Por Rosa Peralta, Coordenadora Pedagógica do Projeto Comércio com Identidade e Assessora para Relações Institucionais de KOINONIA. Colaboração de Ana Celsa e Joyce Drumond Linhares, educadoras de KOINONIA.
O mês de setembro foi de grande mobilização das comunidades participantes do projeto Comércio com Identidade na Bahia e no Rio de Janeiro. As equipes de cada estado organizaram feiras na Bahia e intercâmbio no Rio de Janeiro.
Comunidades do Baixo Sul da Bahia participam de feiras em Salvador
A equipe de KOINONIA na Bahia convidou algumas comunidades do Baixo Sul para participarem de duas experiências de comercialização. As comunidades de Dandara dos Palmares, Barroso, Argemiro Mendes, Pedra Rasa, Tapuia, Jetimana e Limoeiro puderam levar seus produtos para a cidade de Salvador.
No sábado dia 28 de setembro, o evento foi a já tradicional Feira da Saúde do terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, ou, em iorubá, Ilê Axé Iyá Nassô Oká. A importância de estar nesse evento se traduz pelo prestígio desse espaço de culto de matriz africana. Situada no Centro Histórico de Salvador, a Casa Branca é um dos terreiros de candomblé mais antigos do Brasil, que deu origem a muitos outros no Brasil. É também o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil (desde 31 de maio de 1984) e foi tombado pelo Iphan em 14 de agosto de 1986. A Feira da Saúde está em sua 22ª edição, contando com o apoio de KOINONIA há muitos anos.
Além de comercializarem seus produtos, as representantes das comunidades negras do projeto CCI puderam participar das outras atividades, como rodas de conversa sobre temas ligados à saúde de crianças e adolescentes
No dia seguinte, 29 de setembro, as comunidades tiveram a oportunidade de expor sua produção no Mercado Iaô, um centro de arte, educação, cultura e de negócios criativos que fica num casarão histórico situado na Península de Itapagipe, em Salvador. Em sua terceira edição, o evento faz parte do Programa Acelera Iaô que, assim como o projeto CCI, também é patrocinado pelo Grupo Carrefour Brasil.
Comercialização e aprendizados
As comunidades do Baixo Sul trouxeram uma grande variedade de produtos: frutas, verduras, mudas, doces, geleias, chocolates e artesanatos de tecido e piaçava, mostrando ao público das feiras de Salvador a beleza e o potencial da produção das comunidades negras rurais dessa região.
Essa experiência de comercialização em mercados já consolidados foi bastante impactante para quem veio do Baixo Sul. Afinal, foi preciso organizar a produção, preparar uma boa apresentação e embalagens para os produtos e pensar nos preços compatíveis.
“Estes espaços são diferentes de onde geralmente eu vendo meus produtos. São eventos que juntam muitas pessoas de vários tipos. A gente também conseguiu ver como as outras barracas funcionavam no jeito de colocar os produtos e na hora de vender”, disse Maria Andrelice, da comunidade de Dandara dos Palmares, município de Camamu.
Para os eventos, foi criada uma planilha para que cada pessoa participante fizesse o seu próprio controle de venda dos produtos. Dessa forma, o grupo pôde visualizar os resultados obtidos e o potencial de renda quando se diversifica os canais de mercado.
“Essa experiência com feiras tem o intuito de colocar as comunidades apoiadas pelo projeto Comercio com Identidade em distintos circuitos de comercialização. O acesso ao mercado das feiras em Salvador também foi um exercício importante para a valorização da produção local e a ampliação do olhar sobre a diversidade alimentícia existente em cada propriedade rural”, comemorou Ana Celsa, colaboradora de KOINONIA.
Após as feiras, o grupo avaliou que a comercialização foi bastante lucrativa, além de ter sido momento importante de aprendizagem sobre outras experiências de comercialização e diversidade de mercados. O grupo levantou também que é preciso melhorar a organização das comunidades para acessar outros mercados.
Oficina sobre políticas públicas abre horizontes
Nos dias 14 e 15 de setembro, a equipe de KOINONIA organizou a oficina sobre políticas públicas que havia sido adiada. O evento ocorreu na Escola Agrícola Municipal Nilo Batista, em Cabo Frio. Por ser realizada numa cidade situada na Região dos Lagos, as comunidades do projeto Comércio com Identidade que participaram foram as mais próximas: Boa Esperança (Areal), Maria Conga (Magé), Prodígio (Araruama), Fazenda Espírito Santo e São Jacinto Campos Novos (Cabo Frio).
Além dessas comunidades, representantes de outros dois quilombos da região aproveitaram a oportunidade para assistir a oficina: Baía Formosa (Búzios) e Sobara (Araruama). O encontro também contou com a presidenta da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (Acquilerj), Beatriz Nunes. A comunidade Fazenda Espírito Santo foi a anfitriã, responsável por organizar o espaço, o cardápio e o preparo das refeições.
As atividades começaram no sábado após o café da manhã. O grupo se reuniu na sala disponibilizada pela escola para o evento. Durante os dois dias, a equipe de KOINONIA e a consultora Carla Siqueira explicaram os principais passos para as famílias acessarem as políticas públicas disponíveis para a agricultura familiar, tais como as diferentes modalidades de crédito do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
A oficina também contou com a participação de um convidado, Ney Aleixo, especialista no Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que apresentou dados atualizados e apontou oportunidades para que as comunidades passem a fornecer alimentos para as escolas em seus territórios. Houve também momentos de trabalho em grupo e até o planejamento de projetos por comunidade, no qual descreveram os insumos, subsídios e contatos necessários com instituições para realizar melhorias que as famílias almejam.
O encontro encerrou no domingo numa visita ao território de Fazenda Espírito Santo.
“Sejam todas e todos bem-vindos à nossa comunidade! Temos muita alegria em receber vocês aqui para conhecerem a nossa história e cultura. A gente tem que se unir, nós temos problemas em comum, mas também podemos buscar saídas coletivas”, disse Regina Soares, presidenta da associação quilombola.
“Estava observando e acho que esse tipo de atividade de levar quilombolas para conhecerem outra comunidade é sempre muito rico. É gratificante para a comunidade que recebe, gera aprendizados para quem visita e, sobretudo, cria uma conexão entre as comunidades”, conclui Andrea Carvalho, coordenadora da Comunicação de KOINONIA.
“Os dias foram de muito aprendizado, saímos daqui animados para iniciar na nossa comunidade uma horta que possamos aplicar o que aprendemos aqui, acessando as políticas públicas. Temos diversas escolas próximas na região que podemos entregar o que produzimos com os incentivos certos. Foi realmente muito positiva a experiência.” relatou Mara, quilombola da comunidade São Jacinto Campos Novos.