Manoela Vianna
Dezesseis comunidades quilombolas e negras rurais, representando as comunidades do Baixo Sul da Bahia, e 57 Terreiros de Candomblé de Salvador, atendidas por KOINONIA, estiveram no Seminário Comunidades Negras Tradicionais como Agentes de Desenvolvimento.
O evento foi realizado por KOINONIA e convocado em parceria com o Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira (INTECAB) e Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá).
Entre os dias 29 e 31 de outubro, em Salvador (BA), além das comunidades presentes, estiveram representados os seguintes órgãos: Ministério da Educação; Ministério do Desenvolvimento Social; Secretaria de Relações Institucionais do Governo da Bahia; Superintendência do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) da Bahia; Secretaria Municipal da Fazenda; Secretaria Municipal da Reparação (Semur); Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi); Coordenação de Diversidade da Secretaria de Educação do Estado da Bahia; Superintendência Estadual de Vigilância e Proteção da Saúde; Secretaria Municipal de Saúde; Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá); Secretaria Estadual de Cultura da Bahia –Fundação Pedro Calmon.
A iniciativa faz parte do Projeto de KOINONIA “Capacitação e apoio ao desenvolvimento de Comunidades Negras Tradicionais no Brasil”, co-financiado pela União Européia, Christian Aid e EED (Serviço das Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento). O projeto, promovido desde 2007, atende 15 Terreiros de Candomblé , localizados em Salvador, e 22 comunidades negras rurais da região do Baixo Sul da Bahia.
Do Seminário resultou um processo de mobilização pela criação da Comissão Estadual para o Desenvolvimento de Povos e Comunidades Tradicionais, para a qual foram elencados uma série de princípios e ações prioritárias.
Além disso um conjunto de compromissos com as comunidades foram assumidos pelas autoridades. Veja abaixo uma síntese desses compromissos.
Nas próximas semanas o site de KOINONIA continuará divulgando mais fotos e informações sobre o evento.
Compromissos assumidos
Coordenação de Diversidade da Secretaria de Educação do Estado da Bahia
- Implementar a Lei 10.639/2003 nos estabelecimentos de ensino e formar professores para, prioritariamente, incluir nos currículos relações étnico-raciais e história e cultura afrobrasileira, tanto em Salvador como no Baixo Sul;
- Criar condições para as Comunidades de Terreiros fazerem parte do Fórum Estadual de Educação na Bahia;
- Levantar as demandas de educação, saúde e direito fundiário nas comunidades quilombolas junto a órgãos federais, tais como o INCRA;
Coordenação Geral de Diversidade e Inclusão, Secretaria de Alfabetização Continuada e da Diversidade, Ministério da Educação – MEC
- Fomentar material didático para as comunidades quilombolas;
- Formar professores para a implementação da Lei 10.639/2003;
- Formar professores das classes multisseriadas;
- Informar às comunidades sobre os financiamentos para a merenda escolar aos municípios do Baixo Sul;
Superintendência Estadual de Vigilância e Proteção da Saúde
- Favorecer a ocupação das comunidades negras tradicionais nos Conselhos de Saúde (estaduais, municipais, locais) e nos Comitês do Estado, relativos a campanhas e ao SUS;
- Promover educação aberta à diversidade para todos agentes relacionados à Secretaria de Saúde;
- Ação especial sobre o caso da leishmaniose no Baixo Sul;
Coordenação de Saúde da População Negra, Secretaria Municipal de Saúde – Salvador
- Implementar a regulamentação municipal sobre a valorização dos conhecimentos tradicionais das religiões de matriz africana;
- Dar continuidade à realização de oficinas e feiras de saúde junto aos Terreiros;
- Ampliar a presença de representantes de religiões de matriz africana no Conselho Municipal de Saúde;
INGÁ – Instituto de Gestão de Águas e Clima
- Promover ações que garantam a consolidação, na Bahia, da política nacional de desenvolvimento sustentável para povos e comunidades tradicionais;
- Dar continuidade à política de realização dos Encontros das Águas;
- Respeitar a Carta das Águas instrumento de monitoramento da sociedade sobre políticas públicas dos recursos hídricos, em diálogo com o Conselho pelas Águas, instalado oficialmente, com participação dos povos e comunidades tradicionais;
- Monitorar a qualidade das águas, segundo o compromisso de ter “água para todos e água para sempre”;
- Ampliar os mecanismos de socialização não digital dos resultados do monitoramento da qualidade da água nos rios da Bahia;
- Facilitar a informação não digital sobre a participação das comunidades e povos tradicionais como membros do Conselho Estadual de Recursos Hídricos;
- Estimular a participação das comunidades negras tradicionais na reformulação do Plano Estadual de Recursos Hídricos a partir dos Comitês de Bacia;
- Facilitar o acesso também não digital para as comunidades tradicionais do decreto que regulamenta a fiscalização da outorga de água pelo INGÁ;
- Formar agentes voluntários das águas entre as comunidades negras tradicionais;
Ministério do Desenvolvimento Social – MDS
- Divulgar as formas de acesso e decisão sobre os fundos conveniados entre a Petrobrás e o Conselho Nacional de Comunidades de Povos Tradicionais;
- Convidar em 2008 as comunidades negras tradicionais presentes neste Seminário para participar do “1°. Encontro para a sustentabilidade dos povos e comunidades tradicionais da Bahia”, promovido com o Governo do Estado – BA;
- Fomentar a participação das comunidades negras tradicionais nas linhas do Programa de Aquisição de Produtos Extrativistas (PAE);
- Buscar ampliar a participação das comunidades negras tradicionais nas linhas de fomento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e o PAA Leite, para distribuição rede de assistência social, no Baixo Sul;
- Capacitar as comunidades negras tradicionais para elaboração de projetos para o PAA, no Baixo Sul da Bahia;
- Informar qual é o fluxo de acesso da sociedade ao novo fundo provindo da apreensão de extração ilegal de madeiras;
- Divulgar as avaliações dos resultados do programa Bolsa Família entre os beneficiários das comunidades negras tradicionais presentes neste Seminário;
- Fomentar o acesso ao Benefício de Prestação Continuada para as comunidades quilombolas e Comunidades de Terreiros que tenham renda familiar de até ¼ do Salário Mínimo por pessoa;
- Responder demandas de associações e de conselhos das comunidades tradicionais para a participação na distribuição de cestas básicas;
- Informar sobre os editais de projetos do MDS aplicáveis as comunidades negras tradicionais;
- Divulgar os editais de projetos do MDS;
- Estimular a participação das organizações não-governamentais e das comunidades na rede de pesquisadores do levantamento das comunidades negras tradicionais;
- Possibilitar a formulação de convênios que beneficiem as comunidades negras tradicionais de Terreiros para arranjos produtivos;
- Gestionar o Ministério do Meio Ambiente – MMA para promover mecanismos de conhecimento da Lei de Repartição de Benefícios de Conhecimentos e Práticas Tradicionais pelas comunidades negras tradicionais;
- Enviar para KOINONIA o relatório dos mecanismos atuais de efetivação do Decreto Lei da Política Nacional para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, PNDSPCT (Decreto 6.040/2007).
