Terreiros reunidos com música, arte e debate

Manoela Vianna

Dança, música e representações de diferentes orixás foram exibidas pelo grupo Odún Olá que abriu o Almoço de Trabalho e Fraternidade de KOINONIA, no dia 23 de agosto, em Salvador. O grupo formado por 31 jovens do bairro de Plataforma, subúrbio ferroviário, apresentou o que aprendeu na oficina Odún Olá – Vivenciando a Ancestralidade, realizada pelo Terreiro Kalé Bokun e promovida por KOINONIA.

Após a apresentação, os cerca de 150 participantes da reunião que representavam mais de 70 Terreiros de Candomblé foram convidados a visitar a FeirArte, exposição dos trabalhos produzidos em outras oficinas realizadas pelos Terreiros e promovidas por KOINONIA, a partir do projeto “Capacitação e apoio ao desenvolvimento de Comunidades Negras Tradicionais no Brasil”, co-financiado pela União Européia, Christian Aid e EED (Serviço das Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento). As participantes das oficinas exibiram orgulhosas bolsas, camisetas e toalhas. Odete Barbosa dos Santos, do Ilê Axé Obá Tony, era uma delas. Ela correu para ser fotografada ao lado das roupas tradicionais costuradas na oficina de Corte e Costura do Ilê Axé Alarabedê, promovida no Espaço Vovó Conceição da Casa Branca da qual foi instrutora.Odete também é multiplicadora do Programa Saúde e Direitos de KOINONIA.

Que desenvolvimento os Terreiros desejam?

Os Terreiros atendidos pelo Programa Egbé Territórios Negros vêm discutindo desde o início do ano o tema desenvolvimento. O objetivo é refletir sobre que tipo de desenvolvimento os Terreiros de Candomblé desejam e sobre o seu papel como agentes de desenvolvimento. A partir dos debates dos Terreiros sobre esses temas foi produzido um texto de autoria coletiva. A redação final deste texto foi discutida e aprovada durante a reunião por grupos de trabalho.

O texto aprovado retrata as questões ligadas ao desenvolvimento sobre a perspectiva dos temas: Água, Meio Ambiente, Justiça Ambiental e Desenvolvimento; Saúde e Desenvolvimento; Território, Livre Associação e Desenvolvimento; Liberdade Religiosa; Memória e Saberes; Juventude e Desenvolvimento.

Este texto será um dos insumos para o seminário Comunidades Negras Tradicionais como Agentes de Desenvolvimento, que será realizado entre os dias 29 e 31 de outubro, em Salvador. O evento reunirá representantes de Terreiros de Candomblé e de comunidades negras rurais da região do Baixo Sul da Bahia, além de autoridades governamentais que trabalham com políticas públicas para esses públicos.

KOINONIA promoverá o seminário junto a Conselho de Acompanhamento e Aplicabilidade da Carta pelas Águas (Bahia), Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro- Brasileira (Intecab) e do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Camamú.

Indignação com o Caso da Casa Branca

Também fez parte da programação do encontro um relato das atividades do Programa Egbé no qual ganhou destaque o caso da Casa Branca. O Terreiro da Casa Branca – Ilê Axé Iyá Nassô Oká – está sendo processado pela Prefeitura de Salvador por falta de pagamento de IPTU (Imposto Territorial Urbano) do qual são imunes todos os templos religiosos.

Ordep Serra, Ogã da Casa Branca e professor doutor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, muito indignado, explicou mais detalhes do caso. “É um ataque da prefeitura contra todos os Candomblés. A prefeitura desapropriou a Casa Branca e o Estado desapropriou a Praça de Oxum que é tombada. A prefeitura sabe disso. É intolerância religiosa e racismo institucional. A Casa Branca é conhecida, imagina o que pode acontecer com os que não são conhecidos.”

KOINONIA está assessorando a Casa Branca neste caso e no momento o processo está suspenso, até que a questão seja resolvida no âmbito administrativo. Rafael Soares de Oliveira, Secretário Executivo de KOINONIA e Ogã da Casa Branca, lembrou que qualquer tipo de apoio à Casa é esperado: “O movimento de garantia de direitos é público”, afirmou Oliveira.

O Terreiro da Casa Branca é um dos mais antigos do País e o primeiro templo religioso a ser tombado como patrimônio histórico do Brasil.

Múltiplas homenagens

Durante a reunião, também foi promovida uma cerimônia de entrega de certificados. Os professores e coordenadores das oficinas nos Terreiros receberam certificados pelo trabalho desenvolvido. Maria das Graças Guimarães, Mãe Dadá, responsável pela Associação Beneficente, Cultural e Religiosa Margarida Lima Guimarães, do Terreiro Osun Inká, surpreendeu a equipe de KOINONIA com uma homenagem. Mãe Dadá entregou à equipe do programa Egbé certificados que atestavam o desenvolvimento de um bom trabalho. Durante o encontro foi lançado ainda a 16ª edição do Informativo Fala Egbé.

A próxima reunião de Terreiros atendidos por KOINONIA acontecerá no dia 29 de novembro.

 

Saiba como apoiar a Casa Branca lendo as notícias:

E-mails de apoio à Casa Branca e Perseguição ao Terreiro da Casa Branca

Saiba mais sobre as oficinas do Projeto Capacitação e apoio ao desenvolvimento de Comunidades Negras Tradicionais no Brasil lendo a notícia: Oficinas de artes, ofícios e direitos

Leia o Fala Egbé 16 aqui no site de KOINONIA na seção Fala Egbé

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