Como resultado do desmembramento programático que encerrou as atividades do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) em 1994, ganhou vida própria um de seus programas voltado, essencialmente, para a reflexão teológica acerca da prática ecumênica constituindo-se, desde então, como uma entidade autônoma de serviço às Igrejas e aos movimentos sociais que passou a autodesignar-se como “Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço”.
Em sua autodefinição institucional a entidade não só expressa os propósitos de sua constituição histórica como detalha a natureza de suas atividades, como segue:
“KOINONIA é uma entidade ecumênica de serviço, composta por pessoas de diferentes tradições religiosas, reunidas em associação civil sem fins lucrativos. Em sua vocação diaconal, se compreende como um ator político do movimento ecumênico e que presta serviços ao movimento social.
KOINONIA se propõe a mobilizar a solidariedade ecumênica e prestar serviços a grupos histórica e culturalmente vulneráveis e aqueles em processo de emancipação social e política. Para isso desenvolve programas de produção do conhecimento, informação e educação, que atuam por meio de redes, em busca de espaços democráticos, que garantam a justiça, os direitos humanos – econômicos, sociais, culturais e ambientais – e a promoção do ecumenismo e do movimento ecumênico e de seus valores libertários em nível nacional e internacional.
KOINONIA presta serviços e estabelece alianças com a população negra organizada em comunidades urbanas e rurais, trabalhadores rurais, agentes de solidariedade com pessoas que vivem com HIV/AIDS, e lideranças intermediárias das igrejas. Buscou-se sempre que possível o foco na juventude e nas mulheres, e desenvolveu-se a atuação geográfica prioritária nos municípios da região do Sub-Médio São Francisco; de Salvador – BA; da região do Baixo Sul da Bahia, do Vale do Paraíba – SP; e no interior dos estados do Rio de Janeiro. Outras alianças naturais que perpassam toda a ação de KOINONIA dizem respeito ao campo das organizações ecumênicas, onde a instituição não só presta serviços como também é um agente político de mobilização e disseminação de valores. A abrangência dos serviços de KOINONIA, devido à sua estratégia de comunicação e ao atendimento às solicitações de assessoria, é nacional e internacional.”
Num contexto de crescente concorrência entre as mais diferentes concepções de aproximação ao Sagrado, a proposta ecumênica de diálogo e cooperação entre as igrejas cristãs e destas com as demais estruturas religiosas que conformam o substrato culturalda sociedade brasileira, como uma forma de serviço aos setores sociais mais vulneráveis e a promoção dos valores democráticos garantidores do direito e da justiça, desponta como incômoda, desafiadora e inoportuna.
Caudatária dos esforços de aproximação ecumênica realizados por algumas igrejas protestantes durante todo o século XX e que passou a contar com a participação da igreja católica romana a partir da segunda metade desse século, KOINONIA é, também, uma das expressões dos variados empenhos ecumênicos que ao longo desse período foram se concretizando na forma de movimentos criados por membros dessas igrejas (leig@s e clérigo@s) inconformados com a falta de incidência pública e compromisso social de suas instituições religiosas. Ao longo desse processo esses movimentos, que respondiam à demandas diferenciadas originadas da sociedade civil, tiveram sua perspectiva teológica ampliada e associaram-se à propostas semelhantes que se desenvolviam em outros países, ao mesmo tempo em que acolhiam as principais linhas de ação e perspectivas teológicas do movimento ecumênico internacional, representado institucionalmente pelo Conselho Mundial de Igrejas.
KOINONIA emerge, então, como entidade ecumênica autônoma no bojo desse longo, complexo e conflitivo processo no interior do campo religioso brasileiro que, por sua vez, reflete as contradições, os impasses e os desafios que caracterizam a sociedade como um todo.
Procurando criar e manter espaços abertos de diálogo entre pessoas das mais diferentes extrações religiosas e também com aquelas sem nenhuma identificação religiosa KOINONIA tem procurado, nessas duas décadas de existência, ser fiel a sua proposta de origem de reafirmar sua sólida fé na dignidade humana. Fé esta que se expressa, principalmente, em seus compromissos com os setores mais vulneráveis da sociedade e com aqueles em processo de emancipação social e política.
