Em razão do mês da Consciência Negra, cujo dia se comemora em 20 de novembro, KOINONIA participou e apoiou o evento “Negritude e Espiritualidades”, realizado pelo Ilê Aṣè do Ogun Já, em São Gonçalo (RJ), no último domingo (28).
Lideranças negras de diferentes religiões estiveram reunidas no Ilê Aṣè do Ogun Já para uma tarde de reflexão e comunhão.
“Foi uma honra abrir as portas do Ilê Asè do Ogun Já para mais uma atividade em parceria com KOINONIA. É preciso enfrentar o racismo e a intolerância religiosa. Só poderemos vencer através de ações como esta, que nos conectam com a diversidade do Sagrado”, destacou a Yalorisá Juçara de Yemoja.
Para o Pastor Júlio, da Comunidade Batista de São Gonçalo, que há 15 anos tem trilhado um caminho religioso focado na diversidade, o encontro é uma oportunidade de compartilhar situações comuns a quem possui diferentes maneiras de professar a fé. “Diálogo potente, político e cheio de aprendizado. Quanta descoberta, reconciliação e afeto. Muitas coisas nos unem, e em muitas somos tão parecidos. Dúvidas e medos se disparam nesse encontro. Ambiente de Afeto se estabeleceu. Gratidão por nos provocar e instigar, na busca pela construção de uma cultura de paz em nossa cidade. Paz e bem!”
A ministra de eucaristia da Paróquia São Judas Tadeu, Regina Policarpo, destacou a importância da troca de informações promovida pelo encontro: “Bons ventos soprando! Evento de Fraternidade e paz! Foi uma excelente oportunidade para ampliarmos nossos conhecimentos e nos enriquecermos com informações de nossos irmãos e irmãs de outras denominações religiosas. Extremamente importante para a nossa vida ecumênica e para o diálogo inter-religioso!”
Representando a fé islâmica no evento, o embaixador da Fayda Tijania no Brasil e professor de História, Sidi Abdul Karim Taha, lembrou passagens históricas brasileiras que unem muçulmanos e candomblecistas, ambos vítimas de racismo e opressão.
“Curiosamente, os nossos ancestrais no Brasil (tanto dos povos de terreiro quanto dos muçulmanos) eram africanos que compartilhavam muitas vezes a mesma língua e a mesma etnia. Além disso, o fardo da escravidão e do racismo nos tornou ainda mais unidos quando, por exemplo, na Revolta dos Malês, tivemos guarida na Casa Branca dos nossos irmãos do Candomblé, fato que eu vim a descobrir no último domingo. Só o fato de termos sido assistidos por nossos irmãos de Candomblé durante a revolta, nos coloca moralmente na obrigação de assisti-los nos momentos de dificuldade e perseguição”, explicou.
Sidi também exaltou adeptos de outras religiões presentes, que “fazem a diferença nas suas comunidades, muitas vezes lutando sozinhos contra uma maioria”. “Saí de lá com a certeza de que o conhecimento é uma arma privilegiada contra a ignorância. Por sua vez a ignorância é a mãe do medo que gera a intolerância e a discriminação. Possamos todos nós sermos difusores do conhecimento que liberta e une”, concluiu.
O eventou foi mediado pelo colaborador de KOINONIA, Pedro Rebelo, e contou com as participações também de Iyamoro Regina Fontes, do Ilê Asé Ofá Larê, e de Waguinho Macumba, do Centro Espírita Xangô das Almas.