Um Bispo na Luta Popular...

09/12/2014

Entrevista com o teólogo e Bispo emérito da Igreja Metodista Paulo Ayres Mattos que dirigiu a Região Eclesiástica do Rio de Janeiro e, posteriormente, a Região Eclesiástica do Nordeste

Leia a íntegra  no livro "Memórias Ecumênicas Protestantes", de Zwinglio M. Dias

– Eu nasci num lar metodista em 1940, que não era muito comum naquela época e ainda hoje não é comum. Minha mãe nasceu no Amazonas, porém filha de nordestinos que tinham migrado para a Amazônia na época áurea da borracha. Com a queda da profissão da borracha, migraram para o Sul do Brasil. Foram morar no Rio de Janeiro. O meu pai nasceu no sertão de Sergipe, na divisa com a Bahia, em Simão Dias, e era de uma família muito grande. Acabaram migrando para o Rio de Janeiro. Meu pai chegou no Rio de Janeiro em 1930 onde alguns irmãos dele já se encontravam. Foi trabalhar na Light, antiga companhia de eletricidade do Rio de Janeiro, onde acabou se envolvendo com o movimento operário. Meu pai após a “Intentona” de 1935, acabou preso. Ele não comentava muito detalhes dessa prisão, mas foi preso portando uma carta do Partido Comunista . Ele estava com uma correspondência do Partido Comunista levando de um lugar para outro. Meu pai ficou algum tempo na Ilha Grande e depois foi solto. Havia um tio de meu pai que morava em Parada de Lucas, na Zona da Leopoldina, onde a minha mãe residia, na Rua Tinharé . Minha mãe se tornou amiga das filhas desse meu tio-avô e um dia ela visitando a família desse meu tio-avô, conheceu meu pai. Começaram a namorar e meu pai acabou se convertendo na Igreja Metodista. Só que meu pai se tornou evangélico, mas não deixou de ter a sua militância. Então eu fui criado num ambiente desse tipo. Você tinha de um lado a Bíblia Sagrada e, de outro lado, tinha o Cavaleiro da Esperança do Jorge Amado ou então O Mundo da Paz. Na Igreja por um lado, meu pai e a minha mãe exerciam também liderança. Então nos mudamos para Pilares. Fomos morar num conjunto de industriários do Instituto de Aposentaria e Pensão dos Industriários, o antigo IAPI, onde o Partido Comunista tinha muita gente. Com células do Partido funcionando lá, com trabalho da juventude comunista funcionando lá. Minha família também muito envolvida na Igreja. Quando eu terminei o Ginásio, no Colégio Visconde de Cairú, Meier, não havia curso científico, e a gente tinha que ir estudar no Souza Aguiar, na rua Gomes Freire, no centro da cidade. Eu fui estudar no Souza Aguiar em 1956. Havia uma enorme efervescência política e o movimento estudantil crescia. Eu fui aluno de Geografia do Orlando Valverde. Um grande geógrafo. Fui aluno de História da Marina São Paulo de Vasconcelos. E ali foi desenvolvendo uma militância na União Metropolitana de Estudantes Secundários e eu passei a fazer refeições no Restaurante do Calabouço. Eu também me envolvi na liderança da Mocidade Metodista que já estava sendo influenciada por algumas coisas que estavam acontecendo no mundo evangélico pelo trabalho da Confederação Evangélica do Brasil. Quando terminei o Científico eu resolvi fazer um Vestibular para Ciências Sociais. Cometi uma besteira. Entrei na sala do exame oral com o Jornal Novos Rumos, que era o Jornal do Partido Comunista, e quem ia me examinar era o prof. Eremildo...

– Eremildo Viana, um professor ultraconservador...

– Eremildo Viana. Eu tinha tirado nove na prova escrita, precisava só um ponto pra entrar. Eu acabei sendo reprovado. Zero na prova oral. Aquilo me deixou muito fora de eixo. (Certamente, se eu tivesse entrado na faculdade de Ciências Sociais na Universidade do Brasil (hoje UFRJ) certamente 64 me teria pego na plena efervescência do Rio de Janeiro. Acontece que nessa mesma época houve um envolvimento meu com a Mocidade Metodista. Me tornei liderança no Rio de Janeiro e depois liderança nacional. Aí, em função daquelas coisas místicas típicas de protestante, acabei me sentindo recebendo um chamado divino para o santo ministério pastoral e resolvi vir para Faculdade de Teologia. Fiz parte do Conselho de Redação da revista Cruz de Malta que, nessa ocasião era o órgão da Mocidade Metodista e que, a partir eu acho de 1961 ou 62, começou dar muita importância às questões nacionais. Isso ao mesmo tempo em que estava acontecendo o processo da Confederação Evangélica do Brasil especialmente no setor de Responsabilidade Social da Igreja. Nesse período em que eu estou na Faculdade de Teologia já começávamos a sofrer a influência do que acontecia na União Cristã de Estudantes do Brasil.

Nesse período havia um movimento na Igreja chamado “Clamor da Mocidade Metodista”. Esse movimento era a favor de uma igreja mais voltada para as raízes brasileiras, uma igreja mais voltada para as lutas do povo. Acontece a ditadura e esse grupo  não sofreu de imediato a mesma repressão que, por exemplo, os grupos presbiterianos sofreram. Por que dentro da Igreja Metodista o setor conservador tinha uma certa força mas o setor mais voltado para as questões da vida nacional também tinha uma certa força. Então no cabo de guerra aí, ninguém prevalecia. Desse Clamor da Mocidade Metodista uma das coisas que a Mocidade exigia era um Coordenador Nacional, alguém de tempo integral que seria um executivo da Confederação de Jovens. Porque a Confederação era formada pela liderança das cinco Federações, com Sede no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Campinas e Rio Grande do Sul. Os jovens diziam que isso ficava muito disperso e aí precisavam de alguém que cuidasse da articulação. Depois do Conselho Geral de 65 eu sou eleito Coordenador Nacional da Mocidade Metodista. Em consequência dessa minha eleição eu recebi uma bolsa de estudo pra fazer um Curso que se chamava Leadership of Youth Trainning, “Treinamento de Lideranças Jovens”, que era um programa patrocinado pelo Conselho Mundial de Igrejas mas que estava ligado também com o pessoal da Confederação Mundial de Estudantes. E esse Programa era pra ser dado no McCormick Theological Seminary, um seminário presbiteriano em Chicago. Então eu fui para os Estados Unidos fazer esse curso. Quando eu terminei o curso e voltei para o Brasil, um ano e pouco depois, fui para São Paulo, para assumir a Coordenação Nacional da Juventude e então me informaram que não podia ser eu. Que meu Bispo tinha dito oficialmente que ele precisava de mim por causa da divisão provocada pelo grupo da Renovação Espiritual que se pentecostalizou e acabou saindo da Igreja Metodista e formando a Igreja Metodista Wesleyana levando diversos pastores. Com isso ele ficou com carência de Pastores e eu tinha que voltar pro Rio de Janeiro para assumir um pastorado lá. Isso oficialmente. Porque, na verdade, havia a suspeita de que eu era “comunista”. E como eu era “comunista” não podia, naquele momento, assumir. Eles “muito sabiamente”, por assim dizer,  me substituíram pelo Anivaldo Padilha...

Voltei, então, para o Rio de Janeiro e comecei a pastorear. Mas nesse momento, a crise entre a Faculdade de Teologia e a direção da Igreja Metodista e a crise entre a liderança da Juventude Metodista e a liderança da Igreja Metodista estava num ponto muito agudo. Quando eu fui para os Estados Unidos, grande parte dos alunos da Faculdade de Teologia não se interessava por política. Quando voltei, um ano e pouco depois, a faculdade era um caldeirão de discussões políticas. O pessoal já estava envolvido com a União Estadual de Estudantes aqui de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre. O setor conservador da Igreja estava ligado aos mesmos militares que ajudaram a fazer a repressão na Confederação Evangélica do Brasil. Esses militares também influenciaram a Igreja Presbiteriana. A Igreja Presbiteriana fez a limpeza da área antes da Igreja Metodista. Esta, a partir de 67, 68 vai tomar as mesmas decisões que os presbiterianos, tomaram para expurgar esse pessoal da Igreja. Para agravar a situação em 67, os estudantes da Faculdade de Teologia que se formaram escolheram Dom Helder Câmara como paraninfo. A eleição de Dom Helder Câmara como Paraninfo e o fato dele ter aceito, criou uma hecatombe dentro da Igreja Metodista. O Bispo Presidente se recusou a participar da Cerimônia de Formatura. E por uma dessas terríveis ironias, o Bispo que acabou aceitando participar da cerimônia de formatura foi exatamente o Bispo que esteve envolvido na delação do Anivaldo Padilha e de outros jovens evangélicos aqui em São Paulo.

