Daniela Yabeta
Professora do Departamento de História (UNIR-PVH)
Editora do Observatório Quilombola
Entramos em junho e eu vou completar 3 meses de isolamento social e sem nenhuma previsão de quando voltarei as minhas atividades presenciais em sala de aula na Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Aqui em Porto Velho já temos quase 4 mil casos confirmados da COVID19 e o número de óbitos ocasionados pela doença já ultrapassa 120 pessoas. Seguindo a realidade do restante do Brasil, por aqui, a curva de contaminação aumenta cada vez mais, assim como o número de pessoas circulando pelas ruas. É desesperador. Por outro lado, é importante destacar que a universidade não parou, mesmo com os professores em casa. Eu, por exemplo, continuo tocando minhas pesquisas, acompanhado orientações, gravando os hangouts da série “Amazônia em Quarentena” e participando de bancas de mestrado. Aliás, é sobre essa última atividade que eu quero falar. No dia 28 de maio – ao lado das professoras Patrícia Melo (UFAM) e Keith Barbosa (UFAM), participei da banca de dissertação de Laura Stella Passador de Luiz Blanco intitulada “Crimes praticados por escravos na Manaus oitocentista” do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (PPGH-UFAM). No dia seguinte, em 29 de maio, ao lado dos professores Álvaro Nascimento (UFRRJ), Carlos Eduardo Coutinho Costa (UFRRJ) e Lívia Monteiro (UNIFAL), participei da banca de dissertação de Karollen Lima da Silva intitulada “Patrimônio cultural, festa e construção identitária: uma análise do processo de certificação da comunidade do Barranco de São Benedito (2010-2016) do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGH-UFRRJ). A pesquisa de Laura Blanco, orientada por Patrícia Melo (UFAM), trata sobre os crimes envolvendo sujeitos escravizados e a atuação da Justiça em Manaus no período de 1846 até 1884, quando em 10 de julho, a província do Amazonas aboliu a escravidão. Já a pesquisa de Karollen Silva, orientada por Álvaro Nascimento (UFRRJ), trata sobre como a festa de São Benedito foi fundamental para a emergência da identidade quilombola na comunidade do Barranco, localizada no centro de Manaus e certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2014. Ou seja, durante o mês de maio tive a oportunidade de aprender muito sobre a História da Escravidão e do Pós-Abolição em Manaus. Ler sobre a História da capital do estado do Amazonas foi muito importante para mim, principalmente nesse contexto da pandemia do coronavírus. Enquanto escrevo esse texto para a Coluna OQ, acompanho no telejornal que pesquisa produzida pela UFAM constata que a média de mortalidade no estado é quatro vezes maior do que a nacional. Hoje o Amazonas contabiliza mais de 46 mil casos diagnosticados da COVID 19 e o número de óbitos já ultrapassa 2 mil. Com relação a Manaus, de acordo pesquisa realizada pela Fiocruz, trata-se da capital mais atingida pela COVID19 no Brasil. Tal situação teria sido impulsionada por conta de “um sistema de saúde fraco e um grau elevado de desigualdade social”. Imagens dos cemitérios públicos superlotados, enterros coletivos e corpos em valas comuns circularam pelo Brasil e pelo mundo. De acordo com matéria de Guilherme Eler, publicada no site da Revista Super Interessante, pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), as regiões norte e nordeste são as mais vulneráveis à pandemia e “ser negro é um fatores de peso para definir as chances de alguém morrer por COVID19 no Brasil”. Sem ter muito o que falar e com um tremendo nó na garganta, eu finalizo com a seguinte pergunta: quem são essas vítimas da COVID19 em Manaus? Não são apenas números, CPFs, muito menos CNPJs, elas têm nome, sobrenome, família, amigos…e tem cor.