Família Cardoso - MS
História:
A comunidade remanescente de quilombo Família Cardoso, conhecida também como Negros do Largo da Baía, localiza-se na área rural do município de Nioaque, Mato Grosso do Sul. Sua fundação remete à dois núcleos familiares: as famílias Cardoso e Romano, marcadas por relações de parentescos e experiências que as aproximam.
No final do século XIX, Manoel Cardoso e Quirino Romano adquiriram terras e constituíram uma comunidade na área denominada Largo da Baía. Suas habitações, roças e criações, localizavam-se à margem do rio Nioaque. Dessa forma, a comunidade foi formada por dois casais de libertos: Maria Vitória e Quirino Romano, que saíram de Minas Gerais, e Manoel Cardoso e sua esposa, que vieram do Rio de Janeiro para o município de Nioaque.
Alguns anos depois, Nestor Cardoso, neto do liberto Manoel Cardoso, casou-se com Eugênia de Souza Romano, neta do liberto Quirino Romano. A união das famílias Cardoso e Romano, ocorreu após o casamento de Nestor com Eugênia, que tiveram treze filhos, originando a atual comunidade Família Cardoso, responsável pela organização do festejo de São Pedro. A devoção e os festejos dedicados a São Pedro iniciaram com Maria Vitória Romano, esposa de Quirino Romano, após fazer uma promessa.
Na Comunidade Quilombola Família Cardoso, o culto e a festa de São Pedro, realizados anualmente no mês de junho, foram transmitidos com o passar dos anos para todas as gerações dos quilombolas do Largo da Baía. Durante esta festa tradicional, aberta aos moradores de Nioaque e de outras cidades, a comunidade ressalta a cultura da diáspora africana por meio de danças no ritmo das batidas dos tambores e roupas típicas, conhecidas como “amarração”. Todos os anos, moradores das comunidades rurais e do núcleo urbano de Nioaque comparecem para prestigiar o trabalho da família Cardoso, cujos seus membros ocupam posições de festeiros. A festa de São Pedro é fundamental para afirmação da identidade quilombola, e atualmente motiva a reunião das famílias da comunidade. É uma manifestação cultural de resistência quilombola na luta pelos seus direitos.
Em outubro de 2005, a Família Cardoso foi certificada pela Fundação Cultural Palmares como uma comunidade de remanescente de quilombo, iniciando o processo de titulação do seu território no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o qual ainda está em curso.
Origem do nome: Nome de um dos grupos familiares que constituem a comunidade: os Cardoso e os Romano.
Processo:
- Certificada
Município / Localização: Nioaque
Estágio no processo e regularização territorial: Processo INCRA: 54290.001687/2005-24 - RTID --- Certidão expedida pela Fundação Cultural Palmares. Data de publicação no D.O.U.:09/11/2005 - Processo FCP: 01420.002183/2005-32
Referência:
INCRA. Coordenação Regional de Regularização Fundiária de Áreas de Comunidades Remanescentes de Quilombo. Relatório Antropológico de Identificação e Delimitação do Território da Comunidade Quilombola Família Cardoso (Nioaque-MS), Brasília, 2007.
PLÍNIO DOS SANTOS, Carlos Alexandre B. Festejo e comensalidade: a festa de São Pedro dos Negros do Largo da Baía. In: WOORTMANN, Ellen; CAVIGNAC, Julie (Orgs.). Ensaios sobre a Antropologia da alimentação: saberes, dinâmicas e patrimônios. Natal, RN: EDUFRN, 2016.
Redação: AREIAS, Manuela. Família Cardoso. IN: Atlas Observatório Quilombola. Observatório Quilombola. KOINONIA PRESENÇA ECUMÊNICA E SERVIÇO, 2020.
Pesquisas: FONTE: Fundação Cultural Palmares
Mais informações: Manuela Areias é docente da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UESMS) e coordenadora do projeto de pesquisa “Inventário do Patrimônio Cultural Imaterial Quilombola de Mato Grosso do Sul”.
Verbete atualizado em 11/07/2023<< Voltar para listagem de comunidades