Sem filiação a nenhuma instituição religiosa ou política, mas reconhecendo e assumindo os valores que garantem e promovem a dignidade intrínseca dos seres humanos, presentes no âmago das propostas religiosas que subsistem em nossa cultura, KOINONIA se autocompreende como um espaço de Comunhão (significado da palavra grega koinonia) que propicia a articulação de duas outras virtudes teológicas destacadas pelo Evangelho para a plena emancipação humana. São elas o Testemunho (marturia – ainda no grego) e o Serviço (diakonia- idem). Comunhão significa partilhar a vida com e para os demais na afirmação de que ninguém, grupos ou indivíduos, se basta a si mesmo, mas que necessita da interação permanente com @s outr@s para encontrar sentido e beleza em sua pessoal experiência existencial. Testemunho é o gesto permanente de comunicação e transparência que proclama que outra vida é possível para além dos estreitos limites da autocentração. Serviço é o meio ou a ação pela qual o amor que cimenta tal movimento do eu em direção ao outr@, ganha forma concreta nos espaços da história.
Estas três virtudes teológicas fundamentais que nos chegaram como legado da tradição cristã também podem ser encontradas em outras tradições religiosas que centram sua atenção na promoção e defesa da dignidade humana em toda a sua amplitude. Por isso não são virtudes a serem cultivadas apenas pelos cristãos ou os religiosos em geral, mas se dirigem a todos os humanos.
A vivência destes valores no interior de uma comunidade humana implica na aceitação e no acolhimento do direito e da liberdade d@ outr@ de ser e permanecer o diferente que ele(a) é. Em outras palavras, isto significa acolher a diversidade humana como um dom da vida que amplia horizontes,enriquece e aprofunda a vivência de todos e todas que se querem verdadeiramente humanos.
Em termos teológicos pode-se dizer que nestes 20 anos de incidência na vida das igrejas brasileiras, em diferentes áreas do movimento social e nos espaços do movimento ecumênico, tanto nacional quanto internacional, KOINONIA tem procurado, entre acertos e erros, ser “uma comunidade de serviço ao demais”. Não sendo igreja, no sentido técnico da expressão, tem vivido e manifestado valores nitidamente evangélicos que deveriam constar da pauta permanente das comunidades cristãs. Não sendo uma comunidade do Candomblé e nem de outras agremiações religiosas do campo religioso brasileiro, tem refletido em sua prática e em suas reflexões sociopolíticas e culturais o respeito e a acolhida às dimensões de sentido dessas comunidades que promovem a dignidade humana e a integridade espiritual de seus adeptos, buscando no diálogo e na convivência amorosa a criação e manutenção de espaços democráticos para a promoção de direitos e a realização da justiça para todos.
Em termos teológicos pode-se dizer que nestes 20 anos de incidência na vida das igrejas brasileiras, em diferentes áreas do movimento social e nos espaços do movimento ecumênico, tanto nacional quanto internacional, KOINONIA tem procurado, entre acertos e erros, ser “uma comunidade de serviço ao demais”. Não sendo igreja, no sentido técnico da expressão, tem vivido e manifestado valores nitidamente evangélicos que deveriam constar da pauta permanente das comunidades cristãs. Não sendo uma comunidade do Candomblé e nem de outras agremiações religiosas do campo religioso brasileiro, tem refletido em sua prática e em suas reflexões sociopolíticas e culturais o respeito e a acolhida às dimensões de sentido dessas comunidades que promovem a dignidade humana e a integridade espiritual de seus adeptos, buscando no diálogo e na convivência amorosa a criação e manutenção de espaços democráticos para a promoção de direitos e a realização da justiça para todos.
Todos os seus programas são atravessados por uma perspectiva ética que repousa na afirmação, acima de tudo, da sacralidade dos seres humanos. Daí sua ênfase na defesa e promoção da igualdade de todos(as); sua permanente preocupação com a extensão dos direitos, consagrados na Carta Magna do país, a todos os seus habitantes, especialmente aqueles(as) mais vulnerabilizados pela estrutura socioeconômica vigente; e seu chamado contínuo à solidariedade e ao diálogo fraterno entre todos(as) em meio a extraordinária e enriquecedora diversidade que caracteriza esta nação.
Em seus empenhos para tornar realidade seu sonho ecumênico KOINONIA não confia apenas na inteligência e operosidade de seus dedicados quadros, nem somente na solidariedade de seus parceiros e parceiras, mas, fundamentalmente, volta-se para o Mistério inefável que envolve a vida dos humanos tornando-os transcendentes aos seus próprios limites e àqueles impostos pela concretude da história que, por isso mesmo é imprevisível e plena de surpresas.
Autor: Zwinglio M. Dias