Terceiro webinar: Sustentabilidade da vida e economia de cuidados, desafios, estratégias e interseções

No dia 11 de junho foi realizado o terceiro webinar com o tema sustentabilidade da vida e economia de cuidados, desafios, estratégias e interseções. Nesta reunião, analisaram os impactos socioeconômicos da COVID-19 na vida de mulheres indígenas, afro-latino-americanas, no campo e na cidade. A articuladora nacional da temática sobre direitos das comunidades negras tradicionais de KOINONIA,  Ana Guaberto participou do evento e apresentou um panorama do impacto da COVID-19 nas mulheres negras no Brasil. Que desafios as mulheres enfrentam na crise socioeconômica gerada por COVID-19 e como isso agrava a crise de atendimento que já era evidente na região. A situação das mulheres negras no Brasil nunca foi fácil, ou sequer vista como a situação vivenciada pelo ser mulher, e aí pensando naquela mulher que é vista como algo privado, que deve ser protegido e cuidado pelo homem que é seu  proprietário, a quem ela responde e deve obediência. Isso sendo bem rasa numa visão do ser mulher branca. Para nós mulheres negras, o nosso lugar sempre foi no espaço público lutando para garantir a sobrevivência dos seus, sofrendo por ser propriedade, mas não sendo um ser que deveria ser protegido ou cuidado. Trago este elemento histórico para reafirmar que a situação das mulheres negras, na atualidade com a pandemia, continua sendo de tentativa de manter a vida das pessoas que estão próximas e delas mesmas. A grande questão é que todas as dificuldades já enfrentadas cotidianamente por este grupo, se acentuam mais ainda com a pandemia. A perda de renda das mulheres que estão em subempregos, as dispensas em massa das trabalhadoras domésticas (mais de 80% negras), a permanência das crianças e adolescentes em casa, sem escola e merenda escolar, aumentando as despesas, a dependência de auxílios dos governos para arcar com as despesas mínimas, são alguns elementos que têm tirado o sono e a saúde das mulheres negras. Juntamente a estes elementos do âmbito econômico, trago a vulnerabilidade da situação da saúde pública que não garante atendimento a pessoas doentes, nem de forma preventiva e muito menos nos atendimentos emergências. A falta de acesso a saneamento básico e água tratada é outra situação a ser observada: Segundo um levantamento do IBGE[1], no país há cerca de 11,4 milhões de famílias formadas por mães solteiras, sendo 7,4 milhões negras. Cerca de 40% desses lares não têm acesso a direitos básicos, como rede de esgoto, 8,8% não usufruem de coleta de lixo e 13,95% não recebem abastecimento de água. Já no caso de famílias com mulheres brancas, mesmo as que estão em situação de vulnerabilidade social, as estatísticas são diferentes. 27,7% não têm acesso a rede de esgoto. 3,7% não conta com coleta de lixo e 9,4% não recebe abastecimento de água. Do total da população brasileira 48% não tem acesso a saneamento básico. Estes números nos ajudam a compreender o porquê de mais de 70% dos doentes e mortos por Covid 19 serem negros ou pardos no Brasil, sendo quase 60% homens. Quem cuida destes doentes? Estamos lutando no Brasil para manter a transparência nos números e dados das pessoas, referentes a doença, para que isso ajude na construção de ações de combate e prevenção, principalmente por meio dos municípios e estados, já que o governo federal optou claramente por uma política genocida para eliminar a população mais vulnerabilizada no Brasil. Mais um elemento que trago, é a violência doméstica que cresce a cada dia. Hoje fazer uma denúncia, conseguir uma medida protetiva, torna-se mais difícil com a pandemia. As mulheres estão tendo que conviver com seus agressores nas suas casas e não contam com os poucos equipamentos de serviço e acolhimentos às vítimas, em pleno funcionamento. O que as organizações baseadas na fé (OBFs) estão fazendo em sua diaconia para acompanhar essas mulheres? Nós de KOINONIA acompanhamos as ações principalmente dos terreiros de candomblé em Salvador que tem sido espaços de acolhimento e distribuição de alimentos e itens de higiene nas suas comunidades. Em nossos diálogos com as lideranças, questionamos como estão as situações de violência e conflitos nas localidades. Estamos trocando informações, orientações de como agir e que encaminhamentos dar nos casos mais urgentes. A Rede de Mulheres Negras da Bahia tem sido uma articulação que tem propagado muita informação e acompanhado casos de mulheres e população LGBTQI+ que também tem sofrido muitas violências. No baixo sul, a Articulação de Mulheres tem se reunido regularmente com a equipe de KOINONIA para coordenar ações de produção e distribuição de máscaras nas comunidades, bem como ações de comunicação.  