A Travessia de Oscar Bolioli (1935 – 2017)
Por Zwinglio M. Dias
É com pesar e dor que Koinonia Presença Ecumênica e Serviço registra a infausta notícia do falecimento do Pastor Metodista Rvdo. Oscar Bilioli (82), no dia 18 de junho passado, em sua querida cidade de Montevidéu, Uruguai.
Sua partida significa uma grande perda para o Movimento Ecumênico pois, como expressou o Secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, Rev. Dr. Olav Fykse Tveit, o Pastor Bolioli “foi um líder excepcional que muito contribuiu para o estabelecimento de marcos importantes do movimento ecumênico.”
Sua trajetória no movimento ecumênico começou cedo, a poucos anos de iniciado o seu ministério pastoral na Igreja Evangélica Metodista do Uruguai, ao assumir a Secretaria-geral da União de Juventudes Evangélicas Latino-americanas (ULAJE) em meados dos anos sessenta. No final dessa década e como resultado de seu trabalho continental tornou-se Secretário-executivo do Dpto. de Juventude do Conselho Mundial de Igrejas. Em 1972 assumiu, ainda no CMI, a direção do Dpto. de Ação Ecumênica.
De volta ao Uruguai em 1974 foi alçado à posição de Presidente da Igreja Metodista até 1979. Período conturbado, marcado por uma ditadura sangrenta,
Foi quando tornou-se, também, representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Fiel a sua determinação de defensor e promotor dos Direitos Humanos, Bolioli trabalhou afincadamente ajudando perseguidos políticos a deixarem o país, organizou a distribuição das doações enviadas pelo parlamento sueco e promoveu a visita de líderes religiosos de várias partes do mundo e, particularmente dos Estados Unidos, aos presos políticos uruguaios.
Entre 1982 e 2000 Bolioli serviu como Diretor do Departamento para América Latina e Caribe do Conselho Nacional de Igrejas de Cristo dos Estados Unidos. Durante esse período ele articulou e liderou um programa denominado “Processo de São Paulo” o qual procurou reunir igrejas, organismos ecumênicos e organizações populares da sociedade civil para fomentar os esforços de reorganização social e política em muitos países que acabavam de passar por regimes autoritários e lutavam agora para uma retomada democrática. Nessa posição introduziu uma nova concepção de cooperação internacional trazendo os beneficiários da ajuda para a mesa de discussão e tomada de decisão.
Seu colega na Facultad Evangélica de Teologia, em Buenos Aires nos inícios dos anos sessenta, tive o privilégio de trabalhar com ele como seu assessor teológico durante todo o tempo de sua atuação como diretor para América Latina e Caribe no Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos.
De volta ao Uruguai assumiu novamente a direção da Igreja Metodista entre 2002 e 2008, posição que repetiu entre 2012 e 2016. No ano de 2013 foi homenageado pela Prefeitura de Montevidéu com o título de “Cidadão Ilustre da Cidade” por sua contribuição na luta pela defesa e promoção dos Direitos Humanos em seu país e no continente.
Sua preocupação com os destinos do continente sul-americano o levou a comprometer-se profundamente com a trágica situação vivida pelos povos centro-americanos e caribenhos, particularmente com as igrejas e movimentos populares de Colômbia, Guatemala, Honduras, México,Nicarágua e Cuba. Sua interlocução com as mais diferentes lideranças dos movimentos sociais nesses países lhe granjearam reconhecimento e admiração, sendo recebido por dirigentes das FARC e do ELN na Colômbia, por Fidel Castro, várias vezes, em Cuba e por líderes das FAR e movimentos camponeses na Guatemala. Participou ativamente nos processos de Paz, particularmente na Guatemala. A Comunidade Teológica de Honduras em homenagem a seu trabalho no país criou a “Cátedra Teológica Oscar Bolioli.”
Nos anos setenta Bolioli teve papel importante na estruturação e desenvolvimento de ASEL, (Ação Social Ecumênica Latino-americana), organismo que sucedeu ao movimento de ISAL. Profundamente antenado aos acontecimentos sociopolíticos que estremeciam o continente Bolioli teve sempre em alta conta o que acontecia no Brasil. Apoiou vários movimentos populares e ecumênicos sendo um colaborador significativo, por vários anos, de Koinonia.
Consternados e entristecidos por sua partida estendemos a sua esposa Stella e seus filhos Silvia, Eduardo, Sérgio e Álvaro nossos votos de solidariedade e companheirismo nesta hora triste de sua partida. Fazemos nossas as palavras da Prefeita de Montevidéu,, Sra. Ana Oliveira, sobre sua personalidade:” Homens como Bolioli não são apenas necessários, mas que por sua honestidade, humanidade e capacidade de trabalho são um exemplo a ser conhecido e seguido.”