O Seminário Regional Ecumênico Pan-Amazônico, realizado por KOINONIA na última quarta-feira (15), congregou diversas organizações que trabalham diretamente com povos da região amazônica, composta por oito países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Venezuela.
Com o objetivo de compartilhar experiências, metodologias e estratégias para ações conjuntas que promovam os direitos das populações locais e a preservação ambiental, o evento abordou temas como a biodiversidade, o clima e os impactos dos extrativismos, agropecuária e desmatamentos; os direitos dos povos amazônicos e das mulheres em um contexto de pobreza e desigualdades, e o combate aos fundamentalismos, um dos focos principais do movimento ecumênico e inter-religioso.
“Nossos maiores desafios hoje na Amazônia são o aumento dos fundamentalismos cristãos; o encontro dos fundamentalismos religioso e político; o fortalecimento da bancada BBB [Bala, Boi e Bíblia]; ampliação da inserção do mercado nos territórios tradicionais; associação das missões fundamentalistas com o mercado e o governo de extrema-direita, que busca de modo explícito prospectar territórios para as mineradoras, indústrias de fármacos, agronegócio etc”, explicou a assessora e representante da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese) no evento, Bianca Daébs, em sua apresentação sobre ações da organização com as populações locais.
A jornalista e doutora em Ciências da Comunicação, Magali Cunha, compartilhou um levantamento sobre a atuação de igrejas, organizações e redes ecumênicas/inter-religiosas na Amazônia. Segundo o estudo – realizado pelo Centro Regional Ecumênico de Assessoria e Serviço (Creas – América Latina) e KOINONIA, com o apoio da Christian Aid -, há uma presença reduzida de igrejas e organizações baseadas na fé atuando por direitos na Amazônia; um pequeno número de igrejas com atuação ecumênica ou ação social específica em relação à floresta, como pauta ecológica; há ainda ações isoladas de cunho assistencialistas, e a presença ecumênica é mais identificada nas grande cidades do que no interior. Magali destacou o negacionismo associado aos fundamentalismos, agravado pela pandemia de Covid-19, como fator que dificulta a atuação em prol de direitos na região.
Trazendo uma dimensão dos territórios amazônicos para além do Brasil, o diretor da Paz y Esperanza Perú, Jorge Arboccó, falou sobre a precária circulação de informações entre a população local, e o fato das espiritualidades amazônicas estarem alheias às práticas religiosas institucionais. Além do avanço dos fundamentalismos e da redução dos espaços de diálogo bíblicos-teológicos no entorno da Amazônia, ele lembrou de problemas antigos, como a perseguição e o assassinato de defensoras e defensores ambientais e de direitos humanos. Como propostas, Arboccó sugeriu ações educativas e de comunicação sobre o futuro da região voltada aos povos amazônicos, uma oração ecumênica pela Amazônia e um mapeamento contínuo e participativo dos usos e direitos dos povos e suas práticas espirituais.
Antes de passar à etapa da divisão de grupos para debater soluções integradas em relação aos temas destacados, a consultora Mara Luz apresentou o marco para um futuro impacto ecumênico na Pan-Amazônia, elaborado em conjunto com Sarah de Roure para KOINONIA. De acordo com o estudo, esse impacto deve visar, sobretudo, à ação solidária de garantia de direitos e de proteção dos territórios frente ao desenvolvimento predatório; mudanças profundas, duradouras e inclusivas, considerando todas as cosmovisões das comunidades guardiãs da floresta e entornos, e intervenções que se alinham com os objetivos e anseios das populações locais.
Mara apresentou sugestões de boas práticas, que têm como pilares uma comunicação efetiva, o compartilhamento de valores comuns e de aprendizado, compromisso de longo prazo, transparência e atuação contextual, ou seja, conhecer profundamente a situação local para estabelecer um diálogo e escuta ativa das comunidades/pessoas.
Mais detalhes estão disponíveis na publicação “Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso pela Dignidade Humana na Amazônia”. Há versões em português, inglês e espanhol.
Entrecortado por momentos musicais e de oração em português e espanhol, idiomas dos participantes, o seminário buscou trazer os desafios comuns da região, que ultrapassam fronteiras e línguas, mas respeitando especificidades e, principalmente, debatendo soluções.
Entre as organizações e iniciativas participantes estavam, além da Cese, Creas e Paz y Esperanza, a ALC Notícias, MAB Brasil, Instituto Universidade Popular, Instituto Madeira Vivo, Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, ACT Alliance, Red Iglesias y Minería, Iseat Bolívia, Christian Aid, Pan para el Mundo, Fundación Luterana Mundial Colombia, Fórum Social Pan-Amazônico, Memoria Indígena, Comissão Pastoral da Terra, Intercom, Iser, Aipral, Iniciativa Inter-religiosa Pelas Florestas Tropicais – Brasil, Diocese Anglicana da Amazônia, Casa Galiléia, Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs, Campaña Renovemos Nuestro Mundo e Religiones por la Paz América Latina y el Caribe.