Nesta região não dialogamos diretamente com igrejas ou terreiros, mas um parceiro que temos, a Pastoral Católica, atua na região e dialoga conosco, na articulação de mulheres. Quais recomendações e quais estratégias você está implementando para acompanhar essas mulheres? Como infelizmente esta situação não se resolverá a curto prazo, pensamos em como podemos contribuir para a manutenção da vida nas comunidades. Assim acreditamos que manter o fluxo de informações de forma direta é um de nossos papéis, bem como contribuir com ajuda humanitária de forma direta, mesmo que seja com pouco. Produzir matérias de informação específicas para as comunidades tradicionais é fundamental, tendo em vista que são programas diferentes de acesso a auxílios, existem especificidades de acordo com os municípios e regiões. Na área urbana acreditamos ser importante ajudar as casas de candomblé a conseguir apoios para itens básicos de alimentação e higiene de forma a atender as questões mais urgentes. O papel de KOINONIA sempre foi na produção de informações, notícias, conectar grupos e iniciativas. Assim continuamos a explicar, produzir informações diversas, criar materiais de formação a serem usados pelas comunidades, como vídeos e podcast. Nosso foco durante este período será na produção de materiais específicos para as comunidades negras tradicionais, com atenção maior as mulheres. Acreditamos que teremos um grande desafio institucional de nos repensarmos no pós pandemia, assim como todas as organizações que atuam de forma direta com comunidades. O FEACT Brasil tem atuado com ajuda humanitária como ACT Aliança em duas iniciativas: para indígenas com recorte de gênero liderados pela CESE, para saber mais visitem www.cese.org.br; e em São Paulo em periferias e interior liderado por KOINONIA, saiba mais em www.koinonia.org.br.     Em espanhol: Qué desafíos enfrentan las mujeres en la crisis socioeconómica generada por el COVID-19 y cómo agudiza la crisis de los cuidados que ya se venía evidenciando en la región.   La situación de las mujeres negras en Brasil nunca ha sido fácil, ni siquiera se ha visto como la situación experimentada por ser mujer, y luego pensar en esa mujer que es vista como algo privado, que debe ser protegida y cuidada por el hombre que es su dueño, a quien ella responde y debe obediencia. Esto es muy superficial en una visión de ser una mujer blanca. Para nosotras, las mujeres negras, nuestro lugar siempre ha estado en el espacio público, luchando para garantizar la supervivencia de los suyos, sufriendo por ser propiedad, pero no por ser un ser que debe ser protegido o cuidado. Traigo este elemento histórico para reafirmar que la situación de las mujeres negras, hoy en día con la pandemia, sigue siendo un intento de mantener la vida de quienes están cerca de ellas y de ellas mismas. La gran pregunta es que todas las dificultades que este grupo enfrenta diariamente, se acentúan aún más con la pandemia. La pérdida de ingresos de las mujeres que están subempleadas, los despidos masivos de trabajadores domésticos (más del 80% negros), la permanencia de niños y adolescentes en el hogar, sin comidas escolares y escolares, gastos crecientes, dependencia de la ayuda de Los gobiernos para pagar los gastos mínimos, son algunos elementos que han tomado el sueño y la salud de las mujeres negras. Junto con estos elementos del alcance económico, traigo la vulnerabilidad de la situación de salud pública que no garantiza la atención a las personas enfermas, ni de manera preventiva, y mucho menos en la atención de emergencia. La falta de acceso a saneamiento básico y agua tratada es otra situación a observar: Según una encuesta realizada por el IBGE, hay alrededor de 11,4 millones de familias en el país formadas por madres solteras, de las cuales 7,4 millones son negras. Alrededor del 40% de estos hogares no tienen acceso a derechos básicos, como un sistema de alcantarillado, el 8.8% no disfruta de la recolección de basura y el 13.95% no recibe suministro de agua. En el caso de las familias con mujeres blancas, incluso quienes se encuentran en una situación de vulnerabilidad social, las estadísticas son diferentes. El 27.7% no tiene acceso a la red de alcantarillado. 