Márcia Evangelista
Mãe Jaciara, sucessora de Mãe Gilda no Terreiro Axé Abassá de Ogum, foi convidada por Valmir Assunção, coordenador da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate a Pobreza (Sedes) do estado da Bahia, a ocupar o cargo de coordenadora do Projeto Mulheres da Paz. O Projeto faz parte das ações do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) e é realizado em parceria com o Governo da Bahia, por meio da Sedes. A nomeação foi publicada no Diário Oficial do Estado, no dia 22 de junho.
O Projeto Mulheres da Paz conta com a participação de aproximadamente 700 mulheres, distribuídas nos municípios de Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e Simões Filho. O papel das Mulheres da Paz é mediar conflitos das famílias que possuem jovens que vivem à beira da criminalidade ou que já tiveram problemas com a lei.
Mãe Jaciara, do Terreiro Axé Abassá de Ogum, Salvador, é uma das parceiras do Programa Egbé Territórios Negros, de KOINONIA, na luta contra a intolerância religiosa. Mãe Jaciara é filha de mãe de santo Gildásia dos Santos e Santos, conhecida como Mãe Gilda, que sofreu um caso de intolerância religiosa de grande repercussão nacional: Mãe Gilda adoeceu e morreu após ter sua foto publicada em uma matéria no jornal Folha Universal, da Igreja Universal do Reino de Deus, com o título “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. Com o apoio de KOINONIA, os filhos e o marido de Mãe Gilda entraram com ação na justiça, que condenou a Igreja Universal, em agosto de
KOINONIA conversou com Mãe Jaciara por telefone e perguntou sobre o que representa esse convite, depois de 10 anos de luta contra a intolerância religiosa.
“Recebo esse convite com grande satisfação, até porque já temos um trabalho de 10 anos de luta contra a intolerância, que teve início com o caso Mãe Gilda. Esse é o momento de pedir paz, de pedir uma convivência pacífica no diálogo religioso. Sinto-me contemplada porque nunca uma mulher negra e de Axé havia coordenado esse projeto na Bahia. É a primeira vez que uma religiosa de matriz africana assume o cargo.
Esse é o momento de mostrar que o Candomblé convive com as outras religiões, sem discriminar nenhuma e contemplando todas. Não serei uma coordenadora, e sim mais uma multiplicadora da PAZ. O que essas mulheres vivem eu já vivi com a minha família de Axé. Além disso, colocarei em prática a experiência que tive quando trabalhei com menores infratores junto à Fundação do Bem Estar do Menor (Funbem), em Curitiba (PR), onde coordenei uma fazendo com 80 jovens em situação de risco.”
Com informações da Sedes