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UM POUCO DE HISTÓRIA: A Baía de Camamu

Por Daniela Yabeta

Localizada a cerca de 178 quilômetros de distância por via marítima da cidade de Salvador, a baía de Camamu é banhada por inúmeros rios e abriga a vila de mesmo nome, criada por carta régia de 22 de maio de 1693. No começo do século XIX, a população da Vila de Camamu era de 4060 habitantes e sua economia era muito modesta, produzindo uma pequena safra de cacau e farinha de mandioca para exportação. Em 23 de julho de 1761, ao sul da baía de Camamu, foi criada a vila de 1761, ao sul da baía de Camamu, foi criada a vila de São Sebastião de Maraú, construída às margens do rio de mesmo nome com 1.600 habitantes. Abaixo de Maraú estava Barra do Rio de Contas com 3.612 habitantes. Considerada uma das mais importantes artérias do sertão sul da Bahia, a vila de Barra do Rio de Contas especializara-se, desde o século XVIII, no cultivo da farinha de mandioca , exportando-a para Salvador e o Recôncavo.

Enquanto em Salvador os navios não paravam de desembarcar africanos destinados às fazendas do Recôncavo, que produziam açúcar em grande escala para exportação, a região sul da Bahia se especializou nos produtos voltados para o mercado interno. Era preciso alimentar todo esse povo e a mandioca era um dos principais itens da dieta alimentar dos escravos. Como a produção da mandioca requeria muita mão-de-obra, a presença de escravos sempre foi importante na região de Rio de Contas. Prova disso era a existência de quilombos desde o século XVII, sendo o mais famoso o quilombo Oitizieiro, destruído em 1806.

De fato, aproveitando uma região despovoada, pouco guardada e de difícil acesso, os escravos formavam diversos mocambos em Camamu, Cairu e Ilhéus desde o século XVII. Por volta de 1696 foi criado na vila de São Jorge de Ilhéus o posto de “capitão-mor das entradas dos mocambos e negros fugidos”, indicativo claro da importância dos quilombos na região. Em 1722, o governo de Lisboa ordenou que fosse destruído, na mesma vila, para evitar um novo Palmares, um reduto de escravos com mais de quatrocentas pessoas. Sobre Barra do Rio de Contas, encontramos notícias de quilombos desde quatro anos após a fundação da vila, em 1736. O Oitizieiro não fora, portando, uma exceção.

Ainda assim, chama a atenção no Oitizieiro suas características peculiares: os negros fugidos que viviam no quilombo (aproximadamente trinta pessoas), trabalhavam para coiteiros, homens livres e escravos que os dirigiam. Um exemplo claro de que nossa ideia de quilombo não condiz com a realidade que esses homens viviam. O que não o tornava, no entanto, menos ameaçador para a ordem escravocrata na região. Escravos de outras fazendas fugiam para o quilombo, não para deixar de ser escravos, mas porque procuravam uma relação de trabalho negociada e melhores condições de vida, mesmo que dentro da própria escravidão.

Em maio de 1806 o governador da Bahia enviou uma exploração para destruir o Oitizieiro, só que quando chegaram no quilombo todos já haviam fugido, os únicos presos foram o pardo Joaquim e sua mulher. Acusado de também ser um dos coiteiros que dirigiam o quilombo, Joaquim foi açoitado e depois vendido enquanto sua mulher foi devolvida ao seu antigo dono.

Autoridades coloniais tentaram constantemente destruir tais comunidades formadas por fugitivos escravos, mas deparavam-se com a capacidade dos quilombolas ressurgirem depois de cada batalha, não apenas sob uma, mas sob diversas formas de organização, às vezes mais fortes e aparentemente invencíveis.

FONTE: Boletim Territórios Negros, v. 7, n. 31, set./nov. 2007

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