3.7% no tiene recolección de basura y 9.4% no recibe suministro de agua. Del total de la población brasileña, el 48% no tiene acceso a saneamiento básico. Estas cifras nos ayudan a entender por qué más del 70% de los enfermos y asesinados por Covid 19 son negros o marrones en Brasil, casi el 60% de los cuales son hombres. ¿A quién le importan estos pacientes? Estamos luchando en Brasil para mantener la transparencia en los números y datos de personas, refiriéndonos a la enfermedad, para que esto ayude en la construcción de acciones de combate y prevención, principalmente a través de los municipios y estados, ya que el gobierno federal claramente optó por una política. genocida para eliminar a la población más vulnerable de Brasil. Otro elemento que traigo es la violencia doméstica que crece todos los días. Hoy presentar una queja, obtener una medida de protección, se vuelve más difícil con la pandemia. Las mujeres tienen que vivir con sus agresores en sus hogares y no tienen los pocos equipos de servicio y refugios para las víctimas, en pleno funcionamiento.   Qué están haciendo las OBFs en su labor de diaconía y servicio para acompañar a estas mujeres? Nosotros en KOINONIA seguimos las acciones principalmente de los terreiros Candomblé en Salvador, que han sido espacios para recibir y distribuir alimentos y artículos de higiene en sus comunidades. En nuestros diálogos con los líderes, cuestionamos la situación de violencia y conflictos en las localidades. Estamos intercambiando información, orientación sobre cómo actuar y qué referencias dar en los casos más urgentes. La Red de Mujeres Negras de Bahía ha sido una articulación que ha difundido mucha información y ha seguido casos de mujeres y población LGBTQI + que también han sufrido mucha violencia. En el sur bajo, la Articulação de Mulheres se ha reunido regularmente con el equipo de KOINONIA para coordinar acciones para la producción y distribución de máscaras en las comunidades, así como acciones de comunicación. En esta región, no hablamos directamente con iglesias o terreiros, pero un socio que tenemos, la Pastoral Católica, trabaja en la región y dialoga con nosotros, en la articulación de las mujeres.   Qué recomendaciones y qué estrategias están implementando para acompañar a estas mujeres? Como desafortunadamente esta situación no se resolverá en el corto plazo, estamos pensando en cómo podemos contribuir al mantenimiento de la vida en las comunidades. Por lo tanto, creemos que mantener el flujo de información directamente es una de nuestras funciones, así como contribuir directamente con la ayuda humanitaria, aunque sea con poco. Producir materiales de información específicos para las comunidades tradicionales es esencial, considerando que son diferentes programas para acceder a la ayuda, hay especificidades según los municipios y las regiones. En el área urbana, creemos que es importante ayudar a las casas de candomblé a obtener apoyo para alimentos básicos y artículos de higiene para resolver los problemas más urgentes. El papel de KOINONIA siempre ha sido producir información, noticias, conectar grupos e iniciativas. Así que continuamos explicando, produciendo información diversa, creando materiales de capacitación para ser utilizados por las comunidades, como videos y podcasts. Nuestro enfoque durante este período estará en la producción de materiales específicos para las comunidades negras tradicionales, con mayor atención a las mujeres. Creemos que tendremos un gran desafío institucional para repensarnos en la pandemia posterior, así como a todas las organizaciones que trabajan directamente con las comunidades. FEACT Brasil ha actuado con ayuda humanitaria como ACT Aliança en dos iniciativas: para los pueblos indígenas con un perfil de género dirigido por el CESE, para obtener más información, visite www.cese.org.br ; y en São Paulo, en las afueras y tierra adentro, liderado por KOINONIA, obtenga más información en www.koinonia.org.br     [1]https://fdr.com.br/2020/03/06/desigualdade-saneamento-para-maes-negras-e-menor-do-que-para-brancas/
Tags: No tags