Por: Projeto Feact
Entre os dias 12 e 15 de outubro, o Centro Mariápolis Ginetta, localizado em Vargem Grande Paulista, município do Estado de São Paulo, foi palco da 5ª Jornada Ecumênica 2023, que após 13 anos sem ser realizada, recebeu mais de 150 participantes.
Com o tema “Eu sou porque nós somos – Ubuntu: Somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros” (Romanos 12:05) – Contra os fundamentalismos e pela justiça de gênero”, o encontro, organizado pelo Projeto Feact, trouxe à tona questões cruciais de respeito, diversidade e inclusão; diretrizes que puderam ser percebidas nas características dos presentes.
Sobre o perfil dos participantes: 36% deles se declaram brancos, 35% pretos e 24% pardos, somando 59%. 1% se declarou amarelo, 1% de origem cigana, 1% mestiço e 2% de origem indígena. A faixa-etária predominante foi composta por pessoas de 25 a 50 anos de idade, que somaram 61%. Pessoas com mais de 50 anos representaram 26%. 58% se declararam heterossexuais e 32% pertencentes à comunidade LGBTQIAP+.
Os estados mais representados foram São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, seguidos por Rio Grande do Sul, Pernambuco, Minas Gerais, Rondônia, Distrito Federal, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Goiás, Ceará, Santa Catarina, Paraná, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amazonas. Participaram também pessoas que vieram da Argentina, Colômbia, Venezuela, El Salvador, Cuba, Chile e Peru, todos unidos para debater e refletir sobre como promover um mundo mais tolerante e inclusivo.
Uma programação diversificada
Durante quatro dias intensos, a programação incluiu místicas, palestras, mesas-redondas, rodas de conversas, exposições e atividades culturais que celebraram a diversidade e pautaram a importância de combater todo tipo de preconceito.
Diretora executiva de Koinonia, uma das organizações que apoiam a realização da Jornada, Ana Gualberto falou sobre o crescimento do fundamentalismo e da importância de promover a Justiça de Gênero
“Reunimos mais de 150 pessoas para falar de um tema que é extremamente importante, que está atravessando todo o mundo, que é o crescimento do fundamentalismo. Estamos juntos para pensar como podemos combater esse crescimento e como podemos fazer para promover a igualdade de gênero. Temos uma expectativa que a partir dessa jornada consigamos articular ações nacionais e com os países da América do Sul, em uma agenda única, na afirmação dos direitos, da justiça de gênero como uma necessidade urgente”, disse ela.
Um dos assuntos levantados como forma de combate à violência religiosa foi a importância de todas as religiões conscientizarem suas comunidades de fé, a exemplo de pessoas evangélicas falarem sobre o assunto em suas igrejas, pois uma pessoa umbandista, candomblecista não teria a abertura de entrar naquele ambiente para abordar a questão.
“Quando o fundamentalismo chega e ataca a Mãe Jaciara, ataca a Iya Márcia, ataca o terreiro delas, é o corpo que sofre. Quando os fundamentalismos chegam e tocam fogo em uma casa de reza, é o corpo que sofre. Quando dizem que eu, como mulher, não tenho direitos, é o meu corpo que sofre”, disse a Pastora Sônia Gomes, integrante da CESE, que apoia o diálogo inter-religioso.
Também presente no evento, a Iyalorixá Jaciara Ribeiro, Filha biológica de Mãe Gilda de Ogum, que faleceu em janeiro de 2000, após ser vítima de diversas formas de violência religiosa e ter o se terreiro vandalizado, falou sobre a importância de participar da Jornada, levando para o espaço as vozes de dezenas de mulheres.
“Eu vim da Bahia muito mexida emocionalmente, porque quando a Mãe Bernadete, do Quilombo Caipora, foi assassinada com 12 tiros no rosto e 10 no peito, eu estava lá no momento. Eu coordeno um projeto de terreiros dentro desse quilombo. então estar aqui hoje é trazer a voz de todas essas mulheres que são violadas de direitos e que têm seus corpos violentados”, disse.
Combate à violência de gênero
A violência de gênero foi debatida tanto nas mesas como em oficinas. Uma delas foi a Oficina Nem Tão Doce Lar, oferecida pela Fundação Luterana de Diaconia. Foi montada uma exposição, representando uma casa, e abordado com os participantes como a violência doméstica se inicia em pequenos detalhes.
Nas mesas redondas e grupos de debate, participantes falaram sobre o fato de meninas e mulheres sofrerem violência e se calarem por causa da religião, sofrerem abusos de padrastos, familiares, mesmo assim se manterem em silêncio, mostrando que a violência contra a mulher e o fundamentalismo religioso são questões similares.
Outras oficinas que pautaram o assunto foram “Fé e Resistência: a luta dos povos amazônidas e do cerrado contra o racismo religiosos em seus territórios”, ministrada pela CESE, que buscou promover a denúncia sobre os avanços dos Fundamentalismos religiosos através de uma escuta qualificada de representantes dos povos da Amazônia e do Cerrado, sobre como tem sido suas experiências de resistência e a oficina “LIBERDADE RELIGIOSA: Religiões em busca da paz”, ministrada por Koinonia, que teve o intuito de abordar a temática do direito à liberdade religiosa nas normas internacionais e nacionais, com ênfase no ordenamento jurídico brasileiro, fazendo interlocução entre fraternidade e direito. A oficina se propôs a pensar caminhos possíveis para a superação da intolerância religiosa a partir da “arte de amar”.
Vozes que ecoarão
O encerramento da Jornada foi marcado por um sentimento de esperança e determinação. Os participantes saíram com a certeza de que suas ações individuais podem contribuir para um mundo mais justo e inclusivo.
A Jornada Ecumênica 2023 deixou um legado duradouro, inspirando todos os presentes a continuar a busca pela unidade e pela justiça, mostrando que todas as bandeiras precisam ser levantadas e que, juntos, somos realmente mais fortes.
Veja algumas imagens da 5ª Jornada Ecumênica: