A violência contra as comunidades quilombolas continua a desafiar a luta por direitos territoriais, dignidade e pelo próprio direito a vida.
Por Camila Chagas e Rosa Peralta
A violência contra as comunidades quilombolas é parte de uma disputa pouco visibilizada pelas grandes mídias e constante pela terra e pelos territórios ancestrais. Enquanto famílias lutam para preservar sua história seus direitos, e sua identidade enfrentam a ameaças de toda sorte como, fazendeiros, grileiros, empreendimentos e mineradoras. Hoje, relatamos um episódio que reforça a urgência de continuar fortalecendo essas comunidades para que possam viver e usufruir de seus territórios em paz.
Ato de Violência no Quilombo Santa Justina
Na comunidade quilombola de Santa Justina/Santa Izabel, situada no município de Mangaratiba, estado do Rio de Janeiro, mais um ato de violência foi registrado. Desta vez, uma casa foi incendiada. Na quinta-feira, 1º de agosto, o vice-presidente da associação quilombola, Vicente da Conceição, encontrou sua casa completamente destruída pelo fogo
Histórico de Retaliações e Violação de Direitos
Rosa Peralta, assessora de KOINONIA, conversou com Vicente da Conceição e Iosana Mathias, outra liderança do quilombo Santa Justina. Eles relataram a gravidade das perdas e as medidas que estão sendo tomadas para obter proteção e justiça.
Relato da Devastação
Vicente descreve o cenário desolador que encontrou ao chegar em sua casa:
“Na quinta-feira passada, por volta de 10 e pouco da manhã, eu cheguei no sítio e vi que a casa estava toda destruída, queimada. Perdi tudo: telhados, telhas antigas, aquelas antigas do tempo colonial ainda, roupas de cama, colchões, móveis, e materiais de construção que eu estava preparando para obras. Perdi meu banheiro que eu estava fazendo, terminando, também tem uma cozinha de lenha que eu estou terminando, atingiu um pedaço dela ainda. Tudo de estuque e de taipa. O pessoal do mutirão, meus companheiros, fizeram com carinho para mim, e queimou tudo. Eu tenho que reformar tudo. Eu tenho que ir e voltar, ir e voltar, não dá para ficar lá. Sendo que eu tenho que me resguardar de muita coisa. Agora, estou lutando para limpar o local e recomeçar do zero.”
Dificuldades de Segurança e Proteção
Iosana Mathias, diretora da associação quilombola, também compartilhou suas preocupações:
“Pior que a gente fica assim: sem energia, não conseguimos ter uma câmera de segurança. A perícia veio hoje com ele para verificar se foi criminoso, mas não há outra explicação. Não temos energia elétrica, ele não tem fogão a gás, e o fogão a lenha estava apagado. O programa federal de proteção de defensores de direitos humanos esteve aqui ontem. Fizemos um boletim de ocorrência, tiramos fotos e gravamos vídeos. Sabemos que quanto mais avançamos na luta, mais perigoso fica. Quanto mais o processo, na realidade, avança, né? As pessoas pensam: Oba, estamos avançando!”. Mas quem está na cara do gol, como diz o ditado, é que começa a sofrer maiores consequências. Não é fácil, não, mas a gente vai vencendo.
Resistência e Coragem Quilombola
Vicente encerra enfatizando a resistência e a coragem da comunidade quilombola de Santa Justina:
“E nada disso faz a gente desistir. Isso nos dá mais força, mais coragem, mais vida, porque sabemos que não estamos sozinhos.”
Ouça o podcast: