História
Ilha da Marambaia - RJ
No século XIX, com a proibição ao tráfico de africanos para o Brasil em 1831, a Marambaia passou a ser utilizado como porto clandestino de desembarque de escravos e tornou-se internacionalmente conhecida por essa prática. Em 17 de abril de 1847 a ilha (incluindo fazendas e escravos) foi vendida por José Guedes Pinto e seu irmão ao comendador Joaquim José de Souza Breves. Em 1850, mesmo após a segunda proibição ao tráfico de escravos, o comendador continuou investindo no comércio de africanos. Entre dezembro de 1850 e fevereiro de 1851, mais de 900 africanos foram apreendidos na Marambaia suspeita de serem desembarcado ilegalmente. Com a abolição da escravidão em 1888, de acordo com a memória dos ilhéus, o comendador teria doado cada uma das praias para os recém-libertos que continuaram vivendo por lá, mas essa doação nunca foi concretizada oficialmente. Joaquim Breves morrem em 1889. A viúva do comendador Maria Isabel de Moraes Breves, não manteve o compromisso do marido e vendeu a Marambaia à Companhia Promotora de Indústria e Melhoramentos em 1891. Em 1896, a referida companhia, em liquidação forçada, transferiu a propriedade para o Banco da República do Brasil. Diante de aguda crise financeira, a instituição bancária fez um acordo com a União Federal de repasse de bens. Entre as propriedades estava a Ilha da Marambaia, adquirida em 1905. Em 1908, a Marinha do Brasil instalou ali a Escola de Aprendiz de Marinheiros do Estado do Rio de Janeiro, que funcionou até 1910, sendo depois transferida para o município de Campos dos Goytacazes. Durante o governo de Getúlio Vargas, foi construída na ilha a Escola de Pesca Darcy Vargas, administrada pela Fundação Abrigo do Cristo Rendentor e inaugurada em 1939. A escola funcionou até 1970, quando a Marambaia passou a ser administrada pela Marinha e instalou no local o Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia (Cadim). Na década de 1990, a União Federal ajuizou uma série de ações de reintegração de posse acusando os ilhéus de serem “invasores do território” e algumas famílias de fato foram expulsas. Em 2004, a comunidade, já autodeclarada remanescente de quilombo, foi certificada pela Fundação Cultural Palmares. Em 2006, o processo administrativo no Instituto de Colonização e Reforma Agrária foi finalizado com a publicação do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) em 14 de agosto. No dia seguinte, por ordem da Casa Civil, o relatório foi “despublicado” também no Diário Oficial. Atualmente a comunidade entra-se em fase de negociação com a Marinha. Os ilhéus da Marambaia continuam tentando “colocar no papel” o que o comendador Breves teria “doado de boca”, o território onde vivem há várias gerações. A história de constituição da comunidade da Ilha da Marambaia remonta ao século XIX.
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