Márcia Evangelista
Com profunda tristeza registramos o falecimento do Rev. Carlos Alberto C. da Cunha, ocorrida ao meio-dia do dia 05 de janeiro do ano que se inicia. Sua partida enluta o movimento ecumênico nacional e internacional e significa uma perda inestimável de impossível reparação. Aos 84 anos de uma vida totalmente identificada com as propostas mais legítimas do sonho ecumênico o “Cunha”, como era carinhosamente chamado por todos e todas que gravitavam ao seu redor, veio a falecer das seqüelas resultantes de um acidente doméstico.
“O Cunha, que também é Carlos”, como ele às vezes gostava de assinar, se coloca entre nós como um cristão acima de qualquer suspeita. Sua trajetória de vida lhe permitiu vivenciar a fé cristã em quatro instituições eclesiásticas diferentes. Foi católico, congregacional, presbiteriano da IPB e pioneiro na constituição da Igreja Presbiteriana Unida, da qual foi Moderador nacional no final da década de 1980. Poeta e literato, com pena exímia e paixão teológico-política, destacou-se por décadas como produtor e editor de textos na “Confederação Evangélica do Brasil”, no boletim CEI, no “Centro Ecumênico de Documentação e Informação – CEDI” e em “KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço”, entidades que ajudou a criar ao longo dos anos. Estas experiências forjaram nele a forte convicção da relatividade e precariedade de nossas formas institucionais que, na maioria das vezes, mais escondem do que revelam a essencialidade do Evangelho. Daí seu ecumenismo profundo e sua preocupação em visitar sempre todas as tradições religiosas para delas extrair os tesouros da fé vivida em situações, formas e condições diferenciadas, como expressões da multiforme variedade do gênio humano em sua busca pelo Transcendente.
Poeta de grande sensibilidade, músico e criativo escritor, “o Cunha que também é Carlos” sempre nos surpreendeu com seus textos prenhes de fino humor e muita seriedade teológica, embora ele mesmo nunca tenha dado muita importância a este seu dom, produzindo muito aquém de sua enorme capacidade de assimilação e processamento das múltiplas dimensões da experiência humana. Sua condição de “ex-cêntrico”, isto é, de alguém não centrado em si mesmo, foi responsável por isso. Não é sem razão que seu verso preferido era aquele da Cecília Meireles: “Somos sempre um pouco menos do que pensávamos, raramente um pouco mais.”
Mas, como diz o poeta mineiro, o “Cunha” não morreu… encantou-se, para continuar a nos acompanhar, de um outro jeito, pelos muitos caminhos ainda a serem trilhados em nossas vidas. Como nosso “amigo de sonhos” e “sacerdote da existência”, como o definiu Rafael de Oliveira, diretor de KOINONIA, ele se ausentou fisicamente para ressuscitar em nossa memória, com o testemunho de sua vida, e nos instigar a seguir em frente na luta incansável de continuar a plantar sinais, por menores e insignificantes que possam parecer, do Reino de amor, justiça e paz, ao qual se devotou de forma completa e definitiva.
KOINONIA se solidariza com seus familiares e toda a família ecumênica nesta hora de dor e espanto.