O gol de Oxóssi para Exu Aplaudir!

Pedro Rebelo

Professor de História, pós graduado em Ciência da Religião

Colaborador de Koinonia

Em nenhuma edição dos Jogos Olímpicos modernos, o evento se limitou a ser um mero torneio esportivo. Sua concepção já é um exemplo político de cooperação e solidariedade entre os povos e também uma oportunidade de expressar mensagens que o mundo necessita.

Nas Olimpíadas de Berlim em 1936, em plena Alemanha Nazista, Jesse Owens, atleta negro norte-americano ganhou quatro medalhas de ouro: nos 100 e nos 200 metros rasos, no revezamento 4 x 100 m e no salto em distância, derrubando o ideal nazista de supremacia ariana de Adolf Hitler.

Em 1968, os Jogos olímpicos da Cidade do México entraram para a História com Tommie Smith e John Carlos, medalhistas de ouro e bronze respectivamente, nos 200 metros rasos, que fizeram a saudação dos Panteras Negras, para denunciar a segregação racial nos EUA, meses após o assassinato de Martin Luther King.

Em 2000, as duas Coreias desfilaram sob uma mesma bandeira, nas Olimpíadas de Sydney, passando ao mundo uma mensagem de Paz. Não foram poucos os exemplos de solidariedade e mensagens de relevância política entre delegações e atletas durante as edições dos jogos.

Nas Olimpíadas de Tóquio 2020, realizadas em 2021 por conta da pandemia, os sentimentos estão divididos, as incertezas e medos aflorados em função das muitas mortes em todo o mundo, mas em meio a tudo isso, assim como Oxóssi com sua flecha única matou o grande pássaro amedrontador que assombrava o reino de Ifé, um legítimo filho seu, acertou o medo do mundo com sua flecha , transmitindo uma mensagem importante sobre a diversidade e a liberdade religiosa.

Há poucos dias, Paulinho, atacante da Seleção Brasileira de Futebol, publicou uma carta onde fala de sua espiritualidade e envolvimento com a Umbanda e o Candomblé, expressando-se como filho de Oxóssi e um grande devoto de Exu, quebrando o esteriótipo de jogadores evangélicos e quase sempre despolitizados. Aliás, o futebol brasileiro passa por este processo de fundamentalismo religioso, ostentação e despolitização há tempos.

No jogo contra a Alemanha, Paulinho, que é cria do Vasco, balançou as redes, aos 48 minutos do segundo tempo, evitando um empate da equipe alemã. Gustavo Villani, narrador do SporTV, logo exclamou: Para Exu aplaudir! Em seguida, Paulinho fez o gesto de atirar uma flecha, homenageando seu Pai Oxóssi.

Para nós que estamos acostumados a ver faixas “100 % Jesus”, pedidos de música gospel e diversas alusões à fé evangélica, nas comemorações dos gols feitos por atletas brasileiros, o gesto de Paulinho saudado os Orixás diz muito sobre o mundo que vivemos. A flecha de Paulinho aponta para um Brasil ainda intolerante, que persegue e mata pessoas por conta de sua fé. Pessoas, na maioria esmagadora dos casos, pertencentes às religiões de Matriz Africana. Mas aponta também para dias melhores. Exu tratou de abrir as comunicações e jornais do mundo todo repercutem o gesto de Paulinho e a importância dele.

Que Exu leve sua mensagem aos quatro cantos do mundo, Paulinho e que Pai Oxóssi, com sua flecha certeira lhe consagre um verdadeiro vencedor, dentro e fora dos gramados!


Laroyê!

Okê Arô! Arô le ô!

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