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Entre livros proibidos e a chegada dos calouros

Daniela Yabeta

Professora do Departamento de História (UNIR-PVH)

Editora do Observatório Quilombola

Entre os dias 10 e 14 de fevereiro de 2020, ocorreu a Semana de Acolhimento – Turma 2020.1, do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) na cidade de Porto Velho.

Em parceria com Fernando Roque, Rogério Link – professores do departamento de História, e Maria Luiza Souza (aluna do 7º período), tive a oportunidade de compor a comissão organizadora do evento. Além da alegria de receber os calouros, o objetivo da Semana de Acolhimento foi apresentar aos novatos o corpo docente, parte da estrutura administrativa da universidade e claro, promover um “tour” pelo campus na companhia dos alunos veteranos.

Na programação, estavam previstas apresentações de grupos organizados pelos alunos como o Centro Acadêmico de História (CAHIS) – que na atual gestão homenageia a professora Yêdda Borzacov, o Coletivo Bailarinas e a Atlética Lendária.

Além dos alunos, os professores do departamento de História também tiveram a oportunidade de apresentar seus grupos de pesquisa. O professor Valdir Souza apresentou o Centro Interdisciplinar de Estudo e Pesquisa do Imaginário Social (CEI) e a Revista Labirinto, periódico que “visa a divulgação, o intercâmbio de informações e o incentivo à pesquisa utilizando como referencial os estudos teóricos sobre o imaginário, cultura e educação”. O professor Antônio Rabello (o Tuninho!) – atual chefe do departamento de História, apresentou o grupo de pesquisa JURUPARI, que tem como objetivo pesquisar sobre a cultura amazônica em toda a sua diversidade, com destaque para os temas relacionados à memória e ao patrimônio de Rondônia. A professora Lilian Moser apresentou o Centro de Documentação e Estudos Avançados sobre Memória e Patrimônio de Rondônia (CDAMPRO). E por último, o professor Marco Teixeira apresentou o Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares Afro e Amazônicos (GEPIAA), o qual eu tive a honra de ser convidada para atuar como vice-líder.

Durante toda a minha formação, sempre me dediquei a pesquisas sobre o Rio de Janeiro. A mudança para Rondônia me despertou o interesse sobre as experiências de escravidão e liberdade na Amazônia. Exatamente quando eu passava por essa transformação, os professores Flávio dos Santos Gomes (UFRJ) e Lilia Schwarcz (USP) – lançaram em 2018 o “Dicionário da Escravidão e Liberdade”, uma coletânea de verbetes sobre a temática que logo tornou-se obra fundamental na estante de todo historiador. Entre os verbetes, um é dedicado especialmente a “Amazônia Escravista”. Destacarei aqui, uma um pequeno trecho: “A Amazônia é sem dúvida a área escravista menos conhecida no Brasil. Como contamos com mais imagens provenientes do trabalho escravo no Nordeste açucareiro e/ou no ouro das Minas Gerais, muitas vezes temos a impressão de que ela nunca existiu naquela região. Porém, os registros são abundantes e já há uma historiografia consolidada, sobretudo em programas de pós-graduação em História nas cidades de Belém, São Luís, Manaus, Macapá e outras” (p.106).

Para melhorar a conversa, assim que cheguei em Porto Velho o departamento estava fechando a proposta do Mestrado em História da Amazônia e eu entrei no final do segundo tempo na linha de pesquisa Populações, Etnicidades e Cultura: usos e representações, com uma proposta de disciplina sobre História Atlântica e os impactos na Amazônia escravista. Em dezembro de 2019, tivemos a resposta da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o mestrado foi aprovado! Uma conquista histórica da qual eu tenho muito orgulho de fazer parte!

Mas por qual motivo eu estou contando tudo isso? Bem, eu quis trazer para a coluna dessa semana coisas legais que estão acontecendo no Departamento de História. Nos últimos dias, Rondônia foi destaque nos noticiários de todo o Brasil por conta de um ofício do Secretario de Educação – historiador e ex-aluno da UNIR, com uma lista de livros que deveriam ser recolhidos das escolas. Entre os autores, temos Machado de Assis, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Euclides da Cunha, Mario de Andrade, Carlos Heitor Cony, Edgar Allan Poe, entre outros. Sem dúvida é uma lista excelente, vou deixar aqui o link como sugestão de leitura (sim, em negrito e sublinhado!).

Porém, enquanto muitos mostravam-se indignados, outros tantos se calaram diante do ocorrido. O famoso, passar pano. A sensação de patrulhamento e do que a gente pode e não pode comentar me assombrou por alguns dias.

Daí, ao chegar na UNIR para a Semana de Acolhimento e dar de cara com as capas dos livros censurados espalhadas pelas paredes do bloco do curso de História fez meu coração voltou a pulsar de alegria, não mais de pânico.

Com mais esperança, deixo aqui para os calouros, uma canção de Gil e Caetano chamada “Divino Maravilhoso”. Escolhi uma versão com a IZA para mostrar que eu estou acompanhando as novas revelações da música brasileira. O importante é estar “atento e forte”!

Que comecem os jogos!

Daniela Yabeta

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