Na última terça (14), na Ilha de Itaparica (BA), aconteceu o julgamento do caso Mãe Rosa. A líder religiosa do Terreiro Ilê Axé Oyá Bagan Baba Ala Efurun teve seu marido e Ogã da casa, Marco Antônio Marcelino, assassinado em 2012, após uma briga de vizinhos. O desentendimento que terminou com o homicídio foi a culminância de um conflito antigo e que tem entre seus ingredientes a intolerância dirigida à Mãe Rosa.
“O advogado de defesa, um pastor, parecia que estava conduzindo seu rebanho”
Mãe Rosa
O julgamento que terminou com a absolvição de Manuel Correia dos Santos da acusação de homicídio, por quatro votos a três. Além de deixar um crime impune, o resultado mostra que o ciclo de intolerância que atingiu Mãe Rosa e sua família não terminou e ainda pode render graves conseqüências para a religiosa.
Segundo o advogado Tárcito Fernando, que atuou na assistência de acusação, o desfecho do julgamento traz sérios riscos para a mãe de santo. “Não se trata só de inocentar alguém preso em flagrante. Quem saiu condenada desse julgamento foi Mãe Rosa. Possivelmente condenada à morte porque vem sofrendo ameaças há um tempo. O pior é que o acusado foi inocentado, principalmente por uma questão religiosa”, observa o advogado.
De acordo com Tárcito, quando o advogado de defesa argüia as testemunhas – que se contradisseram por várias vezes em relação aos seus depoimentos anteriores – a respeito dos fatos, todos os questionamentos abordavam a conduta moral da vítima, com perguntas, por exemplo, sobre se Marco Antônio bebia.
O advogado Domingos Arjones, da OAB, que também atuou na assistência de acusação, também discorda que a justiça tenha sido feita. “Nitidamente foi uma decisão motivada pelo pertencimento religioso de parte dos jurados. Isso era notório no comportamento deles após o julgamento, vibrando com o resultado”, revela.
Para Mãe Rosa do crime ao julgamento o fato de ser candomblecista o que mais pesou. “Desde o início as autoridades entenderam que intolerância religiosa não tinha a ver com o assassinato. Durante o julgamento, a intolerância se repete, mas é como se nada disso existisse. Pelo menos três dos sete jurados eram evangélicos. O advogado de defesa, um pastor, parecia que estava conduzindo seu rebanho”, diz a mãe de santo que revelou se sentir sob constante ameaça: “a pessoa que matou meu companheiro foi considerada inocente e é meu vizinho”.
Segundo o advogado Tárcito Fernando – que é evangélico -, Mãe Rosa irá recorrer da decisão. “Pessoalmente, sinto vergonha por estas pessoas que se dizem participantes da minha fé e são capazes de cometer uma injustiça desse tamanho por motivação que é, no fundo, religiosa”, comenta.