Rio de Janeiro tem ato contra intolerância
Depois de um ano marcado pela ascensão definitiva da intolerância religiosa no debate público nacional, em parte pelo aprofundamento das violências, representantes de várias tradições de fé se reuniram no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio, na última quinta (19), para mais uma vez reafirmar a importância da liberdade de crença e de um Estado efetivamente laico. Cerca de 150 pessoas estiveram no evento para dizer “basta”.
Segundo o babalawô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), o prefeito Marcelo Crivela foi convidado a participar, mas não apareceu. Durante a campanha Crivela foi um dos candidatos que assinaram a “Carta Compromisso com os Direitos Humanos Contra a Violência, Racismo e Intolerância Religiosa”, com diretrizes para a promoção do respeito à diversidade e às garantia individuais e coletivas.
Representando o Ministério Público estadual, Eliane de Lima Pereira, assessora de direitos humanos e minorias, falou de como o órgão passa a encarar a questão da intolerância. “Minha presença aqui é antes de tudo uma manifestação de apoio e a expressão de que o MP estadual elege a defesa da liberdade religiosa como prioridade, porque entendemos que a diversidade é fundamental para o regime democrático”, destacou.
O xeque Rodrigo Jalloul, primeiro brasileiro nato a ser oficialmente reconhecido como clérigo xiita, lembrou que apesar de um direito universal, a escolha de que religião seguir ainda é, na prática, um privilégio em muitos lugares do mundo. “A oração é a base de minha religião e ela não me convida a pregar o ódio. Também não vejo diferença na essência das muitas religiões. O Brasil é um dos poucos países em que podemos professar nossa fé e isso é importante porque, em seguindo uma religião – seja ela qual for -, pelo sentido básico delas, não tem como sermos levados a atos de intolerância”, concluiu.
Na oportunidade também foi lançado o livro bilingue “Intolerância Religiosa no Brasil”, que traz dados e análises de especialistas sobre o problema, além de contribuições para seu enfrentamento. De acordo com a pastora luterana Lusmarina Garcia a publicação é mais um instrumento que ajuda a compreender a necessidade de um compromisso profundo tanto do Estado quanto da sociedade com a superação da intolerância. “De nossa parte, nessa caminhada temos mostrado que é possível, cada qual em sua religião, descobrir no outro, no diferente, um parceiro e uma parceira de vida. Esse movimento é em si um grande exemplo de como se produz uma quebra no ciclo de intolerância”.