Ato Ecumênico na Assembleia Legislativa no MS chama atenção para a violação dos direitos dos indígenas

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Campo Grande – Na manhã de hoje, em frente a Assembleia Legislativa do MS, aconteceu um Ato Ecumênico em solidariedade aos indígenas, denunciando o massacre em curso no estado. Religiosos de várias tradições e regiões do país protestaram contra a violência, praticada na maior parte dos casos por ruralistas, os quais seguem impunes contando com a omissão do poder público.

O Ato foi uma das atividades da Missão Ecumênica de apoio aos Guarani-Kaiowá, cujo encerramento está previsto para amanhã. Essa já é a segunda ação do tipo desde outubro do ano passado, por iniciativa do Fórum Ecumênico de Act no Brasil (FEACT-BR) e do Processo de Articulação e Diálogo (PAD). A coordenação é do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese) e Centro de Estudos Bíblicos (Cebi). Participa uma série de organizações.

De acordo com a diretora executiva da Cese, Sônia Mota, desde a última Missão Ecumênica a violência tem se aprofundado. “A situação só vem se agravando. Diversas denúncias foram feitas e diversos documentos publicados dentro e fora do Brasil. Estamos aqui em nome de várias organizações ecumênicas comprometidas com a luta por direitos. Enquanto o sangue indígena estiver correndo por este chão não podemos ficar omissos”, ressaltou. Sônia lembrou ainda que um dos propósitos das entidades presentes é cobrar de perto atitudes do governo e das instituições no sentido de assegurar o respeito aos direitos dos povos indígenas.

Na última terça-feira (12), mais um ataque de pistoleiros foi registrado, resultando em um adulto e dois adolescentes baleados, na região de Carapó, MS. Embora o acirramento dos conflitos territoriais tenha mobilizado parte da atenção da sociedade para o tema, somente em 2014, 138 índios foram mortos de acordo com relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Os recentes atentados, inclusive com mortes, representam a continuidade num histórico muito mais longo de negação de direitos.

“Nós crescemos vivendo o sofrimento”, disse o Cacique Terena, Alberto da Terra Buriti, explicando que são muitos os expedientes e violações a se articularem com a violência. “Em 88 lutamos para assegurar nossos direitos na constituição. Conseguimos segurar em dois artigos o direito sagrado sobre a terra. E querem nos tirar. Nosso povo está pagando caro. Aconteceram duas CPIs para nos apontar como culpados. Disseram até que nós iríamos invadir a cidade para jogar a sociedade urbana contra nosso povo. Nós não vamos nos calar. Direito não se negocia e nem se abandona”, destacou.

Além dos assassinatos e das campanhas de deslegitimação da causa indígena, pesam ainda contra essa população problemas como a mortalidade infantil – de 42 crianças mortas por mil nascidas vivas (22 é a média nacional) – e a desnutrição, principal causa de morte entre crianças indígenas até os 9 anos. Entre os adultos, o índice de suicídios supera em mais de cinco vezes a média nacional, atingindo em cheio os jovens.

“A gente sabe que a juventude que hoje sofre tem rostos, locais e demandas específicas. Ela está na periferia, lutando pela terra como aqui. Viemos dizer que o luto de vocês se faz nosso luto e que a dor de vocês se faz nossa dor. Não pensem que estão sozinhos. Sabemos que há muita diferença entre a nossa situação e a daqueles que estão perdendo familiares, mas acredito que em conjunto possamos garantir uma resistência mais forte”, disse Edoarda Scherer, facilitadora da Rede Ecumênica da Juventude (Reju), aos indígenas durante o Ato Ecumênico.

Depois da cerimônia, a Missão seguiu para uma reunião com representantes do Ministério Público Federal, na qual se discutiria as providências para garantir a segurança e o direito à vida das populações indígenas do MS. 

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