Páscoa em tempos de coronavírus e os grupos vulnerabilizados
Por Camila Chagas*
No dia 12 de abril de 2020 foi celebrada a Páscoa. Esta festa é a mais importante do calendário cristão, pois recorda a vitória de Jesus sobre a morte, através da ressurreição, no terceiro dia após sua crucificação no calvário.
O tempo da Quaresma, período que antecede a Páscoa, se desenvolveu de forma diferente em razão do novo coronavírus. Este, declarado pela Organização Mundial de Saúde – OMS como pandemia mundial, vem causando dor, desespero e milhares de mortes no planeta.
Como alternativa para diminuição do número de casos, a OMS recomendou medidas de isolamento social, fato que deixou as pessoas em confinamento em suas casas.
Infelizmente a realidade brasileira é marcada pela profunda desigualdade social em que poucas pessoas detêm a maioria das riquezas enquanto muitos sobrevivem com poucos recursos.
Indicadores sociais de diferença, como raça, gênero e classe revelam que as mulheres negras em situação de vulnerabilidade social serão as mais atingidas pela pandemia.
Elas estão na base da pirâmide sustentando a economia: são mães que criam os filhos sem apoio paterno, trabalhadoras domésticas, trabalhadoras rurais, trabalhadoras informais, etc.
Para muitas delas o isolamento social não é uma realidade possível, não apenas porque ficar em casa comprometerá o sustento de sua família, mas também porque o local de moradia não possui infraestrutura necessária para atravessar a crise: espaço apertado, falta água, ventilação e esgotamento sanitário.
A COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, ameaça os grupos hipossuficientes de maneira desproporcional. Já chegou às periferias brasileiras e ameaça as comunidades negras tradicionais.
Através de sua atuação em rede, KOINONIA teve conhecimento de que a Ocupação Guerreira Maria Felipa, formada por famílias sem teto de Salvador, poderá ser retirada a qualquer momento da ocupação em razão de uma ação de Reintegração de Posse movida por uma empresa de mineração. Caso a liminar seja cumprida, a comunidade ficará exposta ao coronavírus.
No Estado do Maranhão, em Alcântara, comunidades quilombolas correm o risco de serem expulsas de seus territórios pelo governo federal, em razão de um convênio firmado entre o Brasil e os Estados Unidos para construção de uma base de lançamento de foguetes.
Para os grupos mais vulnerabilizados, o coronavírus não é apenas uma ameaça à saúde, mas a todos os direitos fundamentais e sociais conquistados com muita luta e sangue, especialmente o direito à vida, moradia, segurança e propriedade.
O coronavírus é uma ameaça ao direito de existir para os que já sofrem com o racismo e ausência de políticas públicas.
O Domingo da Ressurreição traz a vitória da vida sobre a morte, renova a esperança de que a humanidade conseguirá sobreviver e superar esta crise e também nos dá a possibilidade de refletir sobre os ensinamentos do Cristo e o papel do engajamento cristão em defesa daqueles que mais necessitam.
*Advogada. Graduanda em Ciências Sociais (UFBA). Mediadora de Conflitos. Educadora Popular.