Clarisse Braga com revisão de Manoela Vianna
O Ato “Pelo Dever e Pelo Direito de Sepultar os Mortos” aconteceu no dia 2 de novembro – feriado de Finados – no Ossário do Cemitério do Araçá, em São Paulo (SP). Este foi o segundo ato em memória dos mortos e desaparecidos da ditadura realizado na capital paulista por religiosos, ex-militantes e por organizações de direitos humanos sobre memória, verdade e justiça.
A celebração foi presidida pelo sócio de KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço Anivaldo Padilha e teve a participação de líderes religiosos de diferentes tradições religiosas, mas que, de alguma maneira, tiveram suas vidas afetadas pelo regime militar. Entre as lideranças, estavam o Cardeal católico Dom Odilo Scherer, o Bispo anglicano Flavio Irala, o Padre José Bizon, os reverendo metodistas Luiz Carlos Ramos e Luciano Lima, e o mulçumano Ivan Galvão.
Foram muitas as ocasiões em que a emoção da lembrança tomou conta do público presente; no entanto, destaca-se a to participação do Coro Luther King que cantou clássicos como “Funeral de um lavrador” de Chico Buarque e “Missa dos Quilombos” de Milton Nascimento. Outro momento que merece ser destacado foi quando os presentes foram convidados a depositar flores ao centro e aclamar os nomes de amigos(as) e familiares mortos ou desaparecidos: “Rubens Paiva, Presente. Agora e sempre”, iniciou o Senador Eduardo Suplicy.
A fila de companheiras e companheiros que queriam prestar suas homenagens àqueles que se perderam nos porões da ditadura era extensa e contou com a presença, entre outros, do próprio Anivaldo Padilha, da Deputada Luiza Erundina (PSB-SP) e do coordenador do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça José Luiz Del Roio, este que lembrou a todas e todos que o casaco vermelho que vestia na ocasião significava “a lembrança da ideologia e do martírio, mas que também simbolizava a esperança de que a luta continua viva até hoje”.
O local escolhido para a celebraçãotem um significado especial. No Ossário do Araçá foram depositados restos mortais de 1046 pessoas, descobertos na vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus(SP), no dia 4 de setembro de 1990. Mais de 20 anos se passaram e apenas três destas ossadas foram identificadas.
Para Anivaldo, a grande reinvindicação do Ato foi exigir a aceleração do processo de identificação dos restos mortais pelo poder público, principalmente a Secretaria Nacional de Direitos Humanos. Padilha também aproveitou a oportunidade para repudiar as ações de tortura executadas não somente durante a ditadura, mas também nos dias de hoje pelas mãos da mais dura herança daquela época: a Polícia Militar.
O evento foi encerrado com uma tradição do Dia de Finados: flores e orações foram depositadas dentro do Ossário onde a instalação “Penetrável Genet”, criada pelo artista Celso Sim e pela arquiteta Anna Ferrari,foi vandalizada. no dia seguinte.
O Ato “Pelo Dever e Pelo Direito de Sepultar os Mortos” foi organizado pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Comissão da Verdade da PUC; Conselho Nacional de Igrejas Cristas (CONIC); Rede Ecumênica de Juventude (REJU); Movimento de Fraternidade de Igrejas Cristãs (MOFIC); Comitê Paulista pela Memória, Justiça e Paz; Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos; Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura do Município de SP; Comissão Nacional da Verdade Rubens Paiva; Comissão Municipal da verdade Vladimir Herzog; Subcomissão Memória, Verdade e Justiça da Câmara Federal; Associação Cultural Nelson Werneck Sodré; Conselho Latino Americano de Igrejas (CLAI); CUT Nacional – Secretaria de Políticas Sociais; CUT – SP; Fórum Ecumênico ACT Brasil; Frente de Esculacho Popular; Grupo Tortura Nunca Mais SP; KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço; Levante Popular da Juventude; Sindicatos dos Bancários SP; Sindicatos dos Jornalistas SP; Sindicato dos Químicos SP; Sindesp e União Geral dos Trabalhadores (UGT).