Pita Canudos - MT
História:
A formação da comunidade remanescente quilombola Pita Canudos remete à história de um ancestral comum, Antônio Constantino Maciel de Campos, que fugiu com um grupo de negros escravizados de uma fazenda em Poconé e fixou residência na região da Morraria, localizada aproximadamente, a 10 km do município de Cáceres. O nome Pita Canudos é devido ao hábito que os antigos possuíam de fumar em canudos de bambu. Hoje o quilombo possui uma associação com cerca de 385 remanescentes cadastrados.
A comunidade foi certificada pela Fundação Cultural Palmares, em 2013. Seu território tradicional conta com extensão de 1.546 hectares e possui processo de titularização aberto junto ao INCRA, desde 2014. Entretanto, os remanescentes quilombolas se encontram, em sua maioria, no perímetro urbano de Cáceres, pois sofreram desapropriação territorial por grileiros, de forma violenta e gradual, entre os anos de 1960 e 1992.
Em 2015, o Ministério Público Federal solicitou que fosse realizada uma perícia para verificar a necessidade de proteção do patrimônio cultural material localizado no território tradicional da comunidade. Para esta perícia os próprios quilombolas elaboraram um mapa, no qual apontaram os lugares presentes na memória coletiva do quilombo, como os dois cemitérios: dos “adultos” e dos “anjinhos” – como é chamado o cemitério das crianças – espaços considerados sagrados para a comunidade. Neste mapa também foram apontados os lugares onde moravam as famílias antes da expulsão territorial, a nascente e o córrego, a dolina – conhecida como “Água Milagrosa” – e as matas. Em pesquisas arqueológicas foram encontrados indícios da ocupação quilombola, artefatos como roda de ferro e pilão, que ainda se encontram no local.
Estes lugares são importantes para a afirmação identitária e preservação cultural do quilombo, mas permanecem inacessíveis para a comunidade. Com o impedimento de acesso aos seus locais sagrados, como os cemitérios, ao córrego e ao espaço, onde ocorria a festa de São João, a comunidade fica impossibilitada de manter seus rituais no seu território tradicional, incidindo na reprodução de seu patrimônio imaterial.
Devido à impossibilidade de acesso ao seu patrimônio cultural material, toda a imaterialidade do quilombo fica comprometida. É necessário que haja ações que visem a reparação moral da comunidade, como o direito à posse de terra e retorno ao seu território de origem. O reconhecimento e salvaguarda de seu patrimônio cultural é fundamental para a continuidade de suas manifestações culturais, o fortalecimento da identidade do grupo e o sentimento de pertencimento de seus moradores.
Origem do nome: O nome Pita Canudos é devido ao hábito que os antigos possuíam de fumar em canudos de bambu
Processo:
- Certificada
Município / Localização: Cáceres
Referência:
BAPTISTA, Ângela Maria. Ministério Público Federal. Parecer Técnico Nº 007/2015/6ª CCR/ASPER.
INCRA. Parecer antropológico: Comunidades Gleba Salobra – Devoluto VIII (GONÇALVES, Cláudia Pereira; SCHROEDER, Ivo; GAGLIARDI NETO, José). Processo 2008.36.01.003374-7, 2ª Vara Federal de Cáceres.
IPHAN. Relatório de Vistoria/Fiscalização, No. 0006/2015, IPHAN/MT, Cuiabá, dez. de 2015.
TEIXEIRA, Julyene Oliveira. Histórias e Memórias da Comunidade Remanescente Quilombola de Pita Canudos (Cáceres – MT). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao departamento de História da Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres, 2018.
Fontes orais: entrevistas realizadas com Joana de Oliveira Campos e Natalina de Oliveira França Fernandes, em 2018.
Redação: TEIXEIRA, Julyene Oliveira. Pita Canudos (MT). IN: Atlas Observatório Quilombola. Observatório Quilombola. KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, 2020.
Pesquisas: Julyene Oliveira Teixeira é graduada em História pela Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT). Em 2018 defendeu a monografia Histórias e Memórias da Comunidade Remanescente Quilombola de Pita Canudos (Cáceres – MT), sob a orientação da Prof.ª Manuela Areias. Atualmente cursa especialização em Museografia e Patrimônio Cultural (Claretiano). É técnica Administrativa Educacional da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso e membro do Conselho Municipal de Cultura de Alta Floresta/MT, representante do segmento Patrimônio Histórico Cultural e Artístico.
Verbete atualizado em 12/07/2023<< Voltar para listagem de comunidades