Por Ricardo Ferreira
O terreiro de candomblé de Ogunzinho, em Parque Flora, Nova Iguaçu, foi invadido por traficantes na tarde deste domingo. Segundo relato de um filho do terreiro, homens armados de fuzis arrombaram a porta lateral do imóvel e fizeram um churrasco no local para comemorar o Dia das Mães. No momento da invasão, no entanto, o templo religioso estava vazio.
Esta é a terceira vez que o terreiro de Ogunzinho, existente há 15 anos, é invadido por traficantes da comunidade do Buraco do Boi. A primeira foi em 2017, quando houve depredação de artigos religiosos e ameaças aos frequentadores do local. Na segunda vez, em março deste ano, os criminosos foram além. Além de depredar novamente imagens de santos e móveis do espaço, o grupo saqueou a casa de Ogunzinho, pai de santo que residia na casa anexa ao terreiro. E picharam em um muro próximo ao local: “Jesus é o dono do lugar”. Após o segundo ocorrido, ainda em março, os religiosos foram ao local escoltados por policiais do 20° Batalhão de Polícia Militar (Mesquita) para buscar objetos no local. Na sequência, trancaram a porta com cadeado. Mas não adiantou.
– É um espaço de 1.200 m², tem RGI (Registro Geral de Imóveis), escritura, Iptu pago em dia, tudo legalizado. Além das manifestações religiosas, o espaço era utilizado para o lazer dos frequentadores, que caiu bastante após as invasões. Hoje somos cerca de 30 pessoas. Sabemos que a intenção dos traficantes é montar um QG no templo – conta um dos filhos do terreiro, que prefere não ser identificado.
O caso foi denunciado à PM que, procurada pela reportagem, ainda não respondeu. Os religiosos estão sendo assessorados juridicamente pela equipe do deputado federal Marcelo Calero (Cidadania). Segundo o deputado, a resposta do poder público diante do caso foi “tímida”.
– O que estamos vendo é não só a falta de respeito, mas uma verdadeira ameaça ao patrimônio da religião. Esse caso é bastante simbólico, foi uma tomada de posse pelos traficantes. Fizeram festa, inclusive. A resposta do estado foi tímida. Nós estamos prestando assessoria jurídica, pois acredito que se relevarmos esse caso, um precedente grave será aberto – diz o deputado.
FONTE: Jornal Extra em 12/05/2019