KOINONIA realiza celebração e debates pelos seus 20 anos de presença ecumênica e serviço

Thiago Ansel e Natasha Arsenio

O fim de abril foi marcado por festejos e trocas de experiências neste ano em que KOINONIA completa duas décadas. Entre os dias 25 e 26, com o apoio da Fundação Heinrich Böll e da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), associados, parceiros e representantes da sociedade civil participaram de um ato ecumênico e inter-religioso em homenagem ao vigésimo aniversário da instituição e de um seminário que abordou a questão da reforma política.

A celebração inter-religiosa, que aconteceu na capela do Colégio Sion, no Cosme Velho, Rio de Janeiro, teve ares de renovação de votos, reunindo religiosos e não religiosos que têm em comum o desafio de seguir lutando pela superação das desigualdades e de todas as formas de intolerância.  

“Temos buscado trabalhar a diversidade religiosa. Acho que conseguimos, porque hoje temos aqui reunidas pessoas, experiências e vivências, que certamente em outra situação estariam separadas”, observou o bispo metodista Paulo Ayres, sócio-fundador e presidente de KOINONIA.

A cerimônia litúrgica lembrou momentos históricos da entidade, emocionando os presentes. O momento ainda proporcionou encontros e reencontros de novos e antigos associados e outras pessoas que fizeram parte dessa trajetória. “Espero que esse espírito do diálogo inter-religioso, do respeito, da luta contra o preconceito permaneça vivo por mais muitos anos”, desejou Ivanir dos Santos, babalorixá e interlocutor da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa.

O segundo dia de comemoração (26) foi dedicado a debates e análises de conjuntura, com o seminário “Reforma Política e Desigualdades”. O objetivo principal do evento foi marcar os 20 anos de KOINONIA prestando também um serviço público: o de pautar questões estruturantes no processo democrático, no que diz respeito à política partidária e à efetiva participação da sociedade civil.

O público acompanhou três mesas de debates com palestrantes que discutiram diferentes aspectos do tema principal. Abrindo os trabalhos, Robson Leite e Eliana Rolemberg falaram sobre a atuação de organizações não governamentais, articulações e parlamentares na construção do novo Marco Regulatório para a Sociedade Civil. “O projeto de lei para regular a sociedade civil em tramitação, embora tenha suas limitações, traz ganhos e tem apoios importantes de parlamentares. O que aparece na mídia é sempre no sentido de criminalizar as organizações da sociedade civil. Então, elas acabam não sendo conhecidas por seu trabalho na defesa de direitos e no reforço dos valores democráticos”, afirmou Eliana.

Paulo Ayres e o fundador e associado de KOINONIA, Anivaldo Padilha, compuseram a segunda mesa cujo tema foi "Reforma Ontem e Ditadura. Desafios da Política Hoje e os (Des)Caminhos da Direita e da Esquerda Religiosa". Para Padilha, mesmo 50 anos depois, o que se percebe é “o grande atraso político e social deixado pelo regime militar”.O dia terminou com a mesa "Reforma Política", onde falaram Moema Miranda, do Ibase, Romi Bencke, do Conselho Nacional de Igrejas (Conic) e Fórum Ecumênico ACT Brasil (FE ACT Brasil), e Luciano Santos, membro do Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE).

Romi alertou sobre a existência de mais organizações religiosas do que associações como sindicatos e cooperativas no Brasil. “Temos que saber que impacto isso tem na formação de uma sociedade crítica, principalmente quando temos um aumento da presença dessas entidades em espaços de participação política”, destacou.

O representante da Plataforma pela Reforma Política, Luciano Santos, questionou a origem dos orçamentos utilizados em campanhas políticas. “Na última eleição, Dilma gastou R$ 150 milhões. Serra gastou R$ 140 milhões. Plínio de Arruda Sampaio gastou R$ 90 mil. Então, sem dinheiro não tem campanha atualmente. Minha mãe sempre disse: ‘quem paga a orquestra diz o que se baila’”.

Moema chamou atenção para as distorções entre as identidades da maior parte do povo brasileiro — os negros, as mulheres, por exemplo — e as de seus representantes no Congresso. “As elites conseguem, em grande medida, manter essa distância desde a ditadura. Temos que desqualificar a extrema riqueza que controla as eleições!”.

O encerramento das atividades só se deu para todos, na manhã do domingo (27), com a assembleia para os associados de KOINONIA no Hotel Scorial, no Largo do Machado.

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