Celebrando duas décadas da Marcha das Margaridas, mulheres do Baixo Sul da Bahia e religiosas do FEACT relembram a experiência vivida em 2019

Por Camila Chagas e Natália Blanco/ Koinonia  
Na última edição do evento, realizada em Brasília, mais de 100 mil mulheres de todos os locais do país se juntaram para marchar em busca de soberania popular, democracia, justiça, igualdade e pelo fim violência.
A última quarta feira, 12 de agosto, foi marcada pela celebração dos 20 anos da Marcha das Margaridas, ato de resistência que ocorre a cada quatro anos e é uma em homenagem à Margarida Maria Alves, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, assassinada em frente à sua casa, no dia 12 de agosto de 1983. Devido aos protocolos de combate à pandemia de coronavírus a comemoração da data não pode ser realizada presencialmente, sendo feita por meio de um encontro online, que contou com uma transmissão ao vivo no canal da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Em 2019 a marcha foi realizada no dia 14 de agosto, em Brasília, reunindo mais de 100 mil mulheres de todos os cantos do Brasil, do campo e da cidade, da terra e das águas em busca de justiça, igualdade de direitos e pelo fim da violência, levando para as ruas da capital do País o tema “Margaridas na Luta Por Um Brasil Com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência”. O evento contou com a presença de diversas representantes das comunidades do Baixo Sul da Bahia e de Koinonia, que esteve presente em dois blocos. Para Eridan Strubi, da Comunidade da Aldeia de São Fidelis, localizada em Valença, município do Estado da Bahia, que esteve no ato em 2019, a experiência na participação lhe fez sentir uma energia tão boa que mesmo com um grupo tão diversificado de mulheres não houve nenhum problema que pudesse atrapalhar o evento. Outra participante que se encantou com a energia do ato foi Aurea, também da comunidade de Aldeia de São Fidelis, que além de participar do evento fez a sua primeira viagem para “um lugar distante”. “Eu amei! Conheci pessoas novas, gente de um monte de lugares diferentes, muita coisa boa. As palestras das companheiras foi uma coisa muito boa”, explica. Para Antônia, também de Valença, participar do evento “foi um sonho que estava se realizando”. “Eu me senti muito feliz com os conhecimentos, com as minhas novas amigas, foram dias maravilhosos, com a presença de todos. A carreta em benefício de todas as guerreiras, as guerreiras que estou falando, somos nós mulheres que participamos do nosso Brasil”, conta ela. Outra representante da região do Baixo Sul, que esteve presente na marcha de 2019, foi Luciene, presidente de Tancredo Neves. Para ela, a energia provocada pelo encontro e resistência das mulheres não é possível ser colocada em palavras, pois o “vivido e sentido não dará pra colocar em papel ou algo do tipo”. “O mais importante a ressaltar é a energia das mulheres, a vontade de lutar por algo maior, algo que vai muito além do ontem ou do agora. Fiquei honrada em conhecer margaridas que saíram do cômodo dos seus jardins para marcharem rumo a uma floresta vasta e completa, não se preocupando com obstáculos e pedras sobre o caminho”, finaliza. “Terrivelmente evangélicas e feministas” Durante a Marcha das Margaridas de 2019 um grupo de mulheres religiosas membras do Fórum Ecumênico ACT Brasil (FEACT) marcharam ao lado das milhares de companheiras em defesa dos corpos-territórios. As mulheres da equipe de Koinonia também estavam presentes. O grupo de mulheres, carregando placas e vestindo camisetas que diziam “Terrivelmente evangélicas e feministas”, chamava a atenção por onde passavam. Até mesmo da Deputada Federal Benedita da Silva (PT), que se juntou a elas no meio do caminho. O termo “Terrivelmente Evangélicas e Feministas” foi uma forma de resistir à fala da Ministra da pasta “Mulher, Família e Direitos Humanos”, Damares Alves, que em janeiro daquele ano proferiu a frase: “O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”. “Também marchamos por nós mesmas, porque somos impactadas por todos esses reveses que estão acontecendo no país. Como mulheres de fé, evangélicas ou de outras religiões, e feministas, queremos denunciar este governo que promove a morte, e anunciar que não daremos um passo atrás em defesa de nossas conquistas e lutas por nossos direitos”, disse a pastora e diretora executiva da Coordenadora Ecumênica de Serviço (CESE), Sônia Mota.