História da comunidade do Barroso

Por Cosmiana Bispo em parceria com Ana Célia

Ah! Lugar abençoado

Terra de trabalhador

Vou contar essa história

Com muito orgulho e amor

No início tudo era mata

Bichos, águas e riquezas naturais

Certo dia homens guerreiros

Decidiram lutar por seus ideais

Trabalhar nessa terra de

Madeiras e matagais

Achou a terra boa

Disse aqui eu vou ficar

Carregando uma semente

Na esperança de plantar

Pra sustentar suas famílias

E da escravidão se libertar

Por volta de 1802

Quando isso ocorreu

Com muita felicidade

Ao divino agradeceu

Plantaram cana, café, cacau

Mandioca, dendê e abacaxi

Muita diversidade

Que se via por ali

Daí virou uma terra

Que tinha diversidade

E também muita fartura

Farinha, mandioca

Azeite de dendê

E até a rapadura

Isso tudo era trocado

E vendido para toda criatura

Sem falar da caça e da pesca

Que com fartura encontrou

Foi aí que a ganância

Dos coronéis se despertou

Com a mesma estratégia

Em escravos novamente

Os tornou

Tomando suas terras

Alegando todo dia

Que era troca de favor

E da forma disfarçada

Explorando seus trabalhos

Sem direito a sálario

A escravidão continuou

E assim, de forma despercebida

Trocavam seus serviços

Por ferramentas e comidas

Entre jogos de compadres

Comadres de titio e vovô

Foi assim que perderam

As suas terras

De quando aqui chegô

Ainda tinha uma esperança

Pra esse povo trabalhador

Numa terra de barro ruim

Foi assim que eles falou

O seu nome era barroso

Nos disseram o porquê

Diziam ser terra ruim

Ninguém queria saber

Terra que não dá liga

Serve mesmo para quê?

Essa foi a sua forma

Que muito nos ajudou

Por pequeno preço

Nosso povo a encontrou

Um pedaço de terra

Para viver e plantar de novo

Com muita dificuldade

Uma casa pra morar

Lugar pra chamar de seu

E contar a história desse povo

Suas casas eram de taipas

E cavacos para cobrir

Retiradas de madeiras

Encontradas por aqui

Encontraram barro bom

E panelas foi fazer

Potes, purrões e talhas

E telhas para vender

Eita povo inteligente!

Com garra e alegria

Trabalhava o dia inteiro

Na colheita e na farinha

E quando chegava a noite

Ainda tinha energia

Pra fazer uma festinha

E nos dias de santo

Ainda rezava a famosa ladainha

E depois tocava e cantava samba

Até o raiá do dia

Eita povo danado

O povo da alegria!

Entre 80 e 90 o povo se despertou

O movimento religioso

Dos direitos nos contou

Criamos a escola Reunidas Barroso

E seu nome nos coroou

Que unidos somos mais fortes

Pra vencer o opressor

Em 1990 a vassoura de bruxa aqui chegou

Jogou o império por terra

E o pobre se alertou

Uns pensou que era o fim

E outros se animou

Cuidando do que é nosso

E a nossa história mudou

Coronéis que eram rígidos

Ao pequeno se igualou

Pra salvar suas fazendas

Ao pobre se aliou

O ano dois mil chegou

Pois era tão esperado

Os mais velhos já diziam

Que tudo seria mudado

O povo se reuniu

A associação criou

Trabalhos coletivos

De homens e mulheres gerou

Conservando os saberes

Que nosso ancestral deixou

Produzindo agroecologia

Nossa terra melhorou

Mudamos o conceito

Nossa terra tem valor

Tivemos muitas conquistas

Algumas eu vou mostrar

Parcerias, educação e cultura nesse lugar

Isso tudo é avanço e podemos comprovar

Conseguimos energia elétrica

Água e a produção melhorar

Apoio institucional pra fortalecer e mudar

Luta também de um guerreiro

Que não se pode apagar

Nos deixou um legado tão grande

Que ninguém pode matar

Seu Antonho está presente

Por todo esse lugar