexualidade no campo da religiosidade, visando a um advocacy religioso sobre as temáticas gênero, religiosidade e raça.
  5. Diferenciar entre criminalização da LGBTfobia e os dogmas e princípios de cada tradição religiosa. E também sobre o direito de frequentar os espaços religiosos.
  6. Fortalecer ações de combate à violência sexual e de gênero.
  7. Debater sobre moralidade, amor, afeto e família, indicando respostas progressistas aos temas mobilizados para atacar os direitos de gênero, sexuais e reprodutivos.

EIXOS TRANSVERSAIS

Os diálogos internos acima relatados indicaram uma atualização dos temas transversais, que são tratados por KOINONIA como aqueles que incidem sobre todas as práticas institucionais e os seus objetivos. São em si um critério de monitoramento metodológico permanente.

As temáticas transversais para os anos de 2022 a 2027 são as seguintes, formuladas como promoções imperativas da ação: Antirracismo, Ecumenismo Antifundamentalista e Justiça de Gênero. O primeiro é um processo em construção a ponto de termos plenamente inserido, inclusive com uma política antirracista nos próximos três anos. O segundo e terceiro são temas/critérios já incorporados a nossas práticas e objetivos, que buscaremos atualizar a cada conjuntura.

 

DEBATES INSTITUCIONAIS

Além da discussão temática, a avaliação externa realizada, ao lado de debates feitos pela equipe ao longo da construção do Planejamento Estratégico, indica algumas áreas importantes de debates institucionais:

  • Membresia e Diretoria de KOINONIA: composição e representatividade – expandir a participação elativa em termos etários, raciais e de gênero.
  • Comunicação:
    • Fortalecer a presença da organização nas redes sociais, com espaço de informações confiáveis, respeitadas e de referência nas temáticas que trabalhamos.
    • Fomentar o uso, a formação e socialização das ferramentas digitais em nossos projetos, utilizando o espaço da internet para experiências de comunicação comunitária e ciberativismo.
  • Gestão do Conhecimento (externo): reorganizar os mecanismos de sistematização e publicação dos conteúdos produzidos em KOINONIA (retorno da Tempo e Presença, publicações, textos).
  • Gestão do Conhecimento (interno): criação e organização de um repositório; cultura organizacional de compartilhamento e salvamento de dados de forma padronizada (físico e digital).
  • Elaboração de Plano de mobilização de Recursos: organizar os atrativos de KOINONIA, potencializar a atração de novas fontes de recursos, novas estratégias para a mobilização de recursos. Enfrentando desta forma a escassez de recursos que abarca a instituição e tem impacto na política de pessoal.
  • Administrativo: buscar possibilidades – em novas tecnologias e novos processos – que simplificam e facilitam os trâmites administrativos da organização.
  • Avaliações periódicas da equipe: escuta de demandas e aprimoramento de processos internos. Acompanhamento pessoal dos trabalhadores de KOINONIA em um contexto de quadro de pessoal reduzido, de forma a potencializar habilidades, distribuir responsabilidades e criar o espaço para discussão de problemas.
  • Articulações em Rede e Advocacy: compreender que a potencialidade da atuação de KOINONIA se encontra no trabalho em rede, redefinir as parcerias e as alianças estratégicas.

[1] Ecumenismo: KOINONIA reconhece o caráter provisório e incompleto das construções humanas, e assume o ecumenismo como um valor que afirma e acolhe a diversidade sociocultural numa tríplice dimensão: o empenho pela aproximação e colaboração entre os cristãos; a aliança solidária com os que promovem a justiça, a paz e a defesa dos bens comuns; e o inadiável e necessário diálogo igualitário entre as diferentes tradições religiosas.