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Devotos de são Cosme e Damião denunciam episódios de preconceito no RJ

Número de casos de preconceito na data de São Cosme e Damião é maior na Baixada Fluminense, segundo Conselho de Defesa da Liberdade Religiosa.


Por Yasmim Restum


O Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa no Rio registrou esse ano 76 casos de preconceito religioso. Na semana em que católicos e religiões de matriz africanas celebram São Cosme e Damião, o órgão alertou que em anos anteriores foram registrados casos ocorridos com devotos, inclusive enquanto recebem ou distribuem doces.

De acordo com o professor e presidente do Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa, Marcio de Jagum, ainda não há uma estatística específica sobre os casos de intolerância nos dias 27, quando adeptos de religiões de matriz africana celebram a data, ou 26 – dia de Cosme e Damião para os católicos. Ele afirma, porém, que as denúncias são mais comuns na Baixada Fluminense.

“Imaginar que o Brasil é um país tolerante, que abraça, que congraça, que reúne e que acolhe todas as religiões é um mito. Os casos de intolerância aumentam em relação às religiões de matriz africana porque há um componente a mais: o preconceito étnico-religioso”.

Márcio explicou ao G1 que a maioria dos relatos que chegam à Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI) envolve preconceito por parte de religiosos neopentecostais. A maior parte das denúncias durante a festividade são, em sua maioria, de religiões como candomblé e umbanda.

Segundo o órgão foram totalizadas este ano mais de 600 ações de atendimento para denúncias relacionadas à liberdade religiosa, além dos 76 casos registrados. As denominações mais atingidas são as religiões de matriz africana, que contabilizam 74% dos registros acerca da temática na secretaria.

O tipo de violência mais comum é a discriminação (24%), em segundo lugar estão a agressão verbal, difamação e institucional, ambas com 8%.

Religiões vítimas de intolerância no RJ A maioria dos casos (51%) aconteceu na capital fluminense Candomblé: 28Umbanda: 22Evangélicos: 3,9Católicos: 2,6

Candomblé
Valor em porcentual de Janeiro a agosto de 2018 28 Fonte: Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI) Fora das estatísticas, a turismóloga Kenia Gallo, de 22 anos, e as irmãs sofreram intolerância religiosa na data e na infância já foram proibidas de brincar com crianças de outra religião, além de terem sido ofendidas por adultos da vila onde moram, no Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro. Hoje em dia, mudaram o local de distribuição de doces para evitar problemas.
“Distribuíamos na vila onde moramos desde criança e algumas vizinhas falavam que era doce do diabo, que iríamos passar mal e que meus pais eram macumbeiros. Não tinha nem doce, nem brincadeira para as crianças que não podiam ficar com a gente. Agora, preferimos distribuir na estrada porque só pega quem quer. Mas, mesmo assim, eu esperava uns dias e oferecia de novo, dizendo para as amigas da vila que era do santo”, divertiu-se.
Para o professor, é imprescindível ir além da distribuição dos doces e compreender que os santos Cosme e Damião eram conhecidos pela caridade e pelo amor. O respeito e a celebração da criança que há em cada um devem ser o foco da data.
“Todos podemos contribuir a favor da liberdade religiosa, e não precisa concordar ou praticar, basta entender que existem diferenças e que elas têm que ser respeitadas.É importante observar o que está por trás da ritualística. Em um momento que nossa sociedade está tão intolerante, tão hostil, tão agressiva, poder celebrar a criança, a pureza, a infantilidade e a doçura é resgatar um pouco da criança que mora dentro da gente, adoçar a boca e fazer sorrir”.

FONTE: Portal G1 em 27/09/2018

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