Thiago Ansel
Neste sábado (29), a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) comemorou seu sétimo aniversário com um ato inter-religioso na igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no Centro do Rio de Janeiro. A celebração — que contou com a presença de líderes e praticantes de, pelo menos, 15 diferentes tradições religiosas — foi dupla, homenageando também a memória de Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, líder abolicionista negro que viveu entre os séculos XIX e XX. O evento teve ainda apresentações culturais e a abertura da exposição fotográfica “Caminhando a Gente se Entende”, sobre a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, marcha anual que em 2014 chega a sua sétima edição.
Fátima Damas, fundadora da CCIR, lembrou a importância histórica do lugar escolhido para a celebração. “O local é simbólico, primeiro por causa da memória da escravidão e segundo porque são sete anos ganhando respeito de todas as religiões e superando a discriminação que antes dificultava a ocupação de certos espaços”, comentou.
A CCIR festejou ainda o acolhimento, na semana passada, de uma queixa crime contra um deputado que defende abertamente a invasão e destruição das casas de santo. “Isso é um grande avanço e mostra que as instituições aos poucos vão se abrindo para entender que a intolerância não tem a ver com religião e sim com ódio”, conta Ivanir dos Santos, interlocutor da CCIR.
O IBGE tem oficialmente 49 classificações sobre as diferentes formas de religiosidade praticadas no Brasil. Mesmo assim, algumas delas insistem em se autodeclarar absolutas, arrogando-se o direito de agredir e discriminar as demais. Segundo os últimos dados divulgados pela ouvidoria do Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, entre 2011 e 2012, o número de denúncias de intolerância cresceu mais de 600%. Os estados líderes deste ranking são São Paulo, seguido pelo Rio de Janeiro e Bahia.
Graças Nascimento, do Movimento Inter-Religioso (MIR), enfatizou o caráter político do desafio de superar a intolerância. “Nossa luta acontece nesse mundo, no solo brasileiro. As diferentes tradições aqui reunidas defendem o artigo 5º, que fala da garantia da liberdade, e a regulamentação de leis que reconheçam a intolerância como forma de violação desse direito”, lembrou.
Og Sperle, representante da Wicca, ressaltou que a própria comissão tem sido um exemplo do convívio respeitoso entre as diferentes religiões. “Na comissão, pouco discutimos religião, o que nos une, nosso interesse comum, é a liberdade religiosa”, conclui.
A comissão prepara a 7ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que já tem local e data: dia 21 de setembro, na orla de Copacabana, no Rio.