Então vem a crise da Faculdade de Teologia, 50 alunos são expulsos em 68, em pleno movimento de revolta da juventude na França, Alemanha, Brasil e por aí fora. A situação fica muito grave dentro da Igreja. Vem o fechamento da Faculdade de Teologia em 68. Mas é interessante notar que, nesse momento, meu envolvimento era mais diretamente com os estudantes de Teologia.

 Eu fui nomeado pro interior do Rio de Janeiro, para Cabo Frio, depois de 69. E é lá que vou ser encontrado pelo pessoal que estava envolvido com o Centro Evangélico de Informação que, posteriormente passou a ser Centro Ecumênico de Informação. O grupo que tinha sobrevivido à repressão ao setor de Responsabilidade Social da Confederação Evangélica do Brasil . Jether, Waldo, Carlos Cunha, Domício. Mas nesse momento, em 69, a Mocidade Metodista já tinha muita gente envolvida com organizações que, posteriormente, seriam organizações clandestinas. No princípio não eram necessariamente clandestinas mas, depois foram pra clandestinidade. O fato de ter sido criado junto de uma família que transpirava política, inspirada em grande parte pela tradição do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que defendia uma aliança nacionalista, aliança operário-burguesa, me fez olhar com muita desconfiança para o que acontecia na Igreja, assim também aconteceu com meus irmãos. Quando li, na casa de um amigo, lá nos Estados Unidos o livro “Revolução na Revolução” do Régis Debray, eu me disse: Isso aqui não vai dar certo! Isso aqui não vai dar certo!! Então, quando volto para o Brasil e líderes da Mocidade Metodista já estão envolvidos com organizações que depois vão pra clandestinidade, eu não me entusiasmei, em função de minha formação anterior. E isso ocorre tanto comigo como com os meus irmãos. Os meus irmãos que também eram líderes da Mocidade Metodista, não vão pra essas organizações. Mas, nesse momento, eu começo gradualmente me afastar da influencia do Partidão, coisa que não aconteceu com meus irmãos. Talvez um pouco pela nova Teologia que estava em processo de formação. A questão da Teologia da Libertação, as reuniões do Conselho Mundial de Igrejas, as Conferências sobre Igreja e Sociedade que a gente ia lendo

Então, comecei a colaborar com o CEI, ajudava o Domício e o Carlos Cunha a montar o boletim. Em grande parte eu lia as publicações ecumênicas que a gente recebia.. Mas ao mesmo tempo o CEI nessa época, por causa dessa relação com grupos católicos, começou a fazer alguns Encontros de Formação. Foi quando a gente começou a dar assessoria também ao pessoal que começava a organizar as Comunidades Eclesiais de Base na Igreja Católica. Mas eu estava em Cabo Frio... E nesse momento, por volta de 72/73, no auge da repressão, começa haver alguns movimentos, inclusive no próprio Sistema de Segurança Nacional da Ditadura, de discussão sobre o processo da redemocratização do país. Aí a gente começa a perceber que talvez tenha chegado o momento da gente sair da semiclandestinidade em que nos encontrávamos, por que o CEI era apenas um boletim. Mas, por trás dele a gente fazia reuniões, cursos de formação.

Nesse período, em termos pessoais, eu já estava participando de encontros do pessoal do movimento ISAL (Igreja e Sociedade na América Latina). Desses, o mais marcante pra mim foi o que tivemos, às vésperas do golpe militar no Chile, em setembro 1973. Foi um encontro onde estavam praticamente os principais mentores da “Teologia da Libertação.. De todos só um não foi, Rubem Alves. O Rubem Alves já estava também se afastando.  Foi quando o CEDI toma a decisão de que eu teria que dar meio tempo lá. E aí o meu relacionamento ecumênico vai aumentar muito.

