Uma vivência: o espaço sagrado do Candomblé é lugar de vida e alegria

Jorge Atilio Silva Iulianelli

No sábado, 28 de março, foi uma experiência do projeto com juventudes de Candomblé, a partir da articulação da Campanha Agô. Eles decidiram, no ano passado, durante o Encontro pelos direitos de jovens de terreiro, ter um dia de convivência e reflexão no terreiro de Pai Régis, em Fazenda Coutos, o Ilê Axé Torun Gunam. Dividimos o dia em quatro momentos: conhecer o Torun Gunam, conversar sobre racismo ambiental, fazer uma caminhada ecológica e ter uma atividade ecossustentável de promoção da justiça ambiental. Estávamos jovens da Casa Branca, do Yle Axé Udaleci, do São Roque e do Torun Gunam, em 29 jovens, além da assessoria de KOINONIA, com a presença de Edjane, Tárcito, Laina e Jorge Atilio. Naiara, facilitadora de jovens do projeto OD, também estava. Antes da conversa, tivemos um bom café com frutas e a apresentação dos participantes. Pai Régis contou a história do Torun Gunam. O terreiro se organizou em Fazenda Coutos há quase uma década, antes da chegada do projeto Minha Casa, minha vida. O Torun Gunam era fruto da vivência de jovens que tinham lutas pelos direitos da população daquela região, e que por serem do Candomblé se encontravam, primeiro, na casa da Matriarca da comunidade. A casa foi ficando pequena pela presença dos jovens que chegavam para celebrar e cuidar do ambiente daquele entorno, e foi necessário ter um espaço próprio para o Candomblé. O espaço começou de palha, depois se tornou de alvenaria, e sempre era um espaço social de cuidar da melhoria da qualidade de vida das pessoas do entorno, conduzindo projetos sociais, como o de alfabetização de adultos, e da promoção do cuidado com o meio ambiente, que incluía a Lagoa do Pneu. Nesses quase dez anos, aumentou a presença da população. Chegaram algumas igrejas, pentecostais, que se instalaram ao redor dos três terreiros de Candomblé que estavam presentes ali. A convivência entre os terreiros estabeleceu até um calendário de festas, que fazia com que as casas alternassem suas celebrações. Também se conseguiu estabelecer alguns acordos de convivência, ao menos com a Igreja Rosa de Saron. Porém, o pastor resolveu quebrar o acordo, sobretudo depois que o Torun Gunan conseguiu ter respeitado seu papel de promotor de direitos socioambientais, com a aceitação de sua realocação em um terreno próximo à Lagoa do Pneu, após o deslocamento provocado com a construção do conjunto habitacional do Minha Casa, minha vida. E, neste ponto, nossa reflexão sobre racismo ambiental pode ser iniciada, enriquecida com a própria história do terreiro. O que notamos é que a violação dos direitos ambientais, em uma sociedade desigual e racista, afeta de forma mais grave aos que estão mais vulnerabilizados étnica e socioeconomicamente. Como resultado, as populações tradicionais, rurais e urbanas, sofrem de forma mais agravada a violação dos direitos socioambientais. Haja vista quem nas áreas urbanas sofre mais com a falta de saneamento, ou com habitações em áreas de risco, ou com áreas nas quais agregam-se incremento da violência letal. Afinal, no Brasil, a violência letal tem identidade étnica e temos entre os que mais são encarcerados e mortos com armas de fogo os jovens, homens, negros, pobres, das periferias urbanas e rurais. Depois da conversa, tivemos um bom almoço, uma bela apresentação de um grupo de percussão. Na seguida, caminhamos entre as lagoas, naquele belo espaço que necessita de um profundo cuidado ambiental, que assegure a permanência das populações que ocupam aquela área, e dos lugares de culto, que são promotores dos direitos socioambientais, como os terreiros de Candomblé. Finalmente, concluindo o dia de convivência, Naiara ministrou uma oficina de atitude sustentável: podemos ter uma horta em espaços limitados? Uma horta que além de produzir alimentos agroecológicos produza reciclagem? Sim, sim… Foi ou não uma bela vivência?

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