Quilombo da Marambaia (RJ) recebe o título de posse coletiva de seu território

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O oito de outubro foi histórico para o Quilombo da Marambaia, na região da Costa Verde (RJ), e para a causa quilombola no Brasil. Após mais de uma década de luta, a comunidade recebeu das mãos do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, de representantes do comando da Marinha e do Incra  o título de posse coletiva do território ocupado por quilombolas há cerca de dois séculos, segundo moradores. O documento foi assinado pelo presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombo da Ilha da Marambaia (ARQUIMAR), Nilson Carlos Alves e por autoridades presentes numa cerimônia que começou militar e terminou quilombola.

O tom de rito oficial só duraria até o documento de posse ser entregue, quando o que se ouvia era o som dos atabaques do jongo da Marambaia, acompanhado o coro emocionado e dançante dos quilombolas – os da ilha e de outras comunidades do RJ que vieram só para a comemoração.

Mãe e filha, as quilombolas Barbara e Vânia Guerra representam duas gerações da briga pela titulação. A filha educadora e a mãe líder comunitária contam que até o último minuto a comunidade parecia não acreditar, porque o longo tempo de espera e as decepções do processo acabaram fazendo com que parecesse que aquele dia jamais fosse chegar.

“Eu nasci aqui. Sou bisneta de escravos e fundadora da nossa associação. Acho que para a comunidade a ficha ainda não caiu. Foi tanta dificuldade, tanta porrada que fica difícil mesmo acreditar. Continuamos lutando agora por essa tomada de um lugar que é nosso e que a gente cuida e conserva há mais de 200 anos”, diz Vânia.

Para Bárbara foi um dia único para Marambaia, mas que ela espera reviver em outras comunidades. “Ao longo desses anos aprendi a lutar pelo que eu quero na luta pelo direito à nossa terra, pelo direito de ficar aqui, pelo direito de gritar, ou até de falar baixinho se eu quiser. Mostramos que é possível”, conta.

A titulação beneficia diretamente cerca de 100 famílias, que vivem basicamente da pesca. São 53 hectares da Ilha (4 mil metros quadrados por família). Mas tão importante quanto a garantia da propriedade é o significado dessa vitória, já que a permanência no território é uma das condições para a existência e continuidade da identidade quilombola.

Foi essa a avaliação do coordenador da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas (CONAQ), Ronaldo Santos. “Em 2001 foi organizado o Primeiro Encontro de Comunidades Quilombolas Tituladas. O segundo encontro ficou programado para o ano seguinte. Falamos que só participaríamos se estivessem lá comunidades emblemáticas para essa luta, para que aquele encontro fizesse sentido. A Marambaia era uma delas. É um símbolo da luta quilombola porque era daquelas batalhas que pareciam impossíveis, utopia. Esse momento diz que a luta não é em vão e que todas as comunidades quilombolas do Brasil podem, devem e serão tituladas. Não é só a realização de um sonho, mas a renovação dele”, concluiu o coordenador da Conaq.
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