– Nesse período já está bem clara e consolidada a postura favorável ao governo militar por parte das Igrejas. Como foi isso na Igreja Metodista?

– Não. Isso aí a gente vai ter que voltar a 64. Na Igreja Presbiteriana a repressão foi imediata ao golpe.

– Não, começou antes do Golpe. Eu fui “convidado” a deixar o Seminário em 1962.

– Na Igreja Metodista havia uma divisão. Essa divisão ficou muito clara em 65 no Concílio Geral e na crise da Faculdade de Teologia em 69. A gente tem que se lembrar do seguinte: toda a formação de evangélicos no Brasil sejam presbiterianos, metodistas e batistas, essas três  Igrejas, na sua maioria os missionários vieram do sul dos Estados Unidos. Na bagagem doutrinária missionária estava o conceito de Igreja espiritual, que é um conceito que foi formulado pelos protestantes do sul dos Estados Unidos após a derrota na Guerra Civil Norte Americana entre 1861 e 1865. Essa ideia da igreja espiritual dizia que a igreja evangélica não tem nada a ver com política. Evangélico não se mete em política. Tanto que quando Guaracy Silveira, um pastor metodista, foi eleito o primeiro deputado evangélico do Brasil,  eleito em São Paulo após a Revolução de 1932, ele teve que se afastar do ministério pastoral, porque não se pode misturar política com religião. Quando na década de 50, talvez até impulsionado pelo Movimento Ecumênico, começa a haver a discussão sobre a responsabilidade social dos evangélicos, esse setor que defendia a separação, a distância da política, vai mostrar a sua verdadeira face. Ao dizer que não se envolvia com política, de fato estava apoiando o status quo. E começam a perceber que as pessoas que estão envolvidas com as discussões do Setor de Responsabilidade Social estão questionando o sistema de poder. Então, em 1964 quando acontece o golpe militar um setor das Igrejas que era politicamente conservador apoiando o status quo, mostra sua verdadeira face. Na Igreja Metodista isso vai acontecer um pouco depois. E nos batistas também. Nos batistas menos, até porque os batistas não estavam debaixo da influência da Confederação Evangélica porque eles nunca fizeram parte dela. Mas setores da igreja batista se deixaram ser influenciados. Temos o caso do pastor Davi Malta, assim como o leigo Aurélio Vianna que foi mais tarde eleito deputado. O Aurélio Viana era do Partido Socialista. Assim como o Guaracy Silveira Mas eles são minoria. Na Igreja Metodista essa repressão vai acontecer. É interessante notar que alguns dos líderes leigos da Igreja metodista eram ligados aos setores militares. E alguns desses militares eram líderes também nas suas Igrejas como o General Celso Dalton Santos, da Igreja Metodista de Vila Isabel. Em S. Paulo, na Igreja Batista de Vila Mariana tinha gente como o general Ednardo, que foi comandante do II Exército, pessoal desse nível. Também a mesma coisa na Bahia. Em Belo Horizonte o Coronel Panisset era Diretor do Colégio Isabela Hendrix e no Recife, a família Gueiros era muito forte.

