Márcia Evangelista
Bispos, padres e diáconos negros, em carta divulgada no dia 30 de agosto, confirmaram apoio às lutas dos povos quilombolas. “Sabemos das dificuldades múltiplas que os quilombolas enfrentam no Brasil para terem suas terras tituladas”, afirmam os religiosos. “Dentre os empecilhos, além da lentidão do poder público para tal, existem os interesses espúrios dos políticos, do agronegócio, das barragens etc”, completam.
A carta foi aprovada pela 21ª Assembleia Nacional dos Bispos, Presbíteros e Diáconos Negros, realizada entre os dias 27 e 31 de agosto, em Registro, interior de São Paulo.
Leia, abaixo, a carta na íntegra.
Carta às Comunidades Quilombolas do Brasil
Nós, Bispos, Presbíteros e Diáconos Negros, reunidos na XXI Assembléia Nacional na cidade de Registro de
Partindo das Leis ainda no período do império brasileiro (1831: Anti-tráfico Negreiro; 1850: Lei de Terras; 1871: Lei do Ventre Livre; 1885: Lei do Sexagenário; 1888: Lei Áurea), constatamos que, histórica e politicamente o povo negro nunca foi considerado digno neste país. Tais leis não o protegia.
Somente a Constituição de 1988, um século depois, a nossa Lei Magna reconhece o direito aos remanescentes de quilombos a regulamentarem suas terras. Mas bem sabemos que isso não acontece sem muita luta e histórica resistência. Esta sempre foi a lógica dos nossos quilombos Brasil afora.
Também sabemos das dificuldades múltiplas que os quilombolas enfrentam no Brasil para terem suas terras tituladas. Dentre os empecilhos, além da lentidão do poder público para tal, existem os interesses espúrios dos políticos, do agronegócio, das barragens, etc.
No caso do Vale do Ribeira, em se tratando da luta contra as barragens pelos seus 67 quilombos, é fato que, sendo construídas como o previsto, desaparecerão a maioria desses quilombos, a reserva da Mata Atlântica do Estado, as milenares cavernas, além das místicas tradições desses povos, conforme nos relatou, com muita propriedade, um militante do Quilombo de Ivaporunduva.
Como Ministros Ordenados, carregando o Axé da nossa negritude, nos comprometemos a sermos mais destemidamente aliados a estas e outras lutas concretas dos mais pobres e excluídos do nosso tempo, a exemplo de tantos profetas bíblicos e contemporâneos e, indiscutivelmente, de Jesus de Nazaré.
Que nossa Mãe Negra Mariama interceda por nós, continue encorajando todas as lutas proféticas de nossos quilombolas, desde o Vale do Ribeira.
Salve Zumbi! Axé!
Com informações da Radio Vaticano em 01/08/2009