“A maior parte das mulheres que sofrem violência frequentam alguma comunidade religiosa. Elas precisam conversar e pedir orientações. Onde estão nossas comunidades para atender essas mulheres?”. Com este provocamento, Ester Lisboa, assessora de KOINONIA, deu início a mais um espaço de diálogo da Rede Religiosa de Proteção à Mulher Vítima de Violência. Na tarde do dia 12 de março, cerca de 40 pessoas estiveram presentes na Igreja Metodista de Vila Mariana para compartilhar experiências, vida e fé diante da violência contra as mulheres.
O encontro teve como proposta refletir sobre as contribuições que as comunidades religiosas devem oferecer para que o ciclo de violência se quebre, direcionando seguramente ao atendimento na rede de serviços de enfretamento à violência contra mulher. “As igrejas precisam se posicionar. As estatísticas dos atendimentos de Sorocaba apresentam cerca de 50% das mulheres como evangélicas e 90% dos agressores de uma determinada igreja evangélica. Isso é muito preocupante”, relata Tania de Paula, membro da Igreja Metodista de Sorocaba.
Diversos casos de violência foram relatados pelos participantes, dentre os quais as igrejas aparecem como agentes paralelos através da invisibilização da mulher vítima de agressões. Após o momento de partilha, o espaço foi aberto para o debate sobre novos rumos de trabalho e ação que contribuam para a vida de diversas mulheres na luta contra a violência que as atinge.
Como resultado de ações realizadas anteriormente pela Rede Religiosa de Proteção à Mulher Vítima de Violência, foi deliberada uma comissão de acolhimento a mulheres violentadas. A iniciativa da Igreja Metodista de Itaberaba objetiva dar os encaminhamentos necessários dentro da rede pública de atendimento. Fabio Martelozzo, membro desta comunidade, afirmou que os avanços acontecem com a atuação da equipe.
“Como comunidade religiosa, temos condições de aconselhar pastoralmente e proporcionar um grupo para apoio. O Estado não pode entrar na casa das pessoas, a igreja sim. Podemos contribuir além das medidas jurídicas; podemos somar no empoderamento da mulher para que ela busque seus direitos”, explicou.
Assumindo o compromisso de amparar essas mulheres, a equipe já atendeu alguns casos. “Recebemos uma garota de 17 anos, com uma filha 11 meses e grávida de 4 meses. Ela era agredida sistematicamente e chegou a ser esfaqueada pelo companheiro, que era usuário de drogas, além de outras complicações. Nós tivemos que tomar uma atitude efetiva. Ela já não morava com o rapaz, estava na casa dos pais, mas não tinha nenhuma orientação. Estavam sofrendo ameaças tanto a garota, como as filhas. As advogadas da nossa equipe a orientaram e a Silvana Bentley, presidente da Sociedade Metodista de Mulheres, um órgão local parceiro na Rede Religiosa, nos ajudou no trabalho de acolhimento. Demos encaminhamentos, fomos ao Centro de Referência da Mulher, onde ela recebeu orientações da Defensoria Pública e deu entrada no que foi preciso: exame de corpo de delito, boletim de ocorrência, entrada no pedido de guarda judicial e a medida restritiva. Além disso, ela começou a participar de grupos de apoio e psicossocial. Nós temos acompanhado o caso e a jovem corrido atrás de seus direitos”, relatou Fábio.
Outra importante ferramenta de orientação para o enfrentamento à violência contra mulher dentro das comunidades religiosas é o livro “As Mulheres Escolhem a Vida”, produzido pela Assessoria de Direitos Humanos Metodista 3RE em parceria com a Federação Metodista de Mulheres (órgão que congrega todas as Sociedades Metodistas de Mulheres das igrejas locais). De acordo com informações divulgadas no site da Igreja Metodista, o material oferece “textos de reflexão sobre o tema e sua importância, estudos bíblicos para serem aplicados em reuniões de grupos societários, escola dominical, grupos de discipulado e a íntegra do texto da Lei Maria da Penha, além de orientações de como buscar auxílio na Rede de Atendimento”. Saiba mais clicando aqui.
• Confira as fotos do espaço de diálogo na Igreja Metodista de Vila Mariana.