Por outro lado os setores nas igrejas que se opunham à ditadura não tiveram outro recurso senão recorrer a contatos fora do Brasil. A buscarem apoio e respaldo fora do Brasil. No caso da Igreja Metodista foi muito importante o apoio de setores da Igreja Metodista Unida nos Estados Unidos, em questionar a repressão interna na Igreja Metodista. Segundo um dos Bispos que participaram do fechamento da Faculdade de Teologia, eles fizeram isso porque políticos metodistas em São Paulo teriam sido procurados por setores da repressão dizendo que se a Igreja não fizesse o trabalho dela eles fariam o trabalho deles. Então, quer dizer, havia uma linha direta entre os setores conservadores da Igreja com os setores militares. Eu, pessoalmente, vivi duas situações que expressam bem essa ligação dos setores militares com lideranças da Igreja. No processo de solidariedade das igrejas fora do Brasil com a luta contra a ditadura aqui no Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos enviou uma Delegação ao Brasil presidida pelo Bispo Jaime Armstrong que era um Bispo Metodista, se não me engano de Indiana. E ele reuniu-se com esse grupo do Conselho Nacional de Igrejas e a liderança da Igreja Metodista no Rio de Janeiro e eu fui convidado a participar dessa reunião. Nessa reunião havia pessoas que negavam a violação dos Direitos Humanos e insistiam tanto nisso que em algum momento alguém falou alguma coisa lá e eu dei uma gargalhada. Só haviam metodistas nessa sala, brasileiros e a Delegação do Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos. Posteriormente, eu ensinava Moral e Cívica no Colégio Bennett e ensinava inglês no Colégio da Companhia Nacional de Álcalis lá no Arraial do Cabo. Eu ensinava inglês nessa escola por que não haviam professores de inglês lá em Cabo Frio. Naquela ocasião, em 1970, Cabo Frio era uma cidadezinha de 10 mil habitantes, não o que é hoje. E aí, como eu sabia algum inglês, tinha estudado nos Estados Unidos, me convidaram e eu fui ensinar. Dando aula no Bennett e nesse Colégio. O setor do SNI ligado ao Ministério da Educação em 1972 resolveu enviar, tanto para o Colégio Bennett como para o Colégio da Companhia Nacional de Álcalis uma ordem para que eu fosse demitido como subversivo. Quando o Diretor do Bennett me chama, que era meu amigo pessoal, dizendo: Eu tenho que demitir você. Você não pode permanecer ensinando. Eu tenho uma ordem aqui do setor de Segurança do Ministério da Educação para que você seja demitido. Eu fui, então, reclamar com o Bispo Almir dos Santos, que eu era Presbítero da Igreja Metodista, nomeado por ele,  como é que iam me colocar para fora desse jeito....  Aí o Bispo disse que não tinha outro jeito. Fui demitido. Exigi uma carta, que até hoje eu guardo em meu poder, com as razões pelas quais eu fui demitido. Na Escola Nacional de Álcalis a mesma história. Como isso foi acontecer? Agora a gente sabe. No encontro da Comissão da Verdade lá no Rio de Janeiro, o reverendo Mozart Noronha levou um documento do DOPS onde tem o depoimento de um pastor metodista contra mim. E segundo algumas informações,  aquela gargalhada que eu dei, naquela reunião está devidamente relatada. Então quer dizer, haviam setores da igreja que eram ligados diretamente aos órgãos de repressão. As igrejas foram agentes de repressão, não somente apoiaram, não somente justificaram, mas foram agentes da repressão. Agora, por outro lado, outros setores das igrejas, especialmente da Igreja Metodista, da Igreja Presbiteriana Unida, da Igreja Luterana (IECLB), da Igreja Episcopal Anglicana e da Igreja Católica Romana participaram dos esforços de formação da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço) que se transformou num instrumento muito importante em defesa dos Direitos Humanos no Brasil, de combate à ditadura. Essas mesmas Igrejas também se uniram para formar o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. O que eu digo é o seguinte, as Igrejas estavam tão divididas quanto o país estava dividido. A ditadura militar, ainda que tenha tido uma forte influencia dos órgãos de segurança do governo norte-americano, isso que todo mundo já sabe, a verdade é que as ditaduras só puderam agir do jeito que agiram porque setores significativos das sociedades de Brasil, Argentina, Chile, Bolívia e adjacências, setores nacionais foram parte desse processo. Dentre esses setores nacionais, estão as igrejas evangélicas.

– Paulo, eles se mantinham conservadores e a favor da ditadura militar mesmo com o terror da repressão, com notícias de pessoas que eram torturadas e vinham, e depois davam seu depoimento, eles se mantinham radicais assim?

– Sim. Diziam: Eles estão sendo perseguidos não porque são evangélicos, eles estão sendo perseguidos porque são comunistas. Porque são subversivos. E comunista e subversivo deve ser tratado dessa forma. Essa era a justificativa, era a racionalização da repressão. Eles são subversivos, eles são comunistas. Então o sistema tem todo o direito de reprimir. Se eles fossem evangélicos, verdadeiramente evangélicos, eles não estariam fazendo essas coisas. Eles não estariam envolvidos fazendo essas atividades. Eles são lobos vestidos de ovelhas.

 




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