- Encaminhar para KOINONIA informações sobre os editais, programas e ações do governo federal, acessíveis para as comunidades para que sejam divulgadas entre as comunidades negras tradicionais;
INCRA – Instituto de Colonização e reforma Agrária – BA
- Receber as demandas das comunidades da Bahia certificadas pela Fundação Cultural Palmares para seu reconhecimento fundiário e atuar conforme a legislação e a Instrução Normativa do INCRA;
- Divulgar entre as comunidades quilombolas as demandas legislativas que querem bloquear as atuais políticas de reconhecimento dos territórios quilombolas;
- Debater com as comunidades sobre a solução da titulação dos territórios em que famílias quilombolas já têm títulos individuais de propriedade, anteriores à demarcação do território quilombola;
- Agendar uma visita ao Baixo Sul, no ano de 2008, para explicar o estado dos processos na região.
Secretaria de Relações Institucionais do Governo da Bahia
- Manter a dinâmica territorial como unidade de planejamento de governo para os 26 territórios do Estado da Bahia;
- Alinhar-se às políticas públicas federais para as comunidades e povos tradicionais;
- Assegurar ações de preservação das tradições lingüísticas dos povos e comunidades tradicionais com a participação de seus representantes;
- Levar as reivindicações apresentadas pelas comunidades negras tradicionais deste Seminário para o Comitê Executivo Estadual;
- Convidar as comunidades negras tradicionais deste Seminário para o “1° Encontro para a sustentabilidade dos povos e comunidades tradicionais da Bahia”;
- Divulgar o processo e os critérios de constituição da Comissão Estadual para a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais;
- Facilitar os processos de comunicação da juventude de Candomblé com a Coordenação Estadual de Juventude.
Secretaria Municipal da Reparação
- Promover redes com organizações da sociedade civil, comunidades e povos tradicionais que façam valer a lógica da inclusão e os direitos civis;
- Criar mecanismos de capacitação de servidores municipais das diversas secretarias para que ajam sem promover a intolerância religiosa por meio de suas ações;
- Construir condições na Secretaria do Estado da Fazenda (SEFAZ) para a isenção tributária para os Terreiros de Candomblé em Salvador;
- Promover a cartilha de orientação jurídico-tributária para os Terreiros após o seu lançamento em 12 de novembro de 2008;
- Divulgar entre as comunidades e povos tradicionais de Salvador a revista oficial do planejamento do município, que será lançada aos 27 de novembro, apenas sobre reparação.
Coordenação de Tributação da Secretaria de Municipal de Fazenda – Salvador
- Receber solicitações de imunidade tributária por parte dos Terreiros de Candomblé com associação legalizada;
- Oferecer orientações técnicas aos representantes dos Terreiros sobre os processos de constituição de associação para que os Terreiros alcancem a legalização e imunidade tributária;
Secretaria Estadual de Cultura da Bahia – Fundação Pedro Calmon
- Promover, valorizar e proteger a tradição oral das comunidades negras tradicionais e os seus saberes;
- Criar mecanismos de socialização dos saberes tradicionais das comunidades tradicionais e com a sociedade;
- Facilitar pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o reconhecimento dos saberes das comunidades negras tradicionais;
- Monitorar e fazer avançar entre os gestores municipais o uso da Lei de patrimônio histórico e cultural para os Terreiros de Candomblé;
- Discutir com os gestores municipais a posse e o uso do Livro dos Saberes Tradicionais para registro imaterial da produção cultural das comunidades negras tradicionais;
- Encaminhar junto ao Estado da Bahia a criação de uma Lei de proteção do patrimônio imaterial e material das comunidades negras tradicionais da Bahia.
- Encaminhar para divulgação por KOINONIA informações sobre os editais ligados a Cultura.
Saiba mais sobre o Seminário no Observatório Quilombola: BA – Debate sobre desenvolvimento reúne comunidades negras tradicionais (6/11/2008)