Paróquia em Itaquera promove diálogo sobre questões de gênero com Ivone Gebara

No último dia 13 de março, a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, localizada em Itaquera, realizou a primeira formação de uma série de encontros que serão promovidos este ano pela comunidade religiosa como parte de um projeto para reformulação das estruturas de evangelização à luz do Vaticano II e da Teologia da Libertação.
 
O primeiro debate proposto foi sobre “Gênero e Teologia Feminista”. “Esta formação objetivou desconstruir a visão machista, patriarcal e kyriocêntrica em que estamos inseridos enquanto religiosos, dando o limiar do protagonismo feminista para termos outra linguagem e ação evangelizadora”, contou Eduardo Brasileiro, membro da equipe de formação da paróquia.
 
O evento contou com a palestra de Ivone Gebara, uma das mais atuantes e expressivas teólogas feministas e escritoras do mundo, que na década de 1990 foi punida ao silêncio pela Congregação da Doutrina da Fé por abrir o debate sobre o aborto na Igreja. Ivone palestrou em países como França, Alemanha e Bélgica, também passou por todo o Brasil, e, neste momento,esteve presente na comunidade de base para abordar as questões de gênero.
 
IMG_0299O diálogo foi norteado pela pergunta “Como me posiciono como cristã/cristão frente às opressões impostas pela sociedade à mulher?”. Assim, os participantes puderam refletir a respeito das questões de gênero presentes no cotidiano, como elas interferem na vivência da mulher e quais as responsabilidades das comunidades religiosas frente a isto. “O cristianismo é fator essencial para as influências na sociedade. Portanto, a igreja precisa reconhecer seu papel de opressão contra as mulheres. Apenas quando reconhecemos nossos erros é que podemos promover atitudes que realmente nos posicionem contra esta opressão”, declarou Ivone.
 
Eduardo explicou que o objetivo do projeto é reunir mensalmente as lideranças pastorais da paróquia e demais interessados em se inserir na vida pastoral com o intuito de dialogar sobre a realidade socioreligiosa a partir de formação teológica, psicológica, sociológica, feita em mutirão. Segundo ele, “estas formações culminarão num documento de evangelização de crianças, jovens, adultos, idosos e ministros. A ideia é não só contribuir para o trabalho pastoral emancipador sem tutela do povo e alienação, mas também confrontar fraternalmente os paradigmas em que a evangelização está submersa”.

Finalizando o encontro, foi formado um grupo de mulheres interessadas em dar continuidade ao debate sobre o tema por meio da realização de rodas de conversas e outras ações da Rede Religiosa de Proteção à Mulher Vítima de Violência. KOINONIA contribuirá neste trabalho somando forças à Paróquia Nossa Senhora do Carmo para que seja dada sequência às atitudes que ampliam o diálogo sobre a mulher. Eduardo lembra que a instituição esteve presente durante o desenvolvimento da formação alertando sobre a tragédia diária de violência contra a mulher e firmando a parceria com a igreja. “KOINONIA nos ajudará a pensar encontros de mulheres para debater e agir diante desta situação”.
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