Roda de Diálogo sobre Religiosidade e Justiça de Gênero reúne especialistas e líderes religiosos

A ocasião marcou o encerramento do projeto Fé na Justiça de Gênero e teve como objetivo o diálogo sobre as relações de gênero, o acolhimento e a participação das mulheres e pessoas LGBTs nos espaços de fé.

Mesa da roda de diálogo “Religiosidade e Justiça de Gênero – Como são as relações de gênero, o acolhimento e a participação das mulheres e pessoas LGBTs nos espaços de fé?”.

No último dia 30 de junho, a Igreja Batista Nazareth, localizada em Salvador, abriu suas portas para o evento “Religiosidade e Justiça de Gênero – Como são as relações de gênero, o acolhimento e a participação das mulheres e pessoas LGBTs nos espaços de fé?”. A roda de diálogo, que marcou o encerramento do projeto Fé na Justiça de Gênero, reuniu um painel diversificado de convidados para debater sobre as relações de gênero e a inclusão nos espaços de fé.

Com entrada gratuita, o evento proporcionou um espaço significativo para discutir a interseção entre fé e equidade de gênero. Os convidados, incluindo Caio Brian (Tatá Tafaroji), Raimunda Oliveira, Babalorixá Washington Dias, Reverenda Bianca Daébs, Mãe Alana de Carvalho e Pastor Marco Silas, trouxeram suas perspectivas únicas e experiências ricas, contribuindo para um debate robusto e enriquecedor.


A mediação do evento foi conduzida por Camila Chagas, assessora jurídica e articuladora para o ecumenismo e diálogo inter-religioso em KOINONIA. Ela abriu o evento lembrando sobre o apóstolo Pedro cuja história ilustra o poder do amor, perdão e acolhimento. “Nossos convidados são pessoas que, dentro de seus espaços de fé, cumprem estes mesmos ensinamentos. E é sobre isso que falaremos aqui hoje”, lembrou Chagas.

No decorrer do dia, os participantes discutiram como diferentes tradições religiosas podem contribuir para a promoção da justiça de gênero e o acolhimento de mulheres e pessoas LGBTs em seus espaços de fé.

Marco Silas, pastor da ICM Salvador, compartilhou que prioriza sempre falar em respeito e explicou o motivo. “Quando nós falamos em tolerância, nós pensamos em ter que suportar aquilo que nós não gostamos. Por isso, eu não falo em tolerância. Eu falo em respeito, em dialogar com o outro e não falar do outro. É o que nós estamos fazendo aqui”, concluiu.


“A importância da diversidade, sobretudo nos espaços religiosos, é pra gente fazer a reparação histórica dessas corporalidades transvestigêneres e de pessoas pretas que foram excluídas e marginalizadas na sociedade”, ressaltou Luna Ventura, que assistiu ao evento e complementou o diálogo com o lembrete de que a equidade de gênero só é possível com a garantia de voz e espaço para corporalidades trans, pretas e de mulheres. “Não existe diversidade só com pessoas cis, não existe diversidade só com pessoas brancas. É muito importante que a gente entenda que essa diversidade é fruto do amor, algo que todas as religiões pregam. É através do amor e da aceitação que a gente vai conseguir fazer a reparação histórica desses públicos marginalizados”.


Concluindo as falas do dia, Ana Gualberto, diretora executiva de KOINONIA, compartilhou o quanto os convidados que compuseram a mesa do evento significam para o movimento proposto. “Este é um sonho institucional antigo”, disse Gualberto, que concluiu: “a gente acredita que a nossa liberdade também é um direito humano e que ela precisa ser mantida e afirmada cotidianamente”.

Para ela, é de suma importância que os espaços religiosos sejam lugares de acolhimento e cuidado – como a Igreja Batista Nazareth, que carinhosamente chamou de “igreja terreiro” pelo fato de ser um espaço que garante em seu dia a dia essas características.

“A gente precisa acreditar que os espaços religiosos são lugares de acolhimento e de cuidado. Se eles não são isso, eles não estão cumprindo o papel para o qual são pensados. Então, eu agradeço do fundo do meu coração a todos vocês que estão aqui nesse dia. Enquanto as pessoas negarem a nossa existência, a gente vai falar sobre todas as letras, sobre todos os corpos, sobre todos as ‘corpas’ e sobre as pautas que nos incomodam, porque a gente só se modifica quando a gente fala do que dói”, finalizou.

A roda de diálogo não apenas encerrou o Projeto Fé na Justiça de Gênero, mas também destacou a importância do diálogo inter-religioso e ecumênico na construção de um mundo mais justo e acolhedor para todos.

Texto por Natasha Arsenio, jornalista em KOINONIA. Cobertura fotográfica por Raquel Souza, estagiária de Comunicação em KOINONIA.

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