Nos dias 26 e 27 de abril, foi realizado o I Intercâmbio de Promoção do Turismo Comunitário Quilombola, que reuniu representantes de seis comunidades quilombolas das regiões da Costa Verde e da Serra Fluminense em Angra dos Reis, Rio de Janeiro. O evento, promovido por KOINONIA em colaboração com a Acquilerj (Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro), contou também com a participação de Pedrina Belém, quilombola da região do Baixo Sul da Bahia, para apresentação da história de mais de dez anos de Turismo Comunitário no Quilombo Jatimane, situado no município de Nilo Peçanha (BA). A ideia central foi promover o intercâmbio de saberes entre os quilombos que demonstraram interesse em desenvolver atividades turísticas ou correlatas.O objetivo foi mapear as oportunidades dos territórios quilombolas do Rio de Janeiro para acolhida de visitantes e geração de renda para as comunidades. Os seis quilombos representados no evento já desenvolvem alguma atividade de recepção de visitantes como fonte de renda. Alguns de forma mais estruturada e outros em fase de amadurecimento das possibilidades para oferta de roteiros, atrações e estada dentro da proposta de um acolhimento tradicional que valorize os aspectos da cultura e da hospitalidade quilombola. Todos tinham em comum o desejo de manifestar sua identidade e gerar renda através do turismo comunitário. Estiveram presentes representantes dos quilombos Fazenda Espírito Santo (Cabo Frio), Boa Esperança (Areal), Santa Rita do Bracuí (Angra dos Reis), Alto da Serra (Rio Claro), Ilha da Marambaia e Santa Justina e Santa Isabel (Mangaratiba).
A metodologia de mediação foi desenvolvida pelas coordenadoras do encontro: Pedrina Belém, mobilizadora comunitária de KOINONIA na região do Baixo Sul da Bahia, e Amanda de Souza, mobilizadora comunitária de KOINONIA na Costa Verde do Rio de Janeiro e liderança do Quilombo Santa Rita de Bracuí. As comunidades presentes foram convidadas à reflexão sobre os aspectos do território com potencial turístico, assim como conduziram o mapeamento de pessoas, estabelecimentos, produtos e serviços que podem contribuir com a atividade turística de acolhida tradicional. Foram identificados possíveis roteiros de experiências, incluindo hotelaria, gastronomia, manifestações culturais e pontos de visitação com valor ambiental, reiterando a abundância da cultura quilombola local.
Pedrina Belém conta que o Turismo Comunitário é hoje uma atividade importante para a geração de renda do Quilombo Jatimane, que reúne 140 famílias e cerca de 500 habitantes. “O caminho até o estágio atual de maturidade da atividade turística no Quilombo Jatimane foi construído de dentro para fora a partir do desejo de visibilidade para nossos saberes e fazeres. Além do turismo, temos sustento nas atividades de pesca e extração de piaçava”, explica. “Mas, o turismo foi fundamental para a retenção dos talentos mais jovens no território, que não se identificavam com as atividades rurais. A perspectiva do turismo trouxe uma série de atividades de serviços, como comunicação e recepção de visitantes, que ampliaram as possibilidades de engajamento nas atividades locais”.
Amanda destaca que a partir de um levantamento inicial foram convidados quilombos que tinham afinidade com práticas do turismo como acolhimento de visitantes, culinária regional e fazeres artesanais. “No entanto, essa foi uma sensibilização para explorar o potencial de cada um, mapeando oportunidades entre as pessoas interessadas. Ainda não sabemos se todas as comunidades presentes escolherão trabalhar de fato com a atividade turística. Algumas já são mais vocacionadas para o turismo, como o quilombo de Santa Justina e Santa Isabel, que já promovem festivais culturais e gastronômicos. Vamos ver agora quem de fato vai escolher usar os recursos e o treinamento do projeto Comércio com Identidade para desenvolver esta área. A escolha é sempre da comunidade, só provocamos uma reflexão qualitativa sobre as oportunidades”.O encontro faz parte das atividades do projeto Comércio com Identidade que visa o fortalecimento das economias locais por meio da valorização da identidade cultural das comunidades negras tradicionais no Rio de Janeiro e na Bahia. São comunidades que resistiram historicamente ao racismo e à degradação de seus territórios negros. Todas inseridas no bioma Mata Atlântica, essas comunidades mantiveram e desenvolveram práticas produtivas que conciliaram a sua reprodução social e a preservação ambiental. O intercâmbio entre as comunidades quilombolas das duas regiões faz parte de uma estratégia de construção coletiva de saberes a partir do compartilhamento de histórias e fortalecimentos de laços entre comunidades quilombolas para além do recorte geográfico.
O projeto Comércio com Identidade avança para o estágio de definição pelos quilombos da atividade que desejam alavancar com os recursos alocados. O próximo passo após a escolha da atividade é a compra de equipamentos necessários e o recebimento de um aporte financeiro definido a ser gerido pela própria comunidade para desenvolver a atividade escolhida. KOINONIA se posiciona como facilitadora com levantamento de interesses, estudo de viabilidade com a comunidade, apoio operacional inicial, transferência de recursos financeiros e mentoria. Estiveram presentes no evento, Rosa Peralta, Coordenadora do projeto e responsável pelas Relações Institucionais de KOINONIA, e Rafael Soares de Oliveira, Secretário de Planejamento e Cooperação de KOINONIA, além da visita de representantes da Acquilerj.