No sábado (5), quilombolas, técnicos da Coordenação de Desenvolvimento Agrário da Bahia (CDA), do Incra, da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e entidades não-governamentais tentarão pôr fim ao conflito que envolve a comunidade remanescente de quilombo do Barroso e sua vizinha, a comunidade rural do Varjão. A discordância gira em torno de um acordo de cooperação produtiva desfeito, em que uma propriedade comum – uma casa de farinha – acabou sendo herdada pelo Barroso, já que o imóvel se localizava dentro de seus limites territoriais. Trabalhadores rurais do Varjão sentiram-se então em desvantagem, o que acabou desencadeando um conflito que vem se acirrando com o tempo.
Na semana passada, o site de KOINONIA noticiava um alerta feito pela organização e outras entidades à CDA e ao Incra, sobre o risco de um desfecho violento para a questão entre as duas comunidades. O alerta, feito por meio de carta pública, também falava da necessidade de medidas urgentes envolvendo segurança e mediação locais.
O assistente de projetos de KOINONIA, Tárcito Fernando tem acompanhado o desenrolar das conversas. “Semana passada participamos de duas reuniões que aconteceram como resposta à carta pública enviada à CDA e ao Incra. O estado garantiu a construção da Casa de Farinha da comunidade do Varjão, que será visitada amanhã. Quem acompanha é o Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP)”, atualiza.
Segundo a líder comunitária do Barroso, Ana Célia dos Santos Pereira, a expectativa é positiva. “Espero que o compromisso com a construção da casa de farinha na comunidade do Varjão nos traga mais segurança aqui no Barroso. Se a negociação der certo, é isso que vai acontecer. Mas só depois que nosso grito foi levado para quem podia escutar e fazer alguma coisa por nossos direitos”, desabafa.
A apreensão entre os moradores do Barroso tem sido grande, principalmente com a recente derrubada de uma cerca que marca os limites da comunidade. Antes houve a destruição de uma horta comunitária, em 2014, e a tentativa de atear fogo ao museu que reúne a memória do quilombo, construído por iniciativa dos próprios quilombolas.
“Estamos discutindo com a CDA e CAR e pretendemos com essa reunião de amanhã resolver. Se isso não acontecer, do jeito que a coisa está, além de queda de cerca, vai ter queda de gente. E isso é o que não queremos de forma nenhuma”, destaca com preocupação José Domingos, o Domão, do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Camamu (STTR), também envolvido nas negociações.