BA – Caminhada contra Intolerância Religiosa incentiva diálogo interreligioso

Márcia Evangelista

Cerca de 150 pessoas vestidas de branco participaram da quarta edição da Caminhada Contra a Intolerância Religiosa, que aconteceu na sexta-feira, 21, saindo da Sereia de Itapuã rumo ao Abaeté, na orla marítima de Salvador. Este ano, o evento contou com um maior número de representantes de diversas religiões simbolizando a ampliação do diálogo interreligioso com o objetivo de combater o preconceito.

A organização da 4ª Caminhada Contra a Intolerância Religiosa foi do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, KOINONIA e Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE, através de um grupo de discussão focado no diálogo interreligioso que, convocado pela CESE, iniciou seus encontros em dezembro do ano passado. Este grupo, composto por membros de igrejas protestantes e católicos, se fez representar na caminhada, dando um diferencial quanto aos anos anteriores.

Participaram da caminhada líderes das religiões evangélica, católica, candomblé e umbanda. Durante a Caminhada as representações das Igrejas presentes expressaram em falas e mensagens a valorização do diálogo interreligioso. Estiveram presentes lideranças da Igreja Batista Nazareth, Igreja Batista Esperança, Igreja Evangélica Antioquia, Igreja Católica, KOINONIA, dentre outras.

De acordo com o pastor Fernando Carneiro, da Igreja Evangélica Antioquia, a caminhada serve para mostrar consciência do respeito às religiões e reafirmar a essência das religiões que é a união. As religiões têm concepções diferentes, mas não se deve ter ideias ruins delas. O discurso de demonização do candomblé e umbanda faz parte de um segmento da igreja evangélica que, como é mais midiatizado, faz a população acreditar que todo evangélico tem esse discurso, o que não é verdade.

A ialorixá Jaciara Ribeiro, filha biológica e sucessora de mãe Gilda no comando do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, disse não perceber redução da intolerância religiosa. O ódio tem crescido, mas este ano, com o pacto de união das religiões, acho que vai ser um ano de mudança, de unificação, disse. A ialorixá acredita que é função dos líderes religiosos falar com suas comunidades sobre o respeito às demais religiões. Hoje, antes do início da caminhada, colocamos milho branco na rua e um evangélico passou e chutou. Não sei lidar com esse tipo de situação, lamentou.

Quem também sofreu com a intolerância religiosa foi o babalorixá José Livramento do terreiro Iji Omitoloaia, em Areias, Camaçari. Um evangélico entrou no terreiro com dois porretes na mão no dia 31 de dezembro (2010) e destruiu meu carro e depois a casa dos orixás. Ele quebrou telhados e janelas. Ele foi detido por policiais militares, mas depois foi internado no (hospital) Juliano Moreira como se tivesse tido um surto. Só que ele já disse que tinha consciência do que fez e que vai voltar para terminar, conta.

Diretor executivo da organização ecumênica KOINONIA, Rafael Soares de Oliveira, disse que a Caminhada é importante para afirmar que a liberdade religiosa é um direito de todos. O povo de santo não pode ficar excluído. A intolerância é um câncer que não pode ser alimentado. A união entre religiões é para isolar quem é intolerante e se assume como tal.

Mensagens de reflexão e apoio à luta fortaleceram o convite à participação na caminhada e levadas à publico, como: 

SEM INTOLERANCIA RELIGIOSA, VIVEMOS COM A PAZ
Yalorixá Jaciara Ribeiro, Axé Abassá de Ogum

PARTICIPAR DA CAMINHADA CONTRA A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA É DAR
PASSOS CONCRETOS NA DIREÇÃO DA JUSTIÇA E PAZ
Joel Zeferino, pastor na Igreja Batista Nazareth
 
DIVERSIDADE DE RELIGIÕES, RIQUEZA PARA A HUMANIDADE
Pe. Oliveira, Igreja Católica
 
VAMOS CAMINHAR PELA PAZ, JUSTIÇA E RESPEITO
AO OUTRO E À OUTRA
Pr. Waldir Martins, Igreja Batista Esperança

 
21 DE JANEIRO É UM DIA ESPECIAL: É UM CONVITE AO RESPEITO E À
CONVIVÊNCIA COM IRMÃOS E IRMÃS QUE VIVEM
UMA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA DIFERENTE
Djalma Torres, CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão
 
VIVA A LIBERDADE RELIGIOSA COM AFIRMAÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS!
KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço
 
SOMENTE COM UNIÃO AFIRMAREMOS O DIREITO
ÀS DIFERENÇAS RELIGIOSAS
CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço

Mãe Gilda – Neste dia 21 de janeiro de 2011, faz exatamente 11 anos que Mãe Gilda, a mais alta sacerdotisa do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, morreu, após sofrer um infarto, um dia após assinar a procuração para a abertura do processo contra a Igreja Universal do Reino de Deus, por causa da reportagem intitulada Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes, publicada no jornal Folha Universal.

Seminário – No dia 20 de janeiro foi organizado o Seminário Contra a Intolerância Religiosa, promovido pelo Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos da Universidade do Estado da Bahia – CEPAIA/Uneb, no Pelourinho.

O Seminário foi aberto às 14h, com o Toque para os Orixás e seguiu até as 17h, com a formação de três mesas de debates:

Mesa 1 – Instalação do GT para Construção do Observatório Contra a Intolerância Religiosa

Mesa 2 – Instalação do GT para Construção do Programa Estadual de Combate a Intolerância Religiosa

Mesa 3 – Lançamento do Curso de Extensão para Sacerdotes, Sacerdotizas e Autoridades Religiosas de Matriz Africana / UNEB

 

Fontes: A Tarde On Line, CESE e KOINONIA

Fotos: Ana Gualberto

 

 

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