No último dia 31, aconteceu em Camamu, na região do Baixo Sul da Bahia, o seminário “Lutando por um Mundo sem Violência Contras as Mulheres”. Nele, cerca de 120 Mulheres rurais e quilombolas e 20 homens debateram caminhos para enfrentar o problema em comunidades e povoados que ainda não contam plenamente com a rede de atendimento à situações de violência, pelo simples fato de estarem distantes dos centros administrativos.
O seminário foi realizado por Koinonia, Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop) e Sindicado de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Camamu (STTR). Petrobrás, Pão para o Mundo e Secretaria do Trabalho Emprego Renda e Esporte da Bahia (Setre) apoiaram o evento.
Na primeira mesa estiveram as lideranças quilombolas Ana Célia, da comunidade do Barroso; Maria Andrelice dos Santos, da comunidade Dandara dos Palmares; e Valdete Lopes, de Jatimana. Elas abriram a discussão com um pouco do histórico de enfrentamento da violência pelas mulheres quilombolas na região do Baixo Sul.
Na sequência, as participantes conversaram sobre as situações de mais vulnerabilidade em âmbitos como o do atendimento nos serviços públicos, que pelo despreparo de profissionais muitas vezes aprofunda o quadro de violência; das relações no mundo doméstico e comunitário marcadas pelos controles machistas; e o da segurança das mulheres.
A ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA), Vilma Reis, participou do evento. Ela ajudou na construção de estratégias coletivas, uma delas iniciada de imediato: um abaixo assinado pela reativação da defensoria de Camamu, extinta há 12 anos. O documento será entregue a Defensoria do Estado.
“Hoje em Camamu os movimentos das mulheres quilombolas, das agricultoras familiares, das pescadoras, com Koinonia e SASOP, se colocam com muita força para enfrentar uma epidemia de assassinatos de mulheres na região do Baixo Sul. Dia forte, dia de Luta!”, comentou Vilma em seu perfil no Facebook.
A assessora de Koinonia, Ana Gualberto, esteve diretamente envolvida na organização do seminário. Para ela, a iniciativa renova as forças para a retomada de ações já planejadas pelo movimento de mulheres do Baixo Sul, como investir nas atividades locais, sem tirar o olho de espaços de diálogo e articulação política em todos os níveis.
“O principal foi que as mulheres falaram e muito! Estiveram nas mesas e fizeram o debate. Outro destaque foi a participação dos homens e de adolescentes e jovens, dando esperança para a ruptura de um ciclo de violência contra a mulher muito sério na região”, avaliou Ana.
Ao fim do evento, as mulheres fizeram uma caminhada em homenagem às mulheres em situação de violência na região. Apesar da participação popular marcante, o evento não contou com a presença de representantes do poder público local que, mesmo convidados repetidas vezes não compareceram. As mulheres do Baixo Sul